Autoconhecimento

A maçã de Newton e o meu bolo de mirtilos

dezembro de 2025 - 4 min de leitura
Autoconhecimento

A maçã de Newton e o meu bolo de mirtilos

dezembro de 2025 - 4 min de leitura

Dizem que Isaac Newton teria descoberto a lei da gravidade ao observar uma maçã cair da árvore. 

Por mais romanceada que seja essa versão, ela me faz refletir sobre como aquilo que vemos e experimentamos pode ser transformado pelas perguntas e pelo conhecimento prévio que cada um tem dentro de si. São esses fatores que moldam o que extraímos das situações que vivemos. 

Ou seja: de certa forma, o que procuramos faz com que encontremos coisas que os outros não veem.

Ao procurar conhecer mais sobre mim mesma – os mecanismos que me fazem pensar, sentir, decidir e reagir – e, a partir disso, entender como ser uma pessoa melhor, vejo como pequenas coisas podem levar a grandes descobertas. 

O estudo logosófico me leva a transformar esse mundo interno em um verdadeiro laboratório.

Vou dar um exemplo de uma situação que se tornou para mim um útil elemento de reflexão.

Eu estava planejando a comemoração do meu aniversário e escolhendo o bolo que faria. Aqui vale explicar que, além de comê-los, eu adoro fazer bolos!  Acabei escolhendo um de limão-siciliano com mirtilos. Era uma receita que eu nunca tinha feito, mais elaborada e mais doce do que as que preparo no dia a dia. Eu estava muito empolgada!

Na véspera da festa, cheguei do trabalho e fui preparar o bolo. Segui as instruções da receita e fiquei ali umas horas fazendo. Quando finalmente ficou pronto, sobraram alguns recortes que pude provar sem partir o bolo montado. Provei e achei doce demais. Imediatamente, minha alegria foi embora; me arrependi de ter escolhido aquela receita e de todo o tempo gasto preparando-a. Fui dormir chateada – já passava da meia-noite. 

Durante a festa, ao partir o bolo e servir para os convidados (com certa reticência), tive uma surpresa: estava delicioso. A noite na geladeira serviu para que os sabores se equilibrassem. Voltei a ficar contente com o bolo, e todo o esforço voltou a valer a pena.

Depois, observando esses movimentos dentro da minha mente, percebi que eu queria experimentar algo novo, mas não me preparei para a possibilidade de dar errado

Conectei essa observação com as perguntas que tenho sobre mim mesma e com o processo de superação que me proponho a seguir com o método que a Logosofia ensina para o conhecimento de si mesmo. 

Para avançar, preciso realizar muitas experiências, porque a Logosofia me convida a estudar e comprovar uma nova forma de viver. 

Como posso dizer que quero experimentar se não estou disposta a lidar com as situações quando elas não derem o resultado que eu queria e até mesmo que eu planejava? 

Se quero ser melhor, descobrir novas formas de pensar e de conviver, tenho a ilusão de que vou sempre acertar de primeira? 

Vi aí a necessidade de me preparar e me predispor a retirar das experiências algo de útil, independentemente do resultado obtido. E desse elemento útil tirar também alegria por dar mais um passo nesse caminho. 

Ou seja: com o bolo de aniversário, aprendi que, se quero experimentar, mudar, descobrir, preciso estar disposta também a errar e continuar feliz por ter tentado. Aprender com o erro e tentar de novo – sempre procurando acertar. O valor está no esforço que faço e na minha superação como resultado da experiência.  

No caso de Newton, a queda da maçã não importa muito. Mas a força que ele descobriu por trás desse movimento é a mesma que explica a Lua girando em torno da Terra, por exemplo. Compreender essa força – a gravidade – permite prever a trajetória de um objeto lançado e, assim, trabalhar para que caia onde queremos, seja uma bola de papel ou um foguete.

Assim acontece dentro de mim. O bolo já não importa muito…

"A Logosofia apresenta às possibilidades de todo indivíduo um campo experimental extraordinariamente singular e fértil. Esse campo se estende ao longo de toda a vida e se divide em três importantes partes, de conformidade com o que é requerido pelas necessidades psicológicas e mentais do ser, em seus avanços pelo caminho da evolução consciente. Assim, por exemplo, quando praticamos os ensinamentos que nos levam a internar-nos dentro de nós mesmos, transportamo-nos para uma das partes desse campo experimental; e é ali, na verificação dos fatos, guiada a observação pelo conhecimento logosófico, onde se consubstanciam o saber e a experiência em indestrutível vínculo. A realização de um processo de investigação foi desse modo consumada, e a inteligência se apropriou de um novo e valioso elemento, que de outra maneira teria sido impossível obter".

Um pensamento de

 Stella Maia
Stella Maia nasceu em Belo Horizonte - MG e estudou no colégio Logosófico. É casada e mãe de 2 filhos. Graduada em Engenharia Química pela UFMG e mestre pela Unicamp, atua como engenheira de processos. Estuda e é docente da Fundação Logosófica em Belo Horizonte desde 2009.

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