Peixe ou filé? Torta de limão ou morango com chocolate? Vestido amarelo ou azul? Estes e outros dilemas eram muito comuns na minha infância e adolescência. Logo eu, que sempre me considerei uma pessoa livre dentro das tantas possibilidades que me eram apresentadas.
Adolescente, estimulei a minha faculdade de refletir sobre essas indecisões simples do dia a dia, mas que me geravam muito sofrimento a ponto de eu escolher inconscientemente ou pedir para que outro ser se posicionasse por mim. Isso me privava do uso da liberdade interna que eu pensava ter, pois me faltava conhecimento.
Os dilemas e a necessidade de tomar decisões foram se tornando cada vez mais frequentes e difíceis, já que, com o decorrer dos anos, foram surgindo questões que demandavam seriedade e impactavam significativamente a minha vida. As escolhas não mais se limitavam à decisão do prato principal, do sabor da sobremesa ou da cor da roupa. Acontece que, aquelas “pequenas” e, aparentemente, inofensivas manifestações de indecisão, haviam criado raízes na minha mente a ponto de eu me identificar com este pensamento, que já estava afetando negativamente a condução dos diversos campos da minha vida. Com essa experiência, comprovei a importância de estar atenta, inclusive às pequenas coisas que têm grande potencial de causar estragos.
Com o estudo logosófico, aprendi que a indecisão é um pensamento presente, no geral, em pessoas que não possuem convicções e critérios para fazer escolhas. Quem sou eu? Do que eu gosto? O que condiz com a minha modalidade, individualidade, com os meus gostos, pensar e sentir? Eu tinha poucas convicções e critérios internos nada claros.
A Logosofia possui conceitos de ordem transcendente que, quando experimentados, formam convicções que são motores impulsionadores da vontade e mantêm vivo o entusiasmo e a alegria.
Ao munir-me de convicções advindas do conhecimento e seguir o objetivo norteador da minha vida – evoluir e servir à humanidade – para definir propósitos menores afins, sou capaz de tomar decisões com mais segurança e firmeza. Transformo os processos de escolha em verdadeiros campos experimentais, nos quais observo, reflito, recordo, sinto e, por fim, decido, ao invés de simplesmente entregar as rédeas da minha vida ao acaso ou a outro ser.
Além disso, diante de possibilidades, eu me pergunto qual delas é o meu verdadeiro querer. Inicialmente, reflito sobre o esforço e a responsabilidade que acompanham cada escolha. Assim, afasto o falso e fraco querer e a propensão ao fácil e, se não for este o caso, preparo minhas forças de acordo com a realidade. Penso, ainda, se convém à minha sensibilidade e se adicionarei algo que me enriqueça espiritualmente, proporcionando-me mais felicidade. Excluindo todo engano e toda ilusão, busco manter com firmeza a decisão, rodeando-a com o mesmo respeito e valorização do momento da escolha.
Assim o autor da Logosofia ensina e, ao experimentar seus ensinamentos, sinto ser digna das minhas decisões.
Naturalmente, muitas escolhas foram feitas nos últimos anos, desde as mais simples até as que comprometem a vida familiar, acadêmica, pessoal e social. Nessas oportunidades, comprovei mais uma vez que o meu critério de escolha está intimamente relacionado aos conhecimentos, pensamentos e sentimentos que sustentam a minha razão.
Por exemplo, quando surgiu a oportunidade de me mudar de cidade, minha decisão foi baseada, principalmente, na importância do equilíbrio entre todos os campos da vida, e não na predominância da profissão sobre toda a vida, como comumente ocorre. Ao escolher entre um estágio e outra atividade acadêmica, recordei com muito respeito de um propósito que muito tem a ver com o que pretendo alcançar no futuro, afastando a opção que me desvia dele no momento. No âmbito pessoal e social, muitas foram as decisões baseadas na convicção de que o ser é uma sucessão de seres e, consequentemente, devo ser generosa com meu ser do futuro. Hoje, sou grata à Júlia do passado pela valentia de decidir conscientemente naquelas ocasiões.
O fortalecimento de convicções e critérios nos dá firmeza e segurança frente às escolhas. Inclusive, elas passam a ser feitas não só por necessidade, mas também por estímulo. Troco o temor pelo valor da mudança, do movimento, e atuo com a valentia de conhecer o ainda desconhecido.
A superação desse pensamento é gradual. Neste processo, tenho comprovado que a compreensão do verdadeiro sentido da vida favorece as escolhas. Assim, equipando-me com as ferramentas internas, eu mesma escolho por mim.