Lembro que na minha infância gostava de brincar, de me divertir e viver uma vida cheia de jogos e bons momentos. Porém, com meus amigos, gostava também de conversar sobre a vida e o nosso futuro. De algumas coisas não tínhamos dúvida: além de projetarmos ficar ricos, todos iríamos casar e ter filhos.

Na adolescência, quando conversava com meus amigos sobre o futuro, lembro que já não enxergávamos os anos vindouros com a mesma ilusão da infância, porém os ideais de família continuavam presentes —apesar das incertezas e inseguranças com o estado do mundo.

Tenho visto que, nos jovens de hoje, aqueles ideais de casar e ter filhos, que formaram parte de tantas gerações, não parecem estar presentes com a mesma intensidade do passado.

O que aconteceu?

Por que tem se operado essa mudança?

Podemos qualificar isso como parte de um avanço ou de um retrocesso?

O pensamento de ser pai ou de ser mãe é inato ao ser humano. Podemos assegurar que está impresso na célula humana como um grande sentimento que obedece, em parte, a uma necessidade de conservação da nossa espécie, mas também representa uma oportunidade transcendente para cada ser humano.

O mundo moderno tem exigido do homem e da mulher atuações cada vez mais absorventes no campo profissional e social que têm grande repercussão no campo familiar, colocando os filhos como as principais vítimas. Quando minha filha estava com cinco anos, ela adoeceu e eu fiquei em casa para cuidar dela. Naquele período, eu alternava as tarefas da empresa com as tarefas que ela demandava, como comida, higiene, remédios etc. Num certo momento, ela me falou que estava triste pelo trabalho que me estava dando. Desculpou-se e até chegou a me dizer que, vendo minha situação, não sabia se ela iria querer ter filhos quando fosse adulta.

Nesse momento, observando meu estado de agitação, entendi que estava passando uma imagem negativa para minha filha. Nesse instante, eu a abracei e lhe falei como ela era importante para mim. Disse-lhe que ser pai era a melhor das tarefas que eu tinha na vida, que ela me fazia muito feliz e ela não deveria deixar de viver a alegria de ser mãe e esposa algum dia.

Como falei antes, ser pai ou ser mãe é uma oportunidade transcendente que deve ser encarada com a responsabilidade e seriedade que representa, transmitindo conhecimentos de geração para geração, colocando na herança a oportunidade de evolução. Os relatos das histórias e lutas que viveram os antepassados causam especial interesse nas crianças, fazendo com que o sentimento de família se arraigue e se fortaleça, atuando desde a tenra idade como um princípio moral que elas levarão por toda a vida.

Os estudos logosóficos me têm permitido aprender que a experiência de ser pai é a oportunidade de cultivar valores como a paciência, o amor, a generosidade, a lealdade etc., em contraposição às condutas rudimentares presentes ainda no ser humano, tal como o egocentrismo, que traz impresso o germe da violência e do desentendimento entre os homens. Porém, como em todo trabalho, preciso capacitar-me e aprender a me corrigir, para depois poder fazer o mesmo com as minhas filhas.

A educação dos filhos é uma tarefa elevada e altruísta. Ter filhos é a oportunidade de estender nossa vida na deles, e deixar nossa marca através das gerações vindouras. Quanto mais conhecimentos e exemplos pudermos transmitir-lhes, mais estaremos presentes nas suas atuações de bem futuras, que conterão, em essência, parte de nossa vida — estejamos ou não fisicamente neste mundo.