Ao encarar o tema Ser e não ser, abordaremos nada menos que a consciência, fazendo um convite à mente para que ela pergunte e responda a si mesma: Estou de acordo com o que tenho feito durante minha vida? Pude, em algum momento, experimentar com toda plenitude a sensação de existir? Tenho comprovado que meu ser existe? Tenho sentido sua existência? Como é meu ser? 

Por considerarmos que será um pouco difícil responder às perguntas formuladas, trataremos de conduzir o pensamento ao encontro de elementos de juízo indispensáveis para poder esboçar uma proposição adequada. 

Quanto mais conhecimentos, maior é a consciência

Se levarmos em conta que para ser é absolutamente necessário sentir e experimentar a existência dentro desse mesmo ser, poderemos medir o grau ou a intensidade em que isso é ou foi realizado. Desse modo, aos olhos do entendimento, o ser aparece constituído pelo que sabe e pelo que realizou com base nos conhecimentos com os quais obteve uma identificação; esses conhecimentos formam a consciência. Quanto mais conhecimentos, maior é a consciência, e quanto maior é a consciência mais o ser se agiganta espiritualmente. Quem estivesse compreendido nesse quadro, se tornaria, entre seus semelhantes, um ser cuja dimensão espiritual assumiria contornos cada vez mais ilimitados. 

De modo que aquele que se conforma em ser apenas um ser humano não conquista, por isso, a qualidade de ser – no sentido real da palavra – um ser superior; um ser que esteja acima dos demais seres humanos, daqueles que, aparentando ser, estão ainda no plano do não ser. 

A cada dia se pode ser mais. Em quaisquer campos da vida acontece a mesma coisa. Assim, por exemplo, aquele que inicia um negócio ou começa uma carreira, o faz porque não sabe nada a respeito. Nessas condições, ele não é nada, mas vai sendo algo à medida que vai sabendo. É assim que chega a ser um profissional, um grande comerciante, etc. Por quê? Porque sabe; porque deixou de ser um não ser para ser médico, advogado, engenheiro, industrial, comerciante, etc. 

Assim é na vida comum. Na superior é igual. Uma pessoa empreende uma investigação; interna-se, por exemplo, no campo logosófico, para conhecer os mistérios do mecanismo mental, da evolução consciente, a fim de penetrar na vida interna e descobrir muitas coisas de si mesmo que antes ignorava. A princípio, não sabe nada; inicia na condição de não ser, mas vai sendo conforme vai sabendo, vai conhecendo. Esse conhecimento é, precisamente, o que lhe confere a qualidade ou a condição de ser; e esse ser, à medida que mais conhece, mais é. 

Cada um deve buscar dentro de si mesmo a chave de seu próprio enigma; deve saber com toda certeza se é ou não é; deve saber o que foi, o que é e o que pode ser. Antes não podia fazê-lo porque não tinha as prerrogativas que o conhecimento logosófico abre; com ele, porém, o panorama muda totalmente. Cultivando-o, pode-se estar em condições de se pronunciar sobre o próprio futuro, se é que se quer chegar a ser aquilo que se propôs ser.

Extraído de Introdução ao Conhecimento Logosófico, p.429-430

Introdução ao Conhecimento Logosófico

Introdução ao Conhecimento Logosófico

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.