Segundo se sabe, o termo quarentena teve origem na prática medieval de manter sem comunicação, durante quarenta dias, nos portos em que chegavam, os navios procedentes de determinadas áreas, sobretudo do oriente, para evitar a disseminação de doenças que poderiam ser trazidas de terras distantes. Com o passar do tempo, o termo passou a ter um significado mais amplo.

Durante a pandemia do coronavírus, fomos submetidos a uma quarentena compulsória, que tem me possibilitado fazer reflexões sobre diversos assuntos e tem sido também um período produtivo para minha mente e minha sensibilidade.

Frequentemente são divulgadas novas recomendações e formas de prevenção e tratamento do Covid-19. Quase de imediato, surgem controvérsias sobre essa ou aquela indicação, sobre esse ou aquele tratamento, gerando acaloradas discussões e verdadeiras batalhas ideológicas. Como não sou da área médica, não me aventuro a contestar nem avalizar essa ou aquela recomendação, mas tenho procurado levar em conta os cuidados recomendados por fontes de indiscutível credibilidade.

As medidas contra a pandemia e suas repercussões internas

Por outro lado, tenho refletido sobre um aspecto que, penso, nem a Organização Mundial de Saúde, nem outros órgãos internacionais ou nacionais, ligados à saúde, têm se manifestado. Há um vírus que se espalhou com a quarentena e que nenhum isolamento protege — pelo contrário! — e, paradoxalmente, vem causando estragos justamente em razão do isolamento. Refiro-me à entrada em nossas casas, pelos veículos de comunicação e pelas redes sociais, não de um, mas de diversos vírus: o vírus do pânico, do medo, da insegurança, da manipulação ideológica de multidões. As mentes têm se tornado presas fáceis desses vírus.

Uma simples notícia em qualquer dos canais de TV pode instantaneamente, sem que percebamos, inocular em nossa mente esse vírus, interferindo em nosso estado de ânimo, tornando-nos temerosos, inseguros ou submissos a alguma corrente de pensamento, nem sempre positiva. Recentemente, conversava pelo interfone com um vizinho de condomínio, que me confidenciava que desde o início da pandemia não saía de casa e, mesmo assim, estava inseguro e preocupadíssimo. Fiquei pensando de onde provinha tamanha insegurança e temor, se ele não tinha contato com outras pessoas, a não ser com a própria esposa, que também cumpria rigorosamente o isolamento.

O autoconhecimento como vacina preventiva

As universidades nos deram condições de adquirir conhecimentos fundamentais para o exercício das mais diversas atividades, mas é preciso reconhecer que pouco sabemos o que ocorre dentro de nós — em nosso mundo interno, em nossa mente. Esse conhecimento nos permitiria criar as indispensáveis defesas mentais contra os ataques desse vírus — que nem os mais poderosos e modernos microscópios podem identificar, porque não é material.

Afirma a Logosofia:

Quando o homem aprende a conhecer seus próprios pensamentos, os localiza em sua mente e os seleciona para servir-se dos melhores; e quando sabe que pode criar pensamentos próprios em vez de usar os alheios e exercita sua faculdade de pensar, já está em posse de uma chave para dominar seu campo mental e estabelecer suas defesas mentais.

Do livro Logosofia, Ciência e Método, de González Pecotche.

Contrapor pensamentos de temor com pensamentos de otimismo e de confiança, infundindo em nós mesmos a certeza de que somos capazes de vencer mais essa batalha que nos coloca à prova diariamente, é importante e necessário. Mas precisamos de uma espécie de conhecimentos que não nos foi ensinada.

Há um elemento de defesa que, a meu juízo, é também muito importante em momentos como o que vivemos: ter confiança, muita confiança em Deus. Não no “deus” criado pelo homem, encapsulado nos limites impostos pelas diversas correntes religiosas antigas ou modernas, e sim em um Deus que tem seu altar no seio da Criação, que abarca todo o Universo e, também, encontra-se em cada coração humano, estando acima das ideologias existentes.