É comum ouvirmos as pessoas dizerem que quem se impõe aos demais tem muita “personalidade”, e isto quase sempre é tido como virtude. Já os que cedem à vontade dos outros são “sem personalidade”, como se lhes faltasse algo.

O conceito de personalidade apresentado pela Logosofia pareceu–me muito mais coerente com a realidade que observo em mim:

Personalidade é tudo aquilo com que se reveste o ser para aparentar ser aquilo que em realidade não é.

Se verificarmos a origem da palavra, chegaremos a “persona” ou “máscara”, ou seja, é o personagem que se cria internamente, sobrepondo-o ao próprio indivíduo.

Os manifestos de minha personalidade

Ao voltar a observação para meu próprio interno, como indica o método logosófico do conhecimento de si mesmo, percebi claramente as atuações da minha personalidade, representada pelo amor-próprio, pela vaidade, pela presunção e por todo artifício de que lança mão para aparentar ser aquilo que não é. Hoje sei que, ao contrário do que se diz, o verdadeiro ser é o indivíduo, livre da máscara. Mas tenho me perguntado: como encontrar dentro de mim esta individualidade? O que sei sobre estas duas realidades que convivem no meu interno, sem que tenha qualquer controle sobre elas?

Recentemente, em uma visita a um museu na companhia de um sobrinho de seis anos, entramos no jogo de espelhos. Ele se divertiu ao ver sua imagem refletida no infinito, enquanto eu, vendo as minhas múltiplas imagens refletidas nos espelhos, pensava sobre “quem sou eu” e percebia que não sou apenas duas, sou “várias”. Descobri que esta situação não me é confortável. Afinal, quero ser “uma”, encontrar essa unidade dentro de mim, buscando minha individualidade.

Os diferentes conceitos de mim que me rodeiam

Observei que minha personalidade projeta múltiplas imagens minhas nos seres com quem convivo. Pensei então no conceito que cada pessoa tem de mim: marido, filhos, colegas de trabalho, amigos, irmãos, pais. Cada um tem uma visão diferente da “Norma”, e a personalidade vai moldando estas imagens a seu bel-prazer, referências de um ser que não existe na realidade, mas se divide em diversas versões fictícias de mim, como no jogo de espelhos. Percebi que, se a imagem é boa, satisfaz-me plenamente; se não, a vaidade e o amor-próprio ressentem-se e tratam de rechaçá-la, negando aquilo que não lhes convém.

Para exemplificar, vou relatar algo que aconteceu dias atrás: estava no trabalho conversando com um grupo de pessoas sobre um fato corriqueiro, quando alguém fez referência à minha bondade. Naquele momento, surpreendi internamente um movimento de aprovação de minha personalidade, que se cobriu de vaidade e se viu satisfeita com o comentário. O contrário também acontece com muita frequência: quando recebo uma crítica, trato de negá-la imediatamente, sem submetê-la à análise sensata da razão, julgando-me injustiçada e mal compreendida. Tudo isto teria passado despercebido se não tivesse identificado estes estados internos tão sutis quanto prejudiciais à minha evolução como ser humano.

Onde fica o meu verdadeiro ser?

O leitor pode estar pensando: “Isto é normal!”. Será? O problema é que me satisfaço com estas imagens fictícias de mim e vou levando ou perdendo minha vida sem realizar o seu objetivo. Do ponto de vista de minha evolução, o que isto significa? Seguindo a linha destas reflexões, vi que é cômodo para minha personalidade. É que o verdadeiro ser, aquele que eu deveria refletir sempre como expressão da realidade, fica postergado. Afinal, é isto que a personalidade quer: negar-me a possibilidade de evoluir e de superar minhas deficiências.

Surpreender esta realidade no meu interno abriu-me um horizonte que não existe para quem ainda não aprendeu a voltar sua observação para si mesmo, com vistas à superação de suas limitações e à construção de um novo ser, mais digno, que possua de verdade as qualidades superiores do verdadeiro arquétipo de ser humano criado por Deus