Acompanhava, no ambiente de trabalho, um cordial embate entre dois colegas em torno da questão acerca da existência de Deus: um manifestando-se crer nela e o outro, não. Esse não é um fato raro, mas nesse caso, por serem gerentes de duas equipes próximas uma da outra, logo surgiu um discreto, mas vivo interesse entre seus liderados por acompanhar os pontos e contrapontos do diálogo.

Sem que nenhum dos dois debatedores tivesse o menor interesse em mover-se de suas posições, os argumentos eram apresentados, por um lado, firmando-se na longa trajetória das crenças religiosas e seu papel sustentador da civilização e, pelo outro lado, na ausência de evidências claras das manifestações divinas, senão em eventos milagrosos difíceis de serem comprovados ou perdidos no passado, onde tinham maior profusão, tornando-se inaceitáveis nos dias de hoje.

Apesar de os argumentos ganharem, sucessivamente, tons cada vez mais enfáticos, a veemência com que eram apresentados não superava a cordialidade que os dois colegas deveriam manter, pois lhes assistiam suas duas equipes. A mecânica do ambiente corporativo logo fez suceder àquela discussão uma questão do trabalho, surgida naturalmente, o que fez todos retomarem suas atenções e sua tarefas, pondo fim ao debate.

No ambiente restou, porém, o sabor do inócuo que foi aquela esgrima de opiniões e argumentos que, mesmo opostos em aparência, guardavam uma afinidade que poucos conseguem detectar: o tecido dos argumentos era do mesmo fio, ou seja, ambos acreditavam, um na existência de um ente superior, outro na sua inexistência. Mas a afinidade não terminava nessa posição, pois ambos se mantinham imóveis, perfilados numa linha de partida, diante de uma grande aventura que, se quisessem, poderiam empreender na direção de comprovar, cada qual, a hipótese que sustentava.

Quando conheci a Logosofia, tomei contato com um dos princípios instituídos por essa ciência, o de que a palavra “crer” deveria ser substituída pela palavra “saber”, esclarecendo ainda que “é sabendo, e não crendo, que o homem consegue ser verdadeiramente consciente do governo de sua vida, quer dizer, daquilo que pensa e faz”.

É interessante notar como o elemento da comprovação, que naturalmente moveu e move as engrenagens mentais, partindo do princípio mais elementar de uma hipótese e percorrendo um instigante processo que conduz a sua cabal demonstração, não pôde animar nenhum debatedor crente, seja o que crê na existência divina, ou o que crê na sua inexistência. A nenhum se lhe adverte a possibilidade de buscar, pela via do saber, o elemento final, que lhe atenda na verificação plena e substitua a crença que o mantém no ponto de partida, sem a verdade que, alcançada, seria inobjetável e poria fim ao proselitismo que sustenta embates quase sempre inócuos.

Não faltam à inteligência humana os recursos para empreender a empresa de se aproximar do Criador pela via do saber

Não faltam à inteligência humana os recursos para empreender a empresa de se aproximar do Criador pela via do saber, mesmo que se intua ser essa uma longa, ou talvez interminável, jornada. Também não deveria faltar estímulo em percorrer esse caminho, pois seria correto supor que, no seu percurso, as revelações que se dariam seriam altamente instigantes.

O só fato de pensar em abrir os olhos às belezas que a Criação estampa, nas mais diversas formas em que mostra os fios dos segredos que devem ser puxados pelas mãos do entendimento, já seria capaz de fazer girar com vigor as engrenagens mentais, que produzem as grandes descobertas, muitas delas antecipadas apenas pela sensibilidade, mas aguardando que a mente alcance desvendá-las.