Este ciclo que se inicia tratará de dois temas que, para mim, estão entre os mais interessantes e inquietantes. Intitulamos nosso ciclo de “Consciência e destino: Conceitos para a vida”, pois iremos percorrer juntos o caminho para encontrar o significado e a relação entre estes dois conhecimentos que inquietam desde longo tempo a filósofos, psicólogos, neurocientistas, e muitos seres humanos. “O que estou fazendo aqui na terra? Qual é meu objetivo como ser humano? Existe algo maior do que simplesmente nascer, crescer e morrer?”… Você já fez perguntas como essas? Quais foram as respostas encontradas? Conseguiu buscar respostas com liberdade para pensar ou acabou deixando-as para depois?
Essas eram perguntas que me acompanharam durante a vida. Quando criança, elas vinham acompanhadas de outras inquietudes como: “Por que a minha mãe é essa pessoa? Quem são as pessoas ao meu redor? Por que eu nasci na família que nasci?”… O que movia aquele Rafael a fazer estes questionamentos? Haveria ali um espírito buscando desde cedo essas respostas?
Será em questionamentos como estes que nos aprofundaremos nas próximas semanas. E, para organizar nossa investigação, teremos 5 tópicos principais:
- Artigo desta semana: Conceito de Consciência
- Artigo da semana 2: Inteligência e faculdade de pensar
- Artigo da semana 3: Sensibilidade e faculdade de recordar
- Artigo da semana 4: Vida consciente
- Artigo da semana 5: Conceito de Destino
A Logosofia dá especial hierarquia ao conceito de consciência, e, para mim, sendo um dos conceitos mais importantes e amplos, é um grande desafio compreendê-lo. No livro Logosofia Ciência e Método, o autor ensina que
“A vida consciente há de ser concebida como uma necessidade vital do espírito”.
O que significa conceber uma nova vida dentro da minha própria vida? Por que é uma necessidade vital de meu espírito cultivar essa vida? Reconheço essa necessidade dentro de mim?
Fiz uma imagem análoga de que compreender o conceito de consciência é como tirar uma foto no modo “panorama”, onde é necessário uma série ininterrupta de fotos tiradas com algum padrão e cuidado para que, ao final, a imagem represente com fluidez, qualidade e verdade a paisagem que o fotógrafo está vendo. Para formarmos a imagem completa do conceito de consciência, precisaremos fazer algo parecido: começaremos pela “definição”, mas precisaremos ir unindo mais partes complementares para chegar ao entendimento — e depois à compreensão — do conceito todo.
No livro “Introdução ao Conhecimento Logosófico”, na página 429, o autor da Logosofia ensina que
“aos olhos do entendimento, o ser aparece constituído pelo que sabe e pelo que realizou com base nos conhecimentos com os quais obteve uma identificação; esses conhecimentos formam a consciência”.
Estou aprendendo que o que me faz consciente, ou seja, os conhecimentos que ingressam em minha consciência, deve passar por dois polos: o mental e o sensível, para que realmente possam ser assimilados por mim. Portanto, diferentemente do conceito tradicional, onde a consciência está mais ligada à percepção de se existir, ao fato de se estar lúcido, ou mesmo à simples compreensão frente a um tema, tenho comprovado que, no conceito logosófico, ser consciente de algo significa ter conseguido primeiro observar, pensar e entender determinado elemento, para depois conectá-lo à minha vida de forma prática e sensível — isso para que não seja apenas uma teoria, mas sim algo verdadeiro e que possa ser utilizado em várias situações.
Em outras palavras, tenho aprendido a primeiro analisar o que vivo através das faculdades da inteligência, captando seus múltiplos aspectos, para em seguida extrair o elemento de razão que existe em cada experiência. Realizado esse movimento inicial, é o momento de o conectar com meus propósitos de vida, por meio da sensibilidade — buscando, por exemplo, sentir gratidão ou afeto pelas situações ou pessoas que me permitiram viver isso.
