Os sentimentos elevados e a família humana
Como o cultivo dos sentimentos elevados em família pode ser estendido à solução dos problemas humanos? Luciana Janovitz conta sua perspectiva sobre essa questão, com base em uma experiência prática.
Dizem que quando nasce um filho, nasce também uma mãe.
Não sei se é possível afirmar que o amor pelos filhos nasce em um mesmo momento para todas as mulheres, mas o fato é que, uma vez que se forma, esse mesmo sentimento nos faz querer ser a melhor mãe que podemos para nossos filhos; quase que, diria, uma mãe ideal!
A Logosofia conceitua o amor não apenas como um sentimento que se sente, mas como uma força que pode nos mover a buscar a nossa melhor parte para oferecer ao outro, que nos move a trabalhar em silêncio pelo bem e para o bem, que nos move a ser melhor…
Mas como se vai formando, dentro de cada uma de nós, a imagem dessa mãe ideal? Da observação de nossas próprias mães? De nossas avós? De outras mães que conhecemos e que se tornaram referência por suas atitudes? Das personagens maternas de filmes e livros?
No início da minha gestação, eu tinha uma imagem da mãe que eu queria ser e parte dela incluía ter um parto normal e poder amamentar.
Eu me preparei muito para viver a experiência, conforme a imagem com que eu tanto me identificava, mas, apesar do meu esforço, não foi possível.
A frustração diante dos planos fez com que eu me sentisse culpada e muito distante da imagem que eu havia plasmado para mim como ideal.
Por outro lado, ver meu filho crescer saudável me fazia sentir uma gratidão imensa por tudo o que favorecia seu crescimento. Essa ambiguidade de sentimentos me fazia refletir:
“será possível eu sofrer tanto por causa do tipo de leite e de parto, se meu filho está tão bem? Afinal de contas, onde será que está a imagem ideal da mãe?”
Movida em parte por essas reflexões e em parte pela necessidade de preencher o vazio de uma imagem que não se sustentava mais com a realidade que se apresentava, comecei a sentir que até então tinha buscado a imagem da mãe que queria ser mas no lugar errado, que o tipo de leite ou de parto eram insuficientes, e que me falavam menos ainda sobre o amor que eu sentia por meu filho.
Na mesma época, ao ler o livro O Senhor de Sándara, eu me deparei com o trecho em que o protagonista relata que perdeu sua mãe na infância e que sentiu falta desse amor por toda sua vida.
Isso o fez buscar a imagem de sua mãe por todas as partes, o que o levou a pensar que nem tudo está na forma física das pessoas, e que deveria aprofundar ainda mais a busca pela imagem da sua mãe na imensidão dos mundos.
Foi quando ele encontrou sua mãe, não mais em sua figura física, mas na representação simbólica e na excelência de sua função espiritual, mesclando a alma da sua mãe com a de todas as mães.
Ao ler esse trecho, senti uma profunda emoção e me perguntei se não é por esse motivo que nos identificamos tanto com o sentir de outras mães, porque talvez, em todas elas, esteja manifestada essa excelência de sua função espiritual, e isso nos faz sentir uma só.
Essas reflexões me fizeram sair da perspectiva limitada que eu tinha e entender que o amor que eu sinto me faz buscar o melhor de mim para oferecer a meu filho, como também que posso buscar esse melhor não somente nas questões físicas do cuidado, mas especialmente nessa função espiritual da mãe, que não está neste mundo físico, e sim no mundo metafísico…
Essa foi apenas a primeira das muitas descobertas que vieram depois, porque ela jogou luz num caminho que deveria percorrer como mãe — não mais para fora, mas agora para dentro de mim mesma, buscando, no conhecimento de mim mesma e no aperfeiçoamento das minhas qualidades, as chaves para o descobrimento dessa função espiritual.