Geralmente, ao se tratar da consciência humana, é comum ouvir falar dela de forma vaga e ainda despojando-a do atributo superior que configura seu significado. Entretanto, penetrando nela mais profundamente, em sua mais elevada acepção, chega-se à conclusão de que ela é a própria existência; mas, como essa raiz em muitos dos seres humanos se desprendeu, simbolicamente falando, da terra que a nutria, encontra-se, como as plantas parasitas, sustentando-se graças à vida de outras raízes e de outras árvores. Isso explica por que muitas pessoas perderam a memória de seus próprios dias, ou seja, a recordação de inúmeras coisas que, aprendidas durante a vida, poderiam servir-lhes de guia para o futuro, mas das quais não guardam vestígio algum na memória, porquanto sua consciência permaneceu alheia a elas.
Coisa bem diferente acontece quando a consciência, que chamamos raiz da existência, se nutre com todos os elementos que lhe são oferecidos pela Criação, de onde ela mesma surgiu.
As coisas do passado vivem no presente, tal como se a vida as houvesse imantado para não esquecer um só detalhe de tudo que lhe possa ser útil no futuro
A árvore que viu a luz de milhares de dias, que esteve presente durante épocas inteiras, não pode narrar tudo o que aconteceu no transcurso dessas épocas. O homem, diferentemente, embora seja testemunha, como a árvore, dos fatos que vão ocorrendo ao longo de sua vida, pode conservar a recordação nítida de tudo aquilo que rodeou sua existência e narrar esses fatos.
A consciência, animada pelos conhecimentos que nela são registrados, é tanto mais pródiga ao chamado da inteligência para auxiliá-la na recordação do que necessita, quanto mais ricos são os cultivos do saber realizados pelo indivíduo.
A importância fundamental de tudo o que se grava na consciência será por nós estimada se tomarmos como exemplo o caso de dois seres, um que passou sua vida sem fazer nem pensar nada e outro que, no mesmo número de anos, cultivou seu espírito, pensou e realizou muito. Se fôssemos ler o que nos podem dizer essas duas vidas, constataríamos que na primeira não há nada escrito, tal como se não houvesse existido, enquanto na segunda encontraríamos impresso, com caracteres inapagáveis, o que pensou e realizou. Igualmente, pode-se computar em séculos, anos, dias, horas, o valor da vida, tendo sempre por base os dois exemplos citados: o daquele que nada pensa e nada faz e o de quem torna fértil sua existência, esforçando-se em ser útil a si mesmo e à humanidade.
Extraído de Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 2, p.239