Em alguns momentos da sua vida, você já sentiu que estava lutando com sua própria mente, como se fosse uma competição, uma espécie de esgrima mental? Na verdade, isso nem é tão incomum assim, certo? Os pensamentos, que são gerados na nossa mente, desenvolvem-se e alcançam vida própria. São verdadeiras entidades autônomas e independentes. 

A Logosofia possui um método único que auxilia o ser humano na busca pelo conhecimento de si mesmo e na sua evolução moral e espiritual e nos traz algumas reflexões sobre como é necessário, útil e instrutivo construir um arcabouço de defesas mentais para nos preservar dos males e ameaças a que estamos expostos diariamente. 

Por defesas mentais entendem-se pensamentos, sentimentos e conceitos utilizados para nos defender dessas ameaças e impedir a invasão de pensamentos estranhos a nossos propósitos de vida e perturbadores da paz e da harmonia internas. Para criarmos defesas mentais, podemos fazer uso de diversos recursos ensinados na Logosofia, como as faculdades mentais (reflexão, observação, recordação etc.) e a sensibilidade (afeto, amizade etc.). 

“Nunca, como nos tempos atuais, foi tão necessário, útil e instrutivo o conhecimento das defesas mentais que cada indivíduo pode instituir à vontade, para preservar-se dos males que constantemente ameaçam sua integridade física, moral e espiritual” - González Pecotche  

Ao ler este ensinamento, muitas perguntas nos vêm à mente. Defender-se do quê? Para quê? Que tipo de ameaça moral e espiritual sofremos? Como eu sei que estou indefeso? O que acontece internamente? Como criar essas defesas para que sejam mantidas de forma constante e não só de maneira isolada? 

“A Logosofia, ao expor seus conhecimentos, apresenta o que se refere aos pensamentos como um dos mais transcendentes e de vital importância para o homem. Afirma serem entidades psicológicas que se geram na mente humana, na qual se desenvolvem e ainda alcançam vida própria. Ensina a conhecê-los, identificá-los, selecioná-los com lucidez e acerto.” González Pecotche  

“Quando o homem aprende a conhecer seus próprios pensamentos, os localiza em sua mente e os seleciona para servir-se dos melhores; e quando sabe que pode criar pensamentos próprios em vez de usar os alheios, e exercita sua faculdade de pensar, já está de posse de uma chave para dominar seu campo mental e estabelecer suas defesas mentais.” González Pecotche 

São inúmeros os exemplos de como construir e aplicar essas defesas no dia a dia. A começar por buscar conhecer esses pensamentos, identificá-los, selecioná-los e utilizá-los com lucidez e acerto.  

Modificar a rotina matinal, substituindo pensamentos de preocupação com o trânsito, a previsão do tempo ou o que os outros pensam de nós por pensamentos e emoções positivas que tragam energia para o dia, é um exemplo de defesa mental que pode provocar mudanças significativas na vida. Quem nunca ficou numa fila com alguém reclamando e acabou por reclamar também? Passando de um estado de paz para um estado de caos interno. Mas como evitar essas situações? Como proteger a mente e o coração? 

A seguir, estudantes de Logosofia trouxeram relatos de como utilizaram suas faculdades e defesas mentais para lidar de maneira diferente com as situações que enfrentaram. 

Relato 1: Eu trabalhava em uma sala com mais cinco pessoas. Eu era geralmente a primeira a chegar e, logo depois, chegava uma menina que se sentava à minha frente. Ela era muito simpática, tínhamos uma ótima relação, mas, por ela detestar chuva, nos dias em que chovesse, ela chegava ao trabalho molhada e reclamando, e, poucos minutos depois, eu também já estava reclamando. E acabava que o ambiente de toda a sala ficava pesado, pois todos se deixavam influenciar por aquelas reclamações. 

 

Depois de isso acontecer algumas vezes, consegui observar como essa reclamação propagava-se e resolvi mudar a minha atitude. Na primeira vez, já sabendo que ela chegaria reclamando, resolvi usar a contenção e não reclamar. Meu interno ficou mais sereno, mas o clima da sala foi comprometido. Numa segunda oportunidade, além de conter meus pensamentos de reclamação, eu os substituí por outros mais úteis e previamente selecionados e vi que o ambiente já não ficou pesado com as reclamações, pois elas não duraram muito tempo e não foram mais o foco.  

Com essa observação, contenção e posterior seleção e troca de pensamento, eu consegui realizar uma defesa mental para aquela situação. 

