Desde muito pequena, recordo de ter um sentimento intenso e quase inexplicável dentro de mim: a vontade de fazer o bem. Era como uma luz suave que aquecia meu coração e me fazia querer ajudar os outros, mesmo sem entender exatamente por quê. Minha aspiração interna era simples: que uma luz maior guiasse meus passos para que eu jamais me afastasse do bem, e que minha vida pudesse ser útil ao propósito maior da existência.
Hoje, após uma longa caminhada de vida, compreendo que esse sentimento de querer fazer o bem é a expressão da Lei da Caridade, uma lei universal que nasce do mais alto da Criação e se acende no coração humano como um chamado silencioso.
Com o estudo logosófico, pude compreender que a caridade não é apenas dar algo, vai além, mas é antes de tudo dar-se. É irradiar o bem recebido, é ensinar pelo exemplo. É permitir que tudo o que tocou meu espírito também alcance outros seres. Pois aquilo que me ajudou a ser melhor – um gesto, uma palavra, um ensinamento – não pode ficar guardado em mim; precisa seguir adiante, para que outros também vivam o bem que um dia chegou até mim.
Quantos bens tenho recebido ao longo da vida! Hoje compreendo que, se não forem repartidos, se não forem semeados nos campos internos dos semelhantes, acabam se perdendo, como se a felicidade se dissolvesse no esquecimento. O bem é movimento, é corrente viva, é elo que liga um coração ao outro. Quando praticada com inteligência e consciência, a caridade não apenas alivia: ela desperta.
Aprendi também que nem todo bem é, de fato, um bem. O anelo de ajudar pode, às vezes, ser invadido por pensamentos que geram dependência, egoísmo, controle ou ingratidão. Por isso, a Logosofia ensina que a caridade deve ser feita com lucidez, inteligência, consciência, com piedade sábia. Para mim, ser caridosa é irradiar o que tenho de mais elevado: a compreensão, a palavra clara e leal, o silêncio respeitoso, o anelo sincero de que o outro desperte para sua realidade interna, encontre paz e se reconcilie com sua própria essência.
Hoje compreendo que a caridade é uma ponte que liga o humano ao divino. É o que me torna participante de uma corrente de bem que vem de Deus e retorna a Ele. Nessa corrente, a bondade nunca se perde; apenas muda de direção.