Ser bondosa nunca foi algo difícil para mim. Lembro de uma amiga da época do cursinho para o vestibular que me dizia: “Quando eu tiver filhos, quero que eles sejam como você, pois você é muito boa”. Naquela época, senti-me muito honrada com aquele comentário, porém comecei a refletir a respeito do meu conceito de bondade; será que eu estava fazendo o bem a mim mesma?
Esse empenho em agradar aos outros me colocava na situação de esperar que agissem comigo da mesma maneira, o que na maioria das vezes não acontecia, e isso me magoava. Mais tarde, estudando Logosofia, encontrei o seguinte ensinamento no livro Exegese Logosófica:
Quando li isso, pensei: “foi escrito para mim!”, pois geralmente eu era tola, a ponto de fazer coisas que me prejudicavam para beneficiar ao outro — que muitas vezes nem valorizava meu esforço.
Fui percebendo que em algumas ocasiões colocava as pessoas na situação de vítimas, justificando suas más atuações por causa de problemas ou traumas. Mas, que bondade era essa em que eu aceitava que me tratassem de maneira inadequada, sem receber a reciprocidade esperada em troca de minhas boas ações? A realidade foi mostrando-me que aquela tendência atentava contra mim.
Isso não implica que eu deva adotar uma postura negativa. Em vez disso, devo iniciar aplicando o princípio de caridade a mim mesma, identificando melhor minha própria psicologia e deficiências para que eu me torne mais consciente do que verdadeiramente significa fazer o bem.
O autor da Logosofia, Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche, escreveu um livro que descreve inúmeras deficiências psicológicas e ensina como combatê-las. Mas o que é uma deficiência e por que cada uma delas me impede de ser melhor do que sou?
No Livro Deficiências e Propensões do Ser Humano (2012, p. 17), o autor ensina sobre o conceito de deficiência para a Logosofia:
Uma dessas deficiências chama-se desobediência. Desde a infância, fui ensinada a obedecer, e é por essa razão que minha amiga expressou o desejo de que seus filhos fossem como eu.
Entretanto, comecei a perceber que em muitas situações eu agia em desacordo com meus propósitos, deixando-me levar pela impulsividade e sofrendo com as consequências nocivas dessas atitudes. Desde então, venho buscando conhecer minhas limitações para as combater com maior lucidez mental.
Hoje, exercitando a recordação — um recurso da inteligência —, analiso as atuações que me trouxeram sofrimento para não repetir os mesmos deslizes, pois, quando identifico a deficiência que me levou ao equívoco, posso deter sua influência sobre mim e passo a ser a personagem central da minha vida, o agente responsável por cultivar pequenas porções de bem que resultam num destino melhor e mais feliz.