Recentemente, tive a honra de ser convidado a ministrar aulas para os alunos do Curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, na disciplina “A Logosofia e a humanização da Medicina”.

O foco desta atividade docente é o de promover, com a contribuição dos conhecimentos logosóficos, a aliança do exercício profissional equilibrado e ético com a humanização da área da saúde. Como recurso pedagógico, as aulas são conduzidas no sentido de promover reflexões sobre a nova forma de sentir e conceber a vida, apresentadas pela Logosofia.

Nos minutos iniciais da minha exposição destaco, ilustrando com vivências, a excelente formação técnica e acadêmica dos médicos brasileiros; profissionais preparados, habilitados e capacitados para a prática de uma das mais nobres profissões, a Medicina, já que lhes compete zelar pela principal das causas humanas: a vida.

Claro que há exceções, falhas, erros, conflitos; presentes em qualquer campo de atividade profissional; sempre passíveis de serem evitados, superados e aperfeiçoados.

Mas, desde tempos bem distantes da pandemia da Covid-19, que protagonizou a classe médica no cenário mundial, algo que o viver diário nos convida a comprovar é que dentro do coração humano cabem muitos amores; amor a Deus, aos pais, aos filhos, aos amigos, etc., dentre eles, o amor ao médico.

Quando compreendi esse amor ao médico?

Para responder, vamos dar voz à realidade e aos fatos. Certa vez, eu estava numa praia remota com a família, quando um dos meus filhos passou mal, devido a uma forte intoxicação.

Hospital não havia ali. Nos informaram na pousada que apenas um médico residia no vilarejo, e, por ser domingo, viajava com seus familiares e não atendia, já que sua jornada semanal era extenuante.

Mesmo assim, arrisquei a procurá-lo. Ao chegar na sua residência, ao lado da qual mantinha o consultório/ambulatório, eis que ele trancava o portão de sua casa para se dirigir ao carro, no qual o aguardavam a esposa, três filhos e as malas prontas.

— Doutor, o senhor me permite?

— Sim — respondeu-me com serenidade.

Mostrei-lhe o filho enfermo e expus-lhe os sintomas. Seguiu-se um rápido intervalo. Ele olhou para sua família no carro e voltou a olhar para meu filho. Pediu licença, dirigiu-se até sua esposa, falou-lhe algo, voltou e me disse:

— Por favor, vamos entrar, vou medicá-lo, colocá-lo no soro, imediatamente. Essa intoxicação é das bravas.

Passamos toda a manhã no seu consultório/ambulatório.

Naquela época, já tinha ficado claro para mim que “o médico nunca abandona seu paciente”, e por ele sacrifica muitas vezes o que lhe é mais caro.

Outro fato, anterior à era da Covid-19.

No colégio onde exerço, voluntariamente, o magistério, concluí um ciclo de estudos sobre “O valor da família” com adolescentes do Ensino Médio. Mostramos a eles que a família é uma espécie de berço de valores e também um templo sagrado onde os filhos aprendem, no amor a seus pais e irmãos, a amar a Deus e a seus semelhantes.

Uma aluna me procurou após a última aula e disse:

— Professor, eu queria muito ser sua filha. O senhor conversa, conta muitas experiências, casos engraçados, etc.

— Mas menina, disse sorrindo, você não tem pai?

— Sim, tenho, mas meu pai chega em casa tão cansado todos os dias, que mal conversa comigo. Ele trabalha muito no hospital e consultório. O senhor entende, né?! Ele é médico.

— Bom Fulana, seu pai tem duas partes: o pai que chega em casa, e o pai que luta fora dela para manter a família e realizar o seu ideal profissional, o que você conhece dele? Conhece seus sacrifícios, esforços e lutas diárias? E disse a ela mais algumas coisas.

Na formatura, a encontrei toda feliz ao lado do pai. Após me apresentá-lo, cochichou no meu ouvido:

— Não quero mais ser sua filha. Conheci o pai que luta e me tornei a sua melhor amiga. Agora ele trabalha um pouco menos e conversa bem mais em casa. E eu exijo menos e lhe entendo mais. Já decidi, serei médica.

Sem dúvida, essa filha tinha aprendido a colocar o amor respeitoso ao pai (médico) que luta, dentro do seu coração. E ele, a compreensão do equilíbrio que deve imperar entre o trabalho e a família.

Respeito e gratidão — fatores de saúde individual e coletiva

Um último fato. Eu estava na sala de espera acompanhando um familiar, no consultório de um médico, na qual se encontravam três senhoras francesas, com as quais começamos a conversar.

Disseram-nos que periodicamente vinham ao Brasil consultar e fazer tratamentos com médicos brasileiros. Contaram que amigas e conhecidas delas na Bélgica, Holanda, França, etc. também faziam o mesmo.

Perguntei-lhes se era pelo fato de os custos dos procedimentos médicos no Brasil serem menores do que os de outros países.

– Não, é pela competência profissional deles. Vocês deveriam se orgulhar dos médicos que têm! – concluíram.

Naquele momento, senti honrado em ser brasileiro e, internamente, agradeci aos médicos do nosso país por tal distinção. Que magnífica lição aquelas francesas nos dão!

Amor respeitoso ao médico? Por quê?

Porque eles merecem mesmo, independentemente do vírus que ora lhes dá destaque nacional e internacional.

Colocar o amor respeitoso ao médico dentro do coração é uma questão de merecida gratidão, inteligência e saúde; caso contrário, estaremos sempre doentes, mesmo estando fisicamente sãos, por não termos aprendido a valorizar quem zela pela nossa saúde, muitas vezes com sacrifício da própria.

Dar valor ao valor, ou seja, respeito e gratidão ao bem recebido: eis dois dos principais fatores de saúde individual e coletiva.