Nesta arte, como em todas as demais, o artista precisa, em primeiro lugar, preparar-se e esforçar-se muito para praticá-la e, quando o assunto é convivência, a tarefa é mais árdua ainda, por demandar a união de vários pontos em perfeito equilíbrio entre os seres.
Sou um ser em evolução, lutando por uma vida feliz, mas não posso lutar sozinho. Preciso compartilhar com os meus semelhantes as experiências que tenho realizado, que incluem as minhas vitórias, as minhas derrotas, as muitas alegrias e algumas tristezas, comparando-as com as vitórias, derrotas, alegrias e tristezas dos que também lutam por esta vida feliz.
Com a atual crise na saúde da população mundial, devido à pandemia de COVID-19, estamos sendo obrigados a conviver com uma situação indesejável que já dura quase dois anos. Para encontrar a tranquilidade que preciso para viver, redobro meu empenho e dedicação na realização do meu processo de evolução consciente, que me nutre com elementos transcendentes que me aproximam, com o mais profundo sentimento de solidariedade, daqueles que estão sofrendo pela perda de pessoas queridas.
A convivência com meu semelhante é muito importante, tanto para minha evolução quanto para a dele, pois estamos no mesmo barco, enfrentando as mesmas marolas e ondas gigantescas promovidas pelas dificuldades que temos enfrentado com muita valentia.
O Respeito que Posso Inspirar
Estou mantendo, ao longo da vida, uma conduta digna para que a convivência seja igualmente digna. Mas sei que, para manter essa dignidade, preciso realizar a observação constante, porque a dignidade é sutil e conservá-la dá trabalho. Sei que posso perdê-la em um piscar de olhos, e que é com ela que obtemos o respeito de todos. A dignidade é serena, “demora a reagir e o faz sempre sem violência.”
Na Logosofía, aprende-se que:
“não existe uma lei que imponha o respeito, porquanto, bem se pode dizer, ele responde a uma lei natural. Em todos os tempos, o respeito constituiu o meio imprescindível que fez realizável a convivência entre os seres humanos. O homem, desde que nasce, como tudo o que se manifesta à vida no seio da Criação, deve inspirar respeito.”
Como resultado de estar experimentando, já há algum tempo, a apreciação consciente por tudo aquilo que me inspira respeito, começou a vibrar dentro de mim um grande respeito pelas experiências de vida daqueles que me dão a oportunidade de ampliar meu entendimento sobre fatos muito parecidos, senão iguais, aos que ocorrem comigo. São os famosos fragmentos de vida que se completam harmoniosamente: eu dou o que tenho e que o outro não tem, e o outro me dá o que ele tem e que eu não tenho.
Quando exponho para os amigos que tenho dificuldade de entender o motivo pelo qual tantos seres vivem mais tristes do que alegres, queixando-se de tudo e de todos e até se isolando, recebo de volta a compreensão e as inquietudes de cada um sobre o assunto, que basicamente se resume à falta de realizações internas, orientadas pelos conhecimentos transcendentes que colocam à nossa disposição os elementos necessários para atender às nossas inquietudes espirituais.
A Arte de Criar a Si Mesmo
Ao realizar uma outra arte, que é a de criar a mim mesmo, convivo com muitos pensamentos e sentimentos de natureza muito superior aos que circulam pela minha vida diária. Em consequência disso, um espaço se abre internamente quando começo a pensar e a utilizar pensamentos superiores, o que acaba por produzir no meu interno uma verdadeira festa, onde tudo se movimenta de forma alegre e harmoniosa.
A alegria é vida e me faz querer mudar e realizar coisas que, estivesse a tristeza presente, me tiraria o ânimo e a disposição para tal. Tudo isso se reflete nas esferas familiar, social e profissional, pois a ação construtiva e criadora dos ensinamentos logosóficos produz câmbios no meu sentir que transformam a convivência em algo permeado de muito afeto. Por exemplo, ao acordar, tenho exercitado o meu temperamento para suavizar oscilações e favorecer minha convivência com os seres com que entrarei em contato durante o dia.
E, por conhecer alguns pensamentos que aparecem nem sei de onde para tumultuar meu ambiente mental, e que depois de criarem confusão vão embora da mesma forma como vieram, crio defesas mentais que impedem o acesso desses pensamentos importunos e passo a polir as asperezas e os atos intempestivos que a ninguém agrada. É assim que preparo a maneira de me conduzir com tranquilidade e alegria para o trato com o meu semelhante.
“A Logosofia ensina, por isso, que uma das bases em que se deve apoiar a moral humana é o respeito que cada um deve a si mesmo e aos demais. Havendo respeito há harmonia, há amor e há tudo, pois isso reflete uma elevação de espírito e uma compreensão muito ampla do que deve significar a convivência entre os semelhantes.” González Pecotche