Desde criança, achava que eu era a dona da casa. Ainda muito nova, já tomava grandes e pequenas decisões que afetavam minha família: decidia o que comprar no supermercado, escolhia as roupas que meus irmãos deveriam usar, orientava as funcionárias que colaboravam na organização e limpeza da casa, e por aí vai. Ficava orgulhosa de ser assim, achava que era um valor tomar conta de tudo e de todos.

“Governar” minha casa e minha família me dava a sensação de estar no controle.

E minha própria vida?

Quem governava?

Os anos foram passando e aos poucos fui percebendo que essa característica não era tão boa assim… Com a Logosofia, tenho aprendido a conhecer os pensamentos que vivem em minha mente. São eles que incitam minhas ações, e acabam governando minha vida se não os conheço e controlo. Por trás da criança mandona que eu era, existia, sim, algo de bom, como a responsabilidade, a característica de liderança e a vontade de fazer o bem para minha família e outros seres queridos. Entretanto, descobri também alguns pensamentos inimigos, como o intrometimento.

Sobre o pensamento de intrometimento, o autor da Logosofia ensina: “Com evidente superestimação de si mesmo ou de sua eficácia, [o intrometido] supõe que um ou outro de seus conhecidos necessita de seu conselho para resolver ou superar dificuldades, e lá vai ele oferecê-lo, sem reparar que não lhe pediram tal coisa.”1¹ Essa característica me fazia achar que os outros precisavam de mim, que eu deveria tomar conta de todos para que conseguissem resolver suas dificuldades. Dessa forma, acabava tirando oportunidades dos demais, pois fazia por eles o que eles mesmos poderiam aprender a fazer, podendo assim adquirir novos conhecimentos.

Cuidando dos outros e esquecendo de mim

Investigando a fundo essa característica que apresentava na infância, comecei a perceber que ela também me impedia de cuidar da minha própria vida. Gastava tanto tempo e energia tomando conta dos demais, que não conseguia olhar para mim mesma. Isso afetou vários campos de minha vida. Quando entrava em conflito com alguém, tinha facilidade de ver os erros da pessoa, mas não enxergava minha parcela de culpa. Tinha vários conselhos para oferecer às minhas amigas sobre como solucionar seus problemas, mas não encontrava a causa dos meus.

Certa vez, recebi uma crítica de alguém querido em relação a uma conduta e fiquei muito incomodada, pois considerava que tinha um bom motivo para ter agido daquela forma. Ao tentar explicar-me, a pessoa foi logo me cortando, dizendo que não era para eu ficar justificando meus erros. Relatei o vivido a alguns amigos, agindo como se eu estivesse no controle da situação e da minha mente.

Somente mais tarde percebi que na verdade fui governada pelos pensamentos. Passei o dia todo remoendo o ocorrido e reagindo negativamente com quem fez a observação sobre mim. Pensamentos de crítica a essa pessoa dominaram minha mente e impediram que eu realizasse minhas tarefas com qualidade. Quando comecei a identificar esses pensamentos, pude ir serenando minha mente e percebi que a observação foi feita pensando em meu bem. Ainda que a forma não tenha sido a melhor, tinha certeza que a intenção foi a de me ajudar. Consegui perceber meu descontrole com a situação. Falei coisas que não deveria e perdi tempo dando o governo da minha vida para pensamentos negativos.

É muito bom observar que estou deixando de ser aquela criança que só sabia olhar para fora e conhecendo, aos poucos, o mundo que tenho dentro de mim. À medida que vou conhecendo meus pensamentos, adquiro maior controle sobre minhas próprias ações e passo a ter o verdadeiro governo da minha vida.

A Logosofia abre as portas do pequeno, porém vasto mundo interno – o paradoxo é aparente –, guiando o entendimento do homem para que descubra as riquezas nele acumuladas. Trata-se de um sonho de séculos, hoje convertido em realidade por obra destes conhecimentos que colocam a mente humana em frente de si mesma, para que se estude e se compreenda; para que saiba qual é a causa do drama que afligiu sua vida; e para que se inteire, de uma vez por todas, de como nascem, de onde vêm, como vivem, se movem, se multiplicam, reagem e morrem os pensamentos que ela abriga.”²