Relato 2: Recordo-me de um dia em que minha mãe estava fazendo comida para vender, e havia bastante louça para lavar; meu irmão se comprometeu a lavá-la, mas não o fez. Nesse momento, minha mãe começou a reclamar porque isso estava atrapalhando a finalização dos pedidos. Mas ela não reclamou só com ele, reclamou com todos, pois queria o problema resolvido para poder organizar as encomendas. Recordo que meu interno ficou um turbilhão, pois, teoricamente, eu não tinha culpa. Era meu irmão que não havia cumprido o prometido. 

 

A solução que arranjei foi de finalmente lavar a louça, porém, ainda assim, senti que meu interno ainda não estava em paz; estava reagindo, e tive pensamentos como: viu? Era tão fácil resolver, era só fazer e não ficar enrolando; fora outros pensamentos de puro rancor para com o meu irmão.  

 

Ao sentir esses pensamentos ruins dentro de mim, comecei a refletir sobre o meu estado interno e a pensar sobre o real motivo de eu estar lavando a louça: não era para dar uma lição no meu irmão, pois ele nada aprenderia no ato; era para ajudar minha mãe com os seus afazeres. Ao fazer tais reflexões, senti que meu interno foi acalmando-se e comecei a lavar a louça com gosto, pois estava disposta a ajudar minha mãe para ela descansar e não se preocupar com a cozinha depois. Percebi que algo simples poderia ter virado algo muito maior. Eu poderia ter discutido feio com o meu irmão e com minha mãe, o que consegui evitar, já que de imediato consegui observar meu interno. Isso influenciou minha conduta e consegui criar pensamentos fecundos para me encarregar da tarefa com alegria e afeto. 

 

Relato 3: Meu relato é sobre as defesas mentais que criei para me defender da inércia mental. São incontáveis os números de vezes em que senti preguiça de fazer algo e posterguei as tarefas. Sabe aquela preguiça que às vezes nos dá no domingo? Aquele pensamento…. Ai, ai, ai, lá se vai começar mais uma semana de trabalho…. Bate aquela falta de vontade… 

 

Foi lendo o livro “Introdução ao Conhecimento Logosófico” (p. 228) que tive acesso a um conhecimento que mudou meu modo de pensar: “Sejam ativos permanentemente, como tudo o que Deus criou; como a própria Natureza, que está́ em constante atividade.” 

 

Percebi que, realmente, a Natureza não pára de mudar, de se movimentar. Um bom exemplo é o oceano: cada onda que vem tem alguma diferença em relação à onda anterior, e elas não param de vir. Observando isso, passei a ficar mais atento aos meus movimentos mentais, conseguindo ter menos momentos de improdutividade e inércia mental e também realizando um exercício diário e constante de observar o que venho produzindo mentalmente, aproveitando melhor o tempo e as oportunidades da vida. 

 

Relato 4: Foram inúmeras as vezes que minha mente foi atacada. Os ataques mais fortes têm ocorrido quando estou colocando a minha filha para dormir, o que não costuma ser fácil e nem rápido. Visando proteger minha mente dos pensamentos agressores, tenho preparado-me antes de a pegar no colo, recordando do meu propósito como pai e de estímulos capazes de afastar os pensamentos ofensores. Com esse preparo, e deixando de prontidão recursos de efeito positivo e instantâneo, tenho conseguido proteger melhor minha mente e dedicar-me à minha filha com o afeto adequado. 

 

Relato 5: A experiência mais recente da qual recordo de ter feito uso de tal recurso logosófico ocorreu durante uma manhã. Havia acordado agitado e com um estado mental nada sereno. Estava com alguns problemas no trabalho e, por isso, dormira na noite anterior com preocupações na mente. Assim, acordei no dia seguinte predisposto a irritar-me, e estava prestes a ir para o trabalho com um estado mental nada adequado.  

Percebendo que não seria uma boa ideia sair de casa daquele modo, dispus-me a chegar alguns minutos mais tarde e fui ao meu quarto para serenar a mente. Fiquei alguns minutos deitado, observando os pensamentos que estavam atuando em minha mente. Analisando um por um, consegui identificar que todos os pensamentos que me incomodavam naquela manhã eram preocupações simples, facilmente solucionáveis,  e que não justificavam nem de perto tamanha preocupação e agitação mental. 

 Assim, pensei em aspectos para tranquilizar aquelas preocupações (ato esse que identifico como a atuação da função de pensar) e, depois de poucos minutos, já pude observar um estado mental totalmente diferente daquele que havia iniciado o dia. O resultado? Fui trabalhar naquele dia com mais animação e muito mais serenidade mental.