Em um lugar muito perto daqui, não faz muito tempo, existia uma imensa fazenda. O dono, um homem muito generoso, decidiu dividi-la em lotes de igual tamanho e distribuí-los a centenas de fazendeiros.
O tempo foi passando, e o doador das terras foi sendo esquecido, assim como a forma correta de cultivar o solo e cuidar das plantações. Sem orientação, os homens perderam o jeito de semear e colher. Rapidamente, as terras foram tomadas por pulgões, lagartas e ervas daninhas. Então, aqueles homens e seus descendentes passaram fome.
Foi então que um deles, que ainda se recordava da primeira fazenda, conseguiu transformar seu pedaço de terra em um grande oásis, cheio de nutrientes, frutas e legumes de variadas espécies e em quantidade imponente.
Seguindo o exemplo do seu benfeitor, esse homem decidiu ser generoso com todos os outros que passavam fome por não saberem cultivar suas terras. Distribuiu, para os que precisavam, as sementes de melhor qualidade. No entanto, as sementes não germinaram, pois a terra precisava de cuidados. Mais uma vez, o homem ensinou como preparar o solo, como deveria ser arado, como eliminar os pulgões e como cuidar para que as boas sementes crescessem e dessem frutos.
Seus vizinhos passaram a seguir suas indicações e a aplicar o mesmo método. Logo, suas terras também voltaram a ser férteis. Ao verem os resultados, os vizinhos procuraram o homem que os havia ensinado. Com o passar do tempo, toda a terra da fazenda original passou a ser bem cultivada e cuidada, voltando a produzir alimento para todos os fazendeiros. E ninguém mais precisou passar fome por não saber como cuidar de sua terra.
Descobrir esse pedaço de terra que existe no meu interno e que se estende por alqueires sem fim foi a maior descoberta de toda a minha vida. Porém, deixado ao acaso e ao abandono, tentei saciar-me com as frutas que encontrava pelo mundo, e nada me satisfazia. Muito se falava desse Fazendeiro, desse Criador, mas jamais cheguei a conhecê-lo.
Tive a feliz oportunidade de trabalhar no Colégio Logosófico, onde, com o passar do tempo, fui conhecendo esse vasto espaço dentro de mim e compreendendo que, ao plantar boas sementes nele, nunca mais passaria fome. Experimentei, então, a semente logosófica e percebi que nada do que havia experimentado antes dera frutos tão saborosos como esses. Fui aprendendo a arrancar as ervas daninhas e a cuidar desse extenso lote, para, finalmente, habitá-lo efetivamente.
Mas foi na Fundação Logosófica que compreendi o que significava cada uma dessas coisas: que os pulgões, as lagartas e as ervas daninhas representam os pensamentos ruins que atrapalham minha vida, como os ligados à deficiência psicológica da vaidade ou à propensão à preguiça. Compreendi também como devo me esforçar para removê-los, a fim de dar mais espaço aos bons pensamentos que valorizam a vida. Estou aprendendo a substituir a vaidade pela modéstia, e isso me traz muita felicidade.
Sinto gratidão por ter conhecido o autor da Logosofia, um ser humano que tanto contribuiu para o bem da humanidade ao ensinar essa nova forma de cultivar a terra. Assim, tenho colaborado para que mais pessoas saibam que não precisam passar fome nem buscar alimento em outros lugares, pois possuem em si a capacidade de produzi-lo por si mesmas.
Observo o despertar de minha família para essa realidade. É uma grande felicidade poder oferecer-lhes algumas das sementes que recebi e consegui plantar; ainda mais gratificante é vê-los cultivando suas próprias terras, crescendo cada vez mais em tamanho e valor.
Compreendo que a expansão desse bem ocorre de forma natural e pelo exemplo: quanto mais me cultivo, mais posso colaborar com quem está ao meu redor, e essas pessoas, por sua vez, colaborarão com os outros, formando uma forte corrente de bem.
Sei que este solo é edificado por cada conceito que possuo, e tenho a prerrogativa de enriquecer e ampliar cada um deles – sobre o bem, o mal, a vida, o ser humano, Deus e muitos outros que a Logosofia oferece para serem estudados, cultivados e experimentados.
Um dos conceitos que consegui ampliar foi o de cultura. Compreender que a cultura é a maneira de me cultivar internamente – esse próprio cultivo de pensamentos, conceitos e valores – fez-me compreender por que a humanidade vive em tamanho sofrimento psíquico e espiritual. Esse modo de viver, resultante do abandono de nós mesmos, deixou-nos tristes e solitários, com uma fome que nos leva a continuar buscando algo além disso.
A humanidade é dotada de inteligência para se desenvolver e evoluir. Devemos voltar-nos para dentro, onde cada um pode aprimorar sua terra – mental e sensível – e cultivar o bem que nos foi generosamente concedido. Ao conhecer essa realidade, tornamo-nos capazes de espalhar essa forma de cultivo. Por desejar o bem de toda a humanidade, devemos construir essa nova cultura.