É possível sair da condição de ser uma pessoa extremamente triste, descrente com o próprio futuro, indiferente consigo mesma e com a humanidade, para se transformar em uma pessoa alegre, confiante em si mesma, otimista, interessada em ser melhor para ajudar os demais? Isso aconteceu comigo.  

Um dos aspectos que sempre me chamou atenção na Sabedoria Logosófica é o seu poder de promover mudanças definitivas na vida daqueles que a cultivam com seriedade e profundo interesse em ir além do que se é. E isso aconteceu comigo. 

Frequentemente atraio à minha recordação a imagem de uma jovem que descobriu que a vida e o futuro seriam uma noite escura de um ser errante, e por decisão própria, movida mais pela sensibilidade do que pela razão, abraçou a oportunidade de construir sua vida à luz dos ensinamentos logosóficos, guiada pelo espírito do Maestro Raumsol. 

Tudo começou quando observei meu irmão ainda durante nossa juventude: ele passou a apresentar um comportamento diferente, falando de coisas estranhas, mas agradáveis, transbordando uma alegria como quem descobriu um tesouro e a todos vai revelando a fonte de sua nova riqueza: a Logosofia. 

Ao mesmo tempo que no meu íntimo sentir queria também experimentar aquele novo estado de iluminamento, temia envolver-me com qualquer nova linha de pensamento que fizesse promessas só para depois abandonar o incauto à própria sorte. 

De uma certa forma eu já vinha tentando romper com esse temor ao me lançar aleatoriamente na busca de algo a mais para a minha vida. Sendo assim, buscava praticar exercícios de meditação transcendental, ler os livros mais diversos, em especial os da cultura oriental, e romper o tênue cristal da fé cristã, questionando seus dogmas furtivamente. A valentia era colocada à prova, quando me via ameaçada pelo pensamento do castigo, a escuridão de uma vida sem rumo, sem luz, como um náufrago numa barquinha à deriva no oceano da vida. 

Vencidas as primeiras resistências, iniciei meus estudos logosóficos. De imediato, vi-me envolvida pelas primeiras reflexões promovidas pelos ensinamentos: a vida tinha um sentido superior que era a evolução consciente; a Logosofia oferecia um método pautado no conhecimento transcendente; apresentava a existência das Leis Universais que, ao mesmo tempo que corrigiam, encaminhavam para o acerto; experimentava confiança no novo conceito que comecei a ter do Criador.  

Essas reflexões, fruto da revisão de novos conceitos, deram a mim um sentimento de que eu estava diante de uma nova concepção do Homem, de Deus e do Universo, elevando-os a patamares grandiosos, divinos e eternos. Mas, para que a transformação realmente se efetivasse, era necessário iniciar uma reeducação do ser, que por muito tempo moveu-se de forma indisciplinada, descompromissada e por casualidades. 

Primeiro, deveria romper o hábito de olhar somente para fora e passar a olhar para dentro de mim mesma. Eu passaria a ser o motivo de estudo para recriar uma nova estrutura interna. Fazia-se necessário criar um arquétipo que servisse de inspiração. Os delineamentos desse arquétipo têm sido recolhidos nos ensinamentos com os quais nos vamos identificando.   

Existe um grande processo a ser percorrido entre o ideal e a realidade. E eu experimentei muitas resistências internas vindas da personalidade, que não queria ceder seu lugar ao novo ser em formação. O velho ser insistia em ser em aparência, voltado para fora e não um ser melhor, com virtudes cultivadas de forma consciente, ampla e generosa. A luta para se desapegar do velho consiste em identificar os preconceitos adotados pelos antigos hábitos, crenças sem fundamentos, amor-próprio e toda gama de defeitos e deficiências psicológicas.  

Recordo que, após alguns meses do percurso inicial da realização do processo de superação, fui convidada a participar de uma reunião para divulgar a Logosofia a outros jovens. Ensaiei o que ia falar e, no dia, não consegui falar nada; fiquei muda. Uma profunda inibição, companheira desde a infância, impediu-me de falar. Ao conversar sobre o fato com a pessoa que dirigiu a reunião, disse-lhe que me havia preparado para falar para jovens, mas só apareceram pessoas mais velhas. Na mesma hora dei-me conta de que o pensamento de inibição, além de me fazer calar, também me fazia dissimular o erro para culpar os outros. Naquele instante, recordei-me dos ensinamentos que havia estudado sobre a autonomia dos pensamentos, o poder que eles têm sobre a vontade, que acaba obedecendo as ordens do velho ser.  

O encontro com a minha realidade psicológica assustou-me. Afinal, quem sou eu? Esta pergunta ficou ecoando dentro de mim. Senti uma profunda comoção interna. Se eu queria ser uma pessoa melhor, mais capaz, deveria fazer calar os velhos pensamentos e, para isso, deveria identificá-los, classificá-los e selecioná-los. 

Observei que uma técnica ensinada na docência logosófica é a de que o ser, para encontrar a si mesmo e poder fazer a alquimia da transubstanciação, deve colocar-se à prova, realizando atividades práticas que permitam realizar o encontro consigo mesmo. A vida passou a ser um grande campo experimental de observação dos pensamentos, das reações e de como se manifestavam os sentimentos. Ao mesmo tempo que estudamos novos conceitos sobre nós mesmos e a vida, experimentamos o poder da transformação interna. Querer realizar acertos requer o cultivo de valores e virtudes.  

Desta forma, dentro da realidade de cada um, vamos vivendo a verdadeira vida que nos ensina a Logosofia, a vida consciente, na qual lapidamos nosso próprio ser e incorporamos valores que vão conformar nova individualidade, nova modalidade, novo caráter em permanente construção. 

Projeto para o futuro a continuidade dessas transformações internas, para ser mais feliz e capaz de ajudar a mim e aos demais. Anelo ser mais eficiente, expandir minhas qualidades e adquirir mais valores. A cada dia vou abandonando o ser errante, sem rumo e vou de mãos dadas com um novo ser que caminha de olhos abertos postos num horizonte luminoso, seguindo a rota inspirada pelo meu próprio espírito.