Primeira vacina dos filhos, ainda bebês. Prematuros, com baixo peso. O tamanho da agulha parecia desproporcional para aqueles corpinhos tão frágeis. Dava vontade de pedir para receber a injeção no lugar deles. Mas como adquirir a imunidade necessária para a vida? Foi a reação do pai de primeira, única e intensa viagem, diante do aparente sofrimento dos filhos.

Desde que soubemos da gravidez de trigêmeos da minha esposa, tentamos nos preparar para os desafios. A primeira preocupação seria prolongar ao máximo a gestação para, na melhor das hipóteses, reduzir o tempo de UTI neonatal até alcançarem as condições para irem para casa. O parto não foi fácil. O espaço reduzido para as manobras dificultava as tentativas do médico de desfazer algumas voltas do cordão umbilical ao redor do pescoço do primeiro a nascer. Um deles, com 1,5kg de peso, passou por um procedimento que resultou em um choro de dor que era ouvido de longe. No bercinho da UTI, tentava transmitir a eles toda a energia positiva, fruto de um amor que só estava crescendo. Tocava-lhes e desejava com todas as minhas forças que fossem valentes e se desenvolvessem bem para podermos ir para casa. Referia-me a eles como “meus guerreirinhos”. Tiveram alta do hospital em um dia frio e com muito vento. Para chegarmos em casa, enfrentamos o trânsito intenso de uma capital no horário de pico. Era só o começo.

Cresceram. A adolescência bate às portas. A internet apresenta-lhes o mundo. As pesquisas indicam aumento significativo de casos de depressão e ansiedade na infância e na adolescência, relacionados possivelmente à fragilidade de crianças e jovens diante dos problemas da vida. Os pais percebem que os tombos podem ser mais preocupantes do que os joelhos ralados da infância. Então, como preparar os filhos para os desafios e problemas reais da vida? Como fortalecer a vontade em um contexto no qual se realiza um desejo com um clique e, ao mesmo tempo, não os privar do conhecimento tecnológico necessário para a vida? Em um momento desafiador, como o da pandemia e do isolamento social, como os acolher e os fortalecer?

Desde muito novinhos, eu os convido para alguma atividade doméstica, principalmente nos finais de semana. Pintamos juntos, por exemplo, alguns vasos da horta da pequena varanda do apartamento. Além disso, sempre em companhia de um ou mais filhos, eu e minha esposa temos o propósito de envolvê-los nas etapas de uma refeição: desde a colheita de algum alimento cultivado por nós e/ou comprado, passando pelo preparo, a refeição em si, até lavar as louças. Esta é uma das estratégias para fazê-los perceber o fruto do esforço, resultando em uma casa bonita e em momentos que agradam tanto ao físico quanto ao espírito. Este vínculo sensível tem sido plantado desde a infância, pois sabemos que será importante nas fases mais desafiadoras. Assim, vão percebendo a relação entre a causa e o efeito das atitudes de cada um. Outro benefício é a capacitação para as tarefas do lar. Dificilmente terão empregados domésticos, como já ocorre em muitos países.

E ainda, como será o mercado de trabalho quando estiverem na época de se inserirem nele? Há estimativas de que os adolescentes de hoje terão muitas carreiras, não apenas empregos diferentes, já que as mudanças tecnológicas serão constantes, demandando muita disciplina e adaptação — tanto nos conteúdos diversificados quanto nas modalidades de trabalho.

Tenho procurado aprender muito com o exemplo dos demais. Marcou-me a leitura da autobiografia de um advogado de reconhecido sucesso, que relata a luta de ter nascido sem as mãos e a importância de usar nossos recursos como criatividade e inteligência para sermos vencedores e não vencidos. Também recordo com nitidez a atuação da mãe de um amigo quando, aos 11 anos, eu e outro colega de turma passamos um final de semana na casa deles. Após o almoço, fomos brincar e brincamos até que a dona da casa chamou o filho para cumprir sua tarefa de guardar as louças. As irmãs já tinham lavado. Fiquei um pouco surpreso. Pensei: “Mas até no dia em que os amigos estão aqui!”. Em poucos minutos ele cumpriu a obrigação que a mãe, certamente, faria em menos tempo. Alguns anos depois, percebi que com aquela atitude ela estava desenvolvendo a vontade e a responsabilidade do filho. Foi algo que me marcou, e concluí que somos observados e podemos ajudar não apenas aos nossos filhos, mas todas as pessoas com as quais convivemos.

Enfim, não há resposta pronta para essa tarefa de preparar os filhos para os desafios e problemas da vida. Entretanto, como não temos todas as respostas, nem estaremos com eles o tempo todo, precisamos deixar que tomem as vacinas da vida real e, aos poucos, criem imunidade — uma das principais é saber pensar.