A mentira é vilã: quando parece dar a felicidade, a arrebata. (Raumsol)

O embusteiro, apesar de ser um sujeito típico e classicamente definido, consegue na maioria das vezes safar-se habilmente das situações complicadas que ele mesmo provoca com sua costumeira má-fé. É, em geral, temido pela gente ignorante, e até mesmo por aqueles que preferem o confronto a terem de se envolver com tipos dessa espécie.

Mesmo assim, o embusteiro é o protótipo do covarde e do traidor. Nunca ataca de frente; esconde-se sempre no anonimato, para que a luz não descubra sua fatídica silhueta, e se esquiva agilmente dos preceitos da lei. Identificado por inteiro com a mentira, a verdade é para ele uma ficção, fazendo, com sutis enganos, os incautos e os tolos crerem que, se é isso o que ele diz, essa é a “verdade”.

Está continuamente à margem da realidade, a tal ponto que o surpreende o fato de haver seres que vivam com sensatez e rechacem o impostor em seus pretensiosos intuitos.

Em suas ações canalhas e delituosas, emprega a maior tenacidade em lançar, sobre aqueles que ele utiliza como instrumentos, o peso da responsabilidade. Na ponta da língua tem sempre a “palavra de honra”, que empenha com a mesma facilidade com que a nega.

Passar por “homem de bem” é sua obsessão permanente. Incapaz da menor ação nobre, visto que é um ente sem honra, desprezível por natureza, faz tudo para lesar a dignidade dos demais.

As inquietudes espirituais desses sujeitos consistem em usurpar bens alheios, títulos que usam ilicitamente e tudo quanto seja motivo de cobiça para suas mentes extraviadas. No final de suas aventuras, esses eternos suspeitos aos olhos da polícia quase sempre caem na mão da justiça e são trancafiados em lugar seguro. O curioso é que, já presos, continuam fazendo cálculos para suas futuras manobras delituosas, inventando novas mentiras e dizendo enfaticamente e com gestos de desdém aos carcereiros: “Nós defendemos a sociedade com ‘nossos honráveis nomes’ e conseguimos, finalmente, a felicidade de ver todo o mundo atrás das grades!

Convém que os psiquiatras e os juízes tenham bem em conta essa classe de demência, que constitui todo um perigo para a paz social.


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.