Um dia fui homenageado e fiquei admirado ao ver os formandos em engenharia entrando no auditório. Mas são meninos!”, exclamei surpreso. Comentei com o professor ao meu lado e ele, mais idoso – havia sido meu professor – olhou para mim e, com ar de brincadeiradissepois é, alguns professores também…”. Certamente queria dizer que, sendo eu um professor, era ainda um menino para ele.  

Afinal, quando deixamos de ser alunos e passamos a ser professores?  

A reflexão foi interessante porque me levou à conclusão de que somos sempre, e ao mesmo tempo, alunos e professores, meninos e adultos, jovens e idosos. Entretanto, essa dualidade é apenas didática, visto que cada um de nós é apenas um. E quem é esse um? Quem é esse aluno-professor? 

Ele é esse ser íntimo com o qual solitariamente conversamos, trocamos ideias, avaliando nossas atitudes. 

É quem conhece nossos erros e acertos, corrigindo nossas provas mais importantes.

É quem sabe de nossos arrependimentos e dos esforços feitos para não errar. 

É ele, também, quem percebe e sente os momentos de felicidade, de alegria, quem se emociona com as boas ações e consegue apagar a chama da vaidade e moderar desejos. 

Fato é que a vida passa e com ela vai-se aprendendo. Quanto mais se aprende, mais coisas se pode ensinar e mais capacidade se tem para aprender. Parece um ciclo eterno. O idoso, mesmo em idade avançada, quando já tem muito para ensinar, ainda tem muito que aprender. Quando fala para nos responder, pode-se perceber na mirada longínqua de seu olhar que está ensinando, mas que também está aprendendo e nos dá a sensação de que continuará assim para sempre. 

Professor é, pois, a parte de nós que ensina, e aluno a parte que aprende. Porém, para ensinar há que saber e para saber há que aprender aquilo que vai ensinar. Já para aprender o que se vai ensinar, tem que haver um professor. E agora? Quem vai ensinar ao professor? 

Para ser professor é preciso primeiro ser bom aluno de uma grande mestra chamada Criação, ou seja, a própria natureza. Ela é a mestra e a aula mais importante de seu Criador. Ela o ensina para que possa ensinar depois ao aluno.  

O método pedagógico estampado nesta aula é o mais simples“dê o exemplo do que quer ensinar”. Para ilustrar, sou do tempo em que o professor dava aulas de jaleco branco, para proteger seu terno impecável do pó de giz. Havia uma distância, um degrau invisível, mistura de respeito e temor entre aquele que ensinava e aquele que aprendia. A mente parecia estar acima, muito acima, do coração.

Meus filhos já foram do tempo em que chamavam a professora de “tia”. Nesta época a mente já estava “nivelada” ao coração, sem medo da escola ou do professor. Aquela distância ou degrau havia diminuído.  

Agora é a época em que pais e professores se surpreendem com a falta de limites. Não conseguem mais domar a fera, a criança e o adolescente. Não sabem o que fazer, mas, mesmo sem saber, já diagnosticaram o erro ao exclamarem: “Está tudo ficando de cabeça para baixo!” 

Estamos todos de cabeça para baixo, isto é, o instinto acima do coração, que por sua vez está acima da mente. A professora “Criação, ao nos colocar de pédeu a primeira lição: colocou o cérebro (órgão do pensar) acima do coração (órgão de sentir) e dos órgãos de reprodução. Nessa hierarquia divina, a região do sentir ficou no meio. 

Ser professor é aprender e ensinar os exemplosdidáticos e sábios que se recebe da Criação. Vamos começar a ficar de pé?