Hoje, posso dizer que sim. Porém, como nem sempre foi assim, neste momento seguirei o conselho de um professor que tive na faculdade de Medicina, que dizia que, diante de qualquer pergunta, a resposta deveria começar com “depende”.
Depende do quê? Se Deus for um homem barbudo, sentado em uma nuvem, ou for alguma coisa que a mente humana ainda não consegue entender, ou ainda o famoso milagre, a resposta é: “não, não existe”.
Por que não? Porque a própria lógica o impede. O primeiro exemplo, do homem barbudo, nunca foi comprovado por ninguém e também foge à lógica que o Criador de todo o universo se limitasse a “tomar conta” de um planeta. O outro exemplo mencionado desobedece ao princípio científico de que muito do considerado previamente como milagre foi compreendido, posteriormente, pelo ser humano, e pelo fato de que exceções às regras do universo constituiriam-se em um grande risco para todo o cosmo.
Um dia me foi apresentado o seguinte: “E se Deus for a causa primeira, o mecanismo que rege todo o universo?” Pareceu-me algo mais plausível. Mas algo em mim dizia que Deus não poderia ser esse mecanismo, pois isso seria pouco, Deus deveria ser algo mais, que fugisse à lógica, à razão. Ao mesmo tempo, como pensava frente ao milagre, sempre neguei que algo pudesse fugir à lógica e à razão, criando um “nó” que impossibilitava qualquer progressão na investigação e compreensão desse tema.
Percebi que tentar adjetivar Deus com qualquer palavra desviava a investigação para as falsas imagens criadas pelos homens. Percebi que era preciso higienizar minha mente de tudo aquilo que achava que sabia para buscar aquilo que ainda desconhecia —, ressalvando aqui: com a mente aberta.
Mas, afinal, é possível comprovar a existência de Deus? Ou é algo que é preciso acreditar e ponto? Apesar de muitos se satisfazerem com a crença, eu sentia a necessidade de experimentar a segurança diante de sua existência ou não, fato que ocorre, apenas, por meio da comprovação.
Algo muito animador foi descobrir que essa comprovação se dá por meio do conhecimento; mas não o ministrado na universidade: é um conhecimento diferente, capaz de transcender o físico e que permite eliminar toda a dúvida. Nisso surgiu outra questão: como saber que não estarei me enganando?
O conhecimento é produto da ciência, e toda ciência pressupõe um método. Era preciso,
portanto, seguir um método científico de estudo e experimentação que permitiria guiar e analisar todos os experimentos partindo de mim mesmo em busca do grande enigma humano. Um princípio científico é o da reprodutibilidade de resultados. Isso significa que sou capaz de obter resultados semelhantes usando os mesmos processos – uma vez dominados – e acompanhar seu desenvolvimento conscientemente, sabendo do que ocorre em cada passo. Esse princípio também indica que outros também possam chegar aos mesmos resultados seguindo processos semelhantes. Esse fator foi permitindo sentir-me seguro de que avançava em minhas buscas.
Há também princípios lógicos, como o fato de toda criação possuir um criador. O computador no qual escrevo este texto não surgiu da combinação aleatória de átomos, mas existiu primeiro na mente de alguém. O mesmo se aplica aos carros que dirigimos, às residências que construímos e qualquer outro aparato criado pelo ser humano. Analogamente, não poderíamos ver o universo como uma criação que demandaria naturalmente um Criador?
É interessante o fato de que todas as culturas que existiram, até hoje, terem buscado a origem, a causa da existência do ser humano. Não é algo de apenas um grupo. É comum a todos os seres humanos, tanto aos que buscam quanto aos que dizem não buscar e esperam que “esse Deus” se prove a eles. Isso já indicaria que há algo no ser humano que o move para além do físico, do tubo de ensaio? O que é isso que me movimentava – e movimenta o ser humano – na busca por essas respostas?
É possível deduzir que há algo em cada um que não é físico, uma energia viva que nos move, que nos faz sentir, pensar, emocionar, perguntar sobre aquilo que também não é físico. Que parte é essa? Descobri que no espírito humano está uma das chaves para se comprovar a existência de Deus.
Quando cada um de meus dois filhos nasceu, experimentei uma sensação sublime, algo muito grande para ser colocado em palavras. Recordo de me ter perguntado: por que o ser humano é capaz de experimentar tamanha emoção? Essa sensação foi plasmando-se, com a convivência, em um amor que não imaginava ser capaz de existir no coração humano e que vem sustentando a espécie humana há milênios.
Essa não é uma reação instintiva para proteger a prole e garantir a sobrevivência da espécie. Por mais que possa existir esse zelo, ele não faria com que os pais, seja qual for a geração, esforçassem-se para que seus filhos fossem mais felizes do que eles mesmos foram. Isso não é físico; vai além. Da mesma forma como surge esse amor aos filhos, o amor aos pais também muda, pois passei a entender melhor o que sentem por mim.
Despertar para essa realidade permite enxergar as diversas manifestações do amor que anima a Criação no dia a dia. Pode ser visto nas manifestações de amor verdadeiro, na bondade que existe no coração humano, no querer o bem aos demais, naqueles que dedicam suas vidas a obras que beneficiam o gênero humano, e em várias outras formas que basta procurar, com as lentes
corretas, para enxergar.
No fundo de toda a inquietação que instiga o ser humano a saber mais, está a busca pelo Criador. Empreitada realizável quando se limpa a mente das aderências que fecham o entendimento e abrem-se suas portas para o conhecimento transcendente que permitirá, de pouco em pouco, partindo de si mesmo, conhecê-Lo e identificar-se com Ele, transformando o destino do ser humano e da humanidade, de um horizonte nublado e duvidoso em um céu claro e limpo.
Hudson Lopes Abreu 
José Renato Camargos 
Carlos Henrique dos Santos Nunes 
Dênio Pereira Duarte 
