Por muitos anos da minha vida eu colocava a felicidade sempre em algum lugar lá na frente, distante da minha realidade: quando eu me formar conquistarei algo, quando me casar sentirei tal alegria, quando tiver um bom emprego, etc… serei feliz. Ou seja, a felicidade, para mim, estava mais na incerteza do tempo futuro do que no presente. Estava ausente qualquer elemento que me possibilitasse, antes de tudo, compreender a finalidade da vida para poder abarcar o sentido real da felicidade.

Isso me impedia de viver cada momento como uma experiência única, boa, capaz de ser guardada no acervo do meu interno. Por mais que tentasse, eu não conseguia me sentir feliz a cada dia, no presente, porque havia sempre um desejo atrapalhando o olhar sobre o que já possuía. Haviam perguntas não respondidas: será que eu conseguia ver as coisas com clareza, ao não me permitir ser feliz? Qual era o meu conceito de felicidade? Como viver uma vida feliz, apesar dos problemas cotidianos e do fato de não ter tudo o que eu queria?

Ao tomar conhecimento de um ensinamento importante sobre a felicidade, o modo de pensar acerca deste assunto foi tomando um novo rumo.

Agora lhe falarei da felicidade, tão perseguida sempre pelo homem. Como você vê, passo de uma ideia para outra como se estivesse apanhando borboletas. A felicidade é algo que a vida nos outorga através de pequenas porções de bem. Comumente é buscada com os olhos postos em um só ponto; se esse ponto fracassa, se esse objetivo desaparece, a vida se retrai, sobrevindo a dor, o ceticismo, a decepção. (…) A felicidade murcha como as flores; entretanto, assim como o bom jardineiro sempre tem a seu alcance outras para substituí-las, quem possui conhecimentos pode, também, substituir constantemente os motivos que dão permanência à felicidade na vida. O conhecimento a fixa, a torna estável; permite sentir seu palpitar de eternidade.

Com efeito, a partir de muitas reflexões neste sentido, comecei a valorizar tudo o que já havia conquistado e a dar atenção às pequenas coisas ao meu redor; coisas que me traziam bem-estar e alegria: pequenos instantes contemplando a natureza, um abraço, uma conversa.

Aos poucos, fui percebendo que a felicidade estava nas coisas para as quais eu dava pouca importância e hierarquia — um dia com a família, uma leitura, um estudo, um abraço dos filhos. E a causa real dessa felicidade eram os meus pensamentos e atos cultivados de forma consciente.

Nos anos que se seguiram, valendo-me dos estudos que realizava no meu processo de evolução consciente, estudei minhas experiências diárias, exercitei a observação e passei a viver as lutas do dia a dia, colocando-as um degrau abaixo das demais coisas que realmente importavam e eram perenes para mim.

Por exemplo, ao me deparar com desejos materiais que ofuscavam a minha atenção por meses a fio, impedindo que eu pensasse em outra coisa, eu passei a parar e a perguntar por que aquilo era desejado. Em certo momento, veio o pensamento de adquirir um bem para desfrutar o lazer no verão, mas que ensejaria um endividamento elevado a curto prazo.

Eu refleti e decidi que ter aquela pressão econômica por meses a fio iria me privar de uma tranquilidade que não mais estava disposto a perder, priorizando tempo e esforços para outras coisas que mereciam mais ênfase naquela fase da minha vida.

Esta atitude tomada e consumada me permitiu desfrutar de várias outras realizações que não teriam acontecido, como não precisar trabalhar tanto para obter os recursos empenhados, ter mais tempo com a família, estudar assuntos de ordem elevada e sentir o bem-estar de ser senhor do meu dia, sem elementos de pressão excessivos.

Ao estudar esta vivência, percebi ainda que, ao dizer não a pensamentos insistentes e que queriam se apossar do meu interno, abri espaço para escolher outros pensamentos que, produzidos por um querer mais puro, ocuparam o lugar daqueles e direcionaram a minha vida para fins mais serenos e elevados. Quando passei a praticar essa conduta de forma habitual, os temas que me causavam ansiedade foram se dissipando naturalmente e pude ampliar a sensação de liberdade que, ao final, identifiquei como a verdadeira felicidade.

Concluí, com esta experiência, que a aplicação na vida do conceito de que a felicidade não está no materia foi comprovado, pois, com a decisão tomada, organizei minha vida financeira e ainda pude, em pouco tempo, obter a mesma conquista material que almejei no instante errado, fruto da ansiedade e da inconsciência.

Ao realizar esta transformação na forma de pensar, passei a viver as lutas cotidianas com maior coragem, valor e altivez, pois já sabia dizer não aos desejos fugazes e me concentrar em refletir sobre o que produzia em mim a sensação efetiva de bem-estar e felicidade, familiarizando-me com tudo o que estava relacionado a isso.

Este grau de posse de um conhecimento aplicável na vida não seria possível sem antes ter obtido conhecimentos que me capacitassem a chegar nestas condições, nem tampouco aplicar um método que reordenasse o modo como eu produzia meus pensamentos até chegar numa realidade concreta.

Ao repetir este tipo de abordagem diariamente, recusando os pensamentos que me traziam tarefas e metas descartáveis, escolhendo aqueles que focalizassem nas pequenas porções de bem que efetivamente já admitia como importantes, aprendi a dizer não para as coisas que me causavam infelicidade, como a impaciência, o materialismo e a vaidade.

Pude sentir, então, uma profunda gratidão por estar vivo, por ter por perto pessoas que me amavam, por ter tempo para apreciar uma boa leitura, por ter um trabalho e um propósito de bem, além de uma mente habituada a pensa, que me permite avançar na vida, de forma concreta, e realizando movimentos conscientes.

Por fim, aprendi a valorizar as porções de felicidade que vou alcançando diariamente e que me dão a verdadeira dimensão do real e do perene.