Observando pela janela, vi uma pipa colorida presa às folhas de um belo coqueiro. Observei que o vento colaborava com um balanço constante e vigoroso, mas, ainda assim, a pipa não se soltava.
Recordei minha infância e adolescência quando produzia as minhas pipas e me divertia com os amigos nos arredores da cidade. Ali, repleto de planos, sonhava com voos e manobras maravilhosas.
Olhar para cima e para bem longe era uma alegria e, ao fim da tarde, retornava para casa com a missão cumprida: “hoje fui longe, subi aos céus…!”
Em um dia de bastante vento, saí para cumprir mais uma missão de “empinador” de pipas. Soltei a fera até o último centímetro de linha, busquei um local para sentar e fiquei observando seus movimentos. Seu corpo principal triangular e a rabiola realizavam um lindo balé nas alturas – perfeito.
Mas o vento forte levou minha pipa, que acabou presa na copa de uma imensa árvore! Olhei para aquela cena e me despedi da minha última criação. Voltei para casa pensando onde havia falhado e como poderia planejar o próximo voo sideral. Não me senti abatido; passados alguns dias, lá estava eu de novo, empinando minhas novas pipas pelos céus da cidade.
Hoje, penso naquela pipa enganchada na árvore como um obstáculo que não pôde seguir seu caminho e reflito sobre a criança que fui e o adulto que busco ser.
Projetos podem, diante de dificuldades, ficar parados no tempo por falta de constância, empenho e decisão. Aquele garoto, que não desistia de suas pipas e mantinha seus planos, não desanimava e sempre buscava novas maneiras de superar as dificuldades em suas brincadeiras. No entanto, já adulto, diante dos desafios que a vida apresenta, já não se posicionava perante eles como a criança que fora, passando a adiar muitas questões da vida familiar, pessoal e profissional que exigiam sua ação imediata.
Aquela criança não fraquejava, não desistia das suas diversões e estava sempre pronta para encarar novos desafios.
O que aconteceu para que eu mudasse com o passar do tempo?
Por que, às vezes, me faltam a disciplina, a obediência e a paciência necessárias para cumprir meus propósitos? Adiar ou deixar de realizar o que precisa ser feito não é bom para ninguém!
Com a Logosofia, tenho aprendido que
se para empreender coisas pequenas faz falta uma certa preparação, é lógico que esta seja também exigida para as coisas grandes e de inestimável importância. É necessário, por conseguinte, preparar as condições pessoais e submeter o temperamento às provas da paciência, da constância, da disciplina e da obediência, se na verdade se quer triunfar, decidida e valentemente, na cruzada de aperfeiçoamento que cada um, por escolha própria e livre deliberação, se proponha a realizar. (Coletânea da Revista Logosofia Tomo III, p. 59, §3º)
Da confecção de uma pipa às obrigações do dia a dia, ficou para mim a importância de não abdicar dos meus planos e de manter sempre a constância necessária até a concretização de projetos que promovam o bem para a minha própria vida.
