Quando criança, li um livro chamado O Palácio Japonês, de José Mauro de Vasconcelos. A imagem mais marcante deste livro foi a de uma passagem secreta de um jardim que dava passagem a uma outra realidade — deslumbrante e encantadora. Mais tarde, na adolescência, vi o filme O Jardim Secreto, no qual três crianças, explorando uma propriedade fria e aparentemente sem atrativos, descobrem um lugar fantástico, cheio de surpresas. Nos dois casos, o que mais me chamou a atenção foi o portal, a passagem.

O tempo passou, e já não sou mais criança nem adolescente. Visualizo hoje um portal diferente: entre o mundo físico e o metafísico. O mundo suprassensível sempre foi uma incógnita, daquelas para as quais não se encontra a resposta resolvendo um problema de matemática. Uma incógnita imaterial para a solução de problemas mentais, tormentos, angústias e todo o mal que possa se apoderar da mente de alguém.

Observo que as buscas por respostas para perguntas dessa natureza — ou seja, a natureza transcendente —, geralmente acontecem olhando para fora. Há quem faça uma viagem em forma de peregrinação a fim de encontrá-la, alguns optam por “aproveitar a vida”, outros buscam um sábio ou guru a quem possam confiar a direção de suas vidas, enquanto muitos — a grande maioria — entregam-se a crenças, em sistemas engenhosamente pensados para explicar o que poderia existir para além de nosso mundo físico.

Recentemente, li no livro Exegese Logosófica, de González Pecotche que

O homem deverá empenhar seus melhores esforços e energias em buscar-se a si mesmo. Saberá prevenir-se contra o engano das aparências para conhecer-se tal qual em realidade é. Encontrar-se-á na humildade de seu coração, na inocência de sua alma, na pureza de seu espírito, e daí com a mente limpa e resplandecente, experimentará as excelências da vida superior.

Começo a compreender que o portal para conhecer o mundo metafísico encontra-se muito bem guardado, sem acesso fácil ou caminho definido até ele, mas existe — e está dentro de mim. Exigirá de cada um, individualmente, “empenhar seus melhores esforços e energias” para encontrá-lo. Começo a perceber, também, que as experiências de vida e as características que delineiam a figura de cada ser humano, suas capacidades e idiossincrasias, o levarão ao encontro da porta de entrada deste “jardim secreto” — se sua busca for deveras sincera e leal, num caminhar para o bem, por meio unicamente do uso de sua inteligência e de sua capacidade perceptiva e sensível.

O que vejo quando olho para dentro de mim mesma? Uma pergunta simples que pode oferecer como resposta a porta única para uma realidade rica, cheia de descobertas a cada novo olhar e a cada novo aprender.