Para saber mais sobre esse tema, você também pode assistir ao nosso episódio do podcast Entre Mundos, com o tema especial sobre consciência.
Para exemplificar e trazer uma visão prática de como estou formando este conceito, vou trazer algo que vivi na relação com meus pais e iremos percorrer juntos uma parte do caminho que eu fiz para compreender um pouco melhor o conceito de consciência. Vamos lá? Durante a leitura, convido você a parar e tentar fazer paralelos entre o que vou trazer como experiência e a realidade que você vive, viveu ou quer viver em sua vida.
Eu saí da casa dos meus pais há bastante tempo, e nos últimos anos acabamos espaçando muito as visitas presenciais e até reduzindo o contato por videochamadas e telefone. Com a vinda da pandemia e as demandas do dia a dia, esse afastamento se intensificou, mas, alguns problemas de saúde, a perda de algumas pessoas queridas e mesmo a saudade mais frequente, fizeram com que o pensamento de “preciso estar mais presente na vida dos meus pais” se tornasse frequente em minhas reflexões. Começou aí, há mais ou menos dois anos, um estudo e investigação que ainda está em curso, mas que já me permitiu compreender um pouco mais sobre a consciência. O primeiro movimento que fiz foi aprofundar-me nesses pensamentos que começaram a surgir, e duas das perguntas que levei para serem observadas pela inteligência foram:
- Como tenho aproveitado o tempo que temos hoje juntos (mesmo à distância)? Tenho utilizado de forma consciente? Como o posso utilizar da melhor forma?
- O que terei de abdicar para poder estar mais próximo deles? Tenho consciência da importância deste movimento?
As respostas a essas perguntas deram-me clareza de onde eu estava, como me conduzia então e para qual direção eu precisava orientar minhas ações e minha vontade. Percebi que estava, na maioria das vezes, desperdiçando oportunidades mais intensas de contato, ou mesmo fazendo outras coisas enquanto conversava com eles. Estava “no modo automático”.
Terminada essa primeira parte, comecei com as perguntas que tinham como endereço o polo sensível, ou seja, tinham como objetivo sentir de onde aqueles movimentos de querer estar mais perto estavam surgindo e com que miras eu iria corrigir as situações que havia identificado no movimento anterior. Algumas das perguntas foram:
. Esse alerta pela necessidade de estar mais junto foi motivado pelo bem de cultivar um sentimento ou pelo temor de perdê-los? Qual a diferença dessas duas realidades?
- Que sentimentos quero cultivar com este movimento? Que relação têm estes movimentos com meu propósito enquanto ser humano?
Essas e muitas outras perguntas me fizeram observar e entender que, sim, precisava de mais tempo perto deles, mas descobri especialmente que a qualidade do tempo que passávamos juntos e os pensamentos e sentimentos que eu cultivava durante as visitas ou chamadas de vídeo deveriam aumentar sua hierarquia.
Começou aí o desfecho da experiência que, como mencionei, ainda está em curso. As perguntas e as respostas têm sido ampliadas e continuam direcionadas sempre aos dois polos; é dessa forma que me mantenho consciente do movimento que quero fazer de estar mais próximo dos meus pais. Um resultado que já consegui identificar em mim é que passei a cultivar o interesse pelo que eles vivem, entender melhor suas preocupações, perguntar mais sobre o que sentem, ouvir e aplicar seus conselhos, compartilhar também meus desafios, conquistas, objetivos no cultivo da vida consciente. Tudo isso funciona muito bem quando estou consciente, mas parte fundamental desse estado é a constância, ou seja, aprendi que repetir sempre esses movimentos internamente é o que os torna permanentes dentro de mim.
Este é um convite para que você tenha mais conhecimento de si mesmo, de sua natureza enquanto ser humano e é também um desafio na revisão de alguns conceitos de elevada hierarquia. No conteúdo da próxima semana, falaremos sobre a faculdade de pensar e como ela colabora no cultivo consciente da vida.