Para quem já se dedicou a refletir e investigar sobre os aspectos mais elevados de sua própria existência, a referência a diferentes vidas pode ser algo natural. Entretanto, para quem ainda não o fez, e especialmente para o jovem, isso pode despertar uma série de perguntas: “Afinal, a vida que tenho não é única? O que significa viver diferentes vidas? E, ainda, como equilibrá-las?”
Cada um de nós, em termos biológicos, tem uma única vida. Porém, as possibilidades humanas – como a de aprender e de estabelecer vínculos com os demais – levam-nos a reconhecer que, dentro de uma mesma vida física, existem diversas vidas que se entrelaçam ao longo do tempo.
Temos, por exemplo, a vida de filho, de irmão, de estudante, a vida profissional, de esposo, de pai, a vida dedicada a cada amigo, à prática de atividade física, a um hobby ou a um interesse específico.
Em idade escolar, o adolescente que, em algum momento, deixa de atender às demandas da vida de estudante para se dedicar a outras atividades acaba sentindo os efeitos dessa escolha. A consequência é o prejuízo no desempenho acadêmico, a necessidade de passar pela recuperação escolar ou, até mesmo, a reprovação, exigindo a repetição do ano letivo. Na juventude, muitos desafios surgem na conciliação do tempo e da energia dedicados às amizades, ao namoro, ao estudo e ao trabalho.
Três elementos-chave:
Falhamos não por falta de esforço para atender a todas as vidas. Podemos ter muita disposição, mas, muitas vezes, nos faltam os conhecimentos essenciais para isso. Tenho aprendido muito com a Logosofia e vou destacar três pontos a respeito disso:
O primeiro deles é deixar de fazer o que não deveríamos fazer. Quantas vezes me vejo fazendo algo que apenas me faz gastar tempo e energia? Certamente, todos já vivemos momentos – minutos, horas, dias – que, ao olharmos para trás, nos dão a sensação de que nada positivo resultou deles. Há também aqueles momentos que pareciam ser de descanso, mas que, no final, não repõem as energias e parecem nos deixar ainda mais cansados. Tenho aprendido a identificar esses momentos e a evitá-los.
O segundo é fazer as coisas certas nas horas certas. Se tenho um problema profissional importante, devo cuidar dele no momento de trabalho. Enquanto estiver com minha família, a busca por sua solução deve ficar suspensa, sem ocupar minha atenção. O mesmo vale para outras situações em que os propósitos que estabeleci devem aguardar o momento certo para receber minha dedicação.
O terceiro ponto é aprender a me tornar credor e não devedor. Como fazer isso? A cada vida, no momento de me dedicar a ela, oferecer o que tenho de melhor e, sempre que possível, adiantar-me ao tempo. Essa é uma chave que favorece o equilíbrio, especialmente diante dos imprevistos. Se, por exemplo, surgir a oportunidade de me encontrar com um amigo que há muito não vejo e, para isso, eu precisar usar um tempo programado para o estudo, será mais fácil manter o equilíbrio se o estudo já estiver adiantado! E como seria mais difícil se eu já estivesse devendo a mim mesmo a realização desse estudo.
Tudo isso parece simples, mas talvez não seja fácil de realizar. Uma grande contribuição que a Logosofia me tem dado é a possibilidade de conhecer as causas que me levam a agir de uma forma ou de outra e, assim, ter domínio dos elementos que me permitem deixar de fazer o que não devo, fazer as coisas certas e ser credor em cada uma das vidas.
A causa está na mente e, mais precisamente, nos pensamentos que a habitam, que determinam minhas ações.
O estudante de Logosofia começa por ordenar sua vida pondo ordem, primeiro, em sua mente. Não pode haver ordem onde não há disciplina. Portanto, impõe-se uma rigorosa seleção dos pensamentos que frequentam a mente ou se acomodaram nela.
Uma outra vida
Mas será que equilibrar com acerto essas vidas, visíveis aos olhos físicos e muitas vezes voltadas aos aspectos materiais ou utilitários da vida, é suficiente? Será suficiente para vivermos confiantes no que somos, confiantes no futuro, seguros de estar aproveitando essa oportunidade que é a vida – vida que engloba tantas outras vidas – da melhor forma possível?
A Logosofia me apresentou outra vida. Uma vida que, embora não seja imediatamente visível aos olhos físicos, é tão real quanto as demais: a vida espiritual. Começo a adentrar nessa vida olhando para mim mesmo e identificando, por exemplo, os pensamentos em minha mente – como mencionei anteriormente.
Pensamentos, sentimentos, os mecanismos da minha própria psicologia, a vontade, a consciência…. Esses são os elementos que constituem essa vida e que posso ir conhecendo, até chegar ao conhecimento do meu ser verdadeiro, da minha individualidade.
A atenção às duas vidas – a material e a espiritual – deve ser paralela, evitando a tendência geral de desenvolver em excesso a parte material em prejuízo da espiritual, que chega a ser desconhecida por muitos.
De acordo com o que venho lhe dizendo, não favoreça nunca em excesso o desenvolvimento da vida material, pois você sabe que dessa maneira a espiritual se limita. A atenção a ambas deve ser paralela.
Com o estudo e a prática dos conhecimentos logosóficos, tenho conseguido equilibrar melhor a atenção que dou a essas vidas e o jeito como as desenvolvo. Conhecer e cuidar da vida espiritual, sabendo usar meus recursos interno, me permite ter mais equilíbrio em todas as vidas que eu vivo.
Sei que, para ter confiança no futuro e segurança do bom uso que tenho feito da minha vida, não basta ser só um melhor profissional, estudante, pai ou amigo. Preciso ser melhor em tudo e fazer com que todas essas vidas sejam uma unidade, favorecendo o desenvolvimento do meu verdadeiro ser.
Ao jovem que ainda não refletiu sobre tudo isso, fica o convite para que o faça e avalie se a busca pelo conhecimento que traz equilíbrio e confiança não é, na verdade, um verdadeiro presente que cada um pode dar a si mesmo hoje, com grandes repercussões para o próprio futuro.