Néstor: — Sempre foi incompreensível para mim o fato tão frequente de perdermos as oportunidades que se nos apresentam no curso de nossa vida. Segundo entendo, no mais das vezes deve ser por incapacidade para percebê-las a tempo, ou então por ignorância. Porém, esta reflexão não me satisfaz muito.

Otávio: — Considero que esse assunto das oportunidades é uma questão ligada ao acaso, pois geralmente quem tem mais sorte é que as aproveita, a menos que as deparemos por casualidade e não as deixemos passar.

Néstor: — Eu não as atribuo tanto ao acaso, embora seja certo que na correria da vida isso influa em algo. Se nos é proposto um negócio que ofereça, por exemplo, boas perspectivas, e, por desconfiança em relação a ele ou por receio ante quem o propõe, não o aceitamos, e outro se lança a ele obtendo um grande êxito, eu diria que num caso é incapacidade e, no outro, sorte para avaliá-lo como mau ou bom. Mas se tenho nas mãos um negócio que não prospera, sem me dar conta de que é por falta de maior dedicação e de energias, desistindo dele justamente quando ia prosperar, terei perdido, por impaciência e falta de visão, a oportunidade que favoreceu a quem a ele se dedicou.

Otávio: — Na verdade, as oportunidades também costumam ser perdidas por descuido, como quando não chegamos a tempo de concluir uma operação que poderia nos ter beneficiado amplamente, ou nos casos em que perdemos totalmente a oportunidade de restabelecer a saúde, por termos descuidado dela em demasia.

Néstor: — De qualquer modo, parece evidente que toda oportunidade deixa de existir a partir do instante em que é desaproveitada, sendo-me difícil compreender a rigidez com que se manifesta: quando ela se apresenta, mal dá tempo de perceber isso.

Preceptor: — Segui com atenção o curso de suas reflexões sobre as oportunidades e, com o que vou manifestar, vocês poderão ver se acertaram ou não.

A primeira oportunidade e, por certo, a mais estimável é a que o ser tem ao ter vindo a este mundo, oportunidade que se estende a todo o percurso de sua vida. Se ele a aproveita, cultivando a vida e enaltecendo-a numa constante superação integral, é evidente que se beneficiará com essa grande oportunidade. Mas, como são em maior número os casos em que é perdida, o homem costuma servir-se de pequenos fragmentos dessa grande oportunidade, aproveitando-os, quando a ocasião se lhe apresenta, para beneficiar uma parte de seu ser, geralmente a material ou física, desprezando outras maiores e mais significativas, que poderiam servir-lhe para superar sua parte moral e espiritual.

Quando o homem se abandona nos braços do acaso, é lógico que toda oportunidade que aproveite — rara, por certo — obedeça a esse mesmo fator: o acaso. Mas, quando se propõe escalar posições na vida, desenvolvendo a trajetória de uma especialidade profissional, ou quando se esforça para melhorar internamente, educando-se no exercício de uma cultura superior, e aperfeiçoa, num empenho franco e constante, as prerrogativas de sua inteligência, sem dúvida aproveitará muitas oportunidades, por constituir-se ele mesmo, de fato, em agente direto delas.

As oportunidades deixam então de ser tais para se converterem no resultado lógico do esforço realizado. É o caso, entre outros, do estudante universitário que tem a oportunidade de se formar e exercer a profissão, e que depois, aperfeiçoando-se, tem uma oportunidade a mais: a de ser levado à cátedra e, em seguida, ser convidado por outros países a proferir conferências, elucidar temas de sua competência, etc. É o caso também dos que, tendo-se dedicado a uma arte, a uma ciência ou a uma profissão, nelas triunfam por haverem aproveitado os resultados dessa dedicação, na qual vão implícitas a observação e a experiência, e que os demais consideram como oportunidades que lhes surgiram.

Está, pois, no próprio homem preparar o campo das atividades para que as oportunidades surjam das possibilidades que ele mesmo criou; elas se manifestam, não há dúvida alguma, quando chega o tempo de colher o fruto de seu esforço.

Os que desprezam os estudos comuns, por exemplo, jamais terão a oportunidade de saber o que outros sabem. Do mesmo modo, os que se encerram em seus dogmas perdem a oportunidade de conhecer as grandes verdades que a Sabedoria Essencial oferece aos que se aproximam dela com o propósito de cultivar a alta ciência que entesoura, sem se acharem travados pelo preconceito ou por restrições antinaturais.

Néstor: — Agradeço ao senhor este ensinamento extraordinário que, inadvertidamente, já estávamos praticando com excelentes resultados, sendo um deles a oportunidade de escutá-lo pessoalmente, oportunidade que com muito prazer estamos aproveitando.


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.