Quando enfocamos temas de capital importância, nos quais o homem, o mundo e a própria humanidade são as principais figura que se movem no cenário que nos incita à crítica, sempre é necessário levar muito em conta detalhes os mais insignificantes, por conterem, muitas vezes, indícios eloquentes de causas que se ocultam entre as dobras de mil circunstâncias que, na forma de um espesso emaranhado, impedem o acesso a elas.
Tem-se visto, por exemplo, que, durante o período da aparente paz vivida desde o término da guerra mundial de 1914 até a deflagração da atual, foram surgindo problemas que, embora a princípio não tenham chamado maior atenção, ao crescer em dimensão se transformaram em grandes problemas, que preocuparam seriamente o juízo de todos, tais como o desemprego, o isolamento, a indiferença internacional e as rivalidades cada vez mais acentuadas a propósito das zonas de influência política e comercial. Todas essas questões, ao não serem solucionadas no devido tempo, foram cada vez mais perturbando a ordem, a harmonia e a estabilidade social e econômica dos povos. Daí que tais questões, ao chegar ao máximo de volume tolerável, tenham dado motivo à consideração da guerra como único meio para solucioná-las. O lamentável é que, nessa destruição que a guerra traz consigo, contemplada na hora atual e em todas as épocas, devam perecer milhões de seres humanos e destruírem-se tantas cidades e tantos esforços que foram orgulho da humanidade.
Será necessário, pois, encarar os problemas que irão surgindo neste pós-guerra, tendo muito presente a experiência passada e buscando novas fórmulas para sua eficaz solução.
Na mente humana, e não em outra parte, deverão ser encontradas as chaves que permitam chegar a elevadas e satisfatórias soluções, já que na mente humana se gesta tudo o que convém à vida e ao progresso da humanidade. E, sendo assim, nada poderá ser mais auspicioso, pelos imponderáveis resultados que permitirá obter, do que propiciar e estimular em todas as suas formas a livre iniciativa, ou seja, a livre expressão do pensamento individual orientado para esse futuro que todos, sem exceção, anelam seja melhor e mais feliz.
A preocupação de cada um em tal sentido deverá constituir um dever aceito espontaneamente por todos; mais ainda, essa aspiração particular de contribuir para a edificação de um mundo melhor terá de converter-se num verdadeiro culto à humanidade, culto que, a um só tempo, se transformará em compreensão dos problemas e necessidades mútuas, em todas as ordens da vida. Porém, para evitar que esse concurso, que poderia ser oferecido por tantos seres capazes, tantas inteligências cultivadas, seja desaproveitado – já que esse esforço se perde numa grande porcentagem, por não chegar oportunamente ao conhecimento dos homens que têm em suas mãos a responsabilidade de estabelecer as novas normas e a ordem que imperará ao terminar a atual contenda –, será de suma conveniência e importância que se levem em conta as sugestões que assinalamos, a fim de poder encontrar a maneira de utilizar a contribuição de cada ser, permitindo-lhe, por alguma via segura, fazer chegar a quem corresponda suas ideias e iniciativas, expressadas com a maior clareza e com manifesta confiança na bondade delas.
De qualquer forma, tudo o que se faça para que as mentes de todos tenham uma atividade constante haverá de contribuir, em muito, para a manutenção de uma paz estável; e, a este respeito, pensamos que é muito o que se pode fazer em benefício do gênero humano. Por exemplo, essa atividade mental a que aludimos poderia ser grandemente favorecida, e com resultados muito felizes, se a futura Sociedade das Nações, que está para ser instituída, adotasse como norma, para assegurar o êxito de suas altas gestões, a realização de pesquisas mundiais de opinião pública sobre cada problema que, por sua natureza, ela julgasse conveniente ter em conta. Classificados os problemas por natureza e importância, poderiam eles ser conhecidos mundialmente por transmissões radiotelefônicas e publicações na imprensa em geral. Em seguida à sua exposição viria a consulta, cuja resposta todos poderiam fazer chegar ao seio dessa alta instituição mundial, na forma e pelos meios que fossem estabelecidos.
Pensamos, e isso está muito vivo em nós ao sugerirmos esta iniciativa, que, se para enfrentar uma guerra tantos milhões de homens jovens se incorporam nos exércitos que vão lutar, e ainda se lança mão do concurso de quantos ofereçam seus serviços, para enfrentar o pós- -guerra, cuja transcendência é maior, deverá ser aceita a colaboração de todos, já que também a tarefa do futuro requer grandes e continuados esforços. Isso será, outrossim, um exemplo de verdadeira democracia, que todos os Estados do mundo poderiam levar em consideração. Por outro lado, não deixa de constituir uma novidade, que promoverá, em todos os seres humanos e em todos os sentidos, o reconhecimento de uma efetiva confiança no porvir do mundo.
E quem poderia duvidar da atividade mental e do entusiasmo que isso suscitaria, bem assim de seus efeitos eminentemente construtivos e benéficos para o ânimo e o sentir da humanidade? Tampouco seria possível duvidar da expectativa que em todas as partes existiria de conhecer, em sua devida oportunidade, o resultado da pesquisa que fosse feita para cada assunto ou problema. E isto, naturalmente, evitaria ao mesmo tempo que muitos espíritos, hoje atribulados e sujeitos a infinitas flutuações, fossem instrumentos de pensamentos ou ideias de outra espécie e natureza, que, em geral, acabam aumentando o volume das preocupações, o que será devidamente evitado ao se adotar o sistema da pesquisa de opinião, além de ficar consideravelmente diminuído.
E, para sublinhar tudo quanto expusemos a respeito deste assunto, adicionaremos que nada pode ser mais digno e enaltecedor para a família humana que o concurso desinteressado e leal de cada um dos membros que a integram.
Os que leiam isto e depois sigam com atenção a marcha das deliberações e alternativas que se promoverão ali, na nova Sociedade das Nações, poderão julgar o valor e a oportunidade de nossas sugestões, interpretando-as, naturalmente, como expressão pura e sincera de nosso empenho em oferecer o concurso de nossas ideias e iniciativas.