Esperamos com frequência que algo aconteça para agirmos, e, com isso, as oportunidades passam ao nosso lado e não as percebemos.

As coisas não acontecem por acaso, tudo tem uma causa. Uma espera infrutífera revela a perda irreparável de um tempo e um resultado nulo. E sabemos muito bem que as coisas acontecem quando lutamos por elas, nos esforçamos e fazemos com que aconteçam. Depois, ao vermos os resultados, ficamos felizes com o nosso desempenho e entusiasmados com as novas realizações.

Os ensinamentos que a Ciência Logosófica nos oferece e têm como objetivo a evolução do ser humano e começam mostrando que temos deficiências psicológicas que precisam dar lugar às nossas virtudes; para que isso aconteça, eu tenho me empenhado em conhecê-las, combatê-las e eliminá-las.

Desde o momento em que iniciei o meu processo de evolução consciente, descobri que possuía dentro de mim um potencial mental e sensível que precisava ser usado para eliminar essas deficiências.

Esse grande potencial pode também aumentar e diversificar a quantidade de minhas atividades e, ainda, possibilitar que eu viva mais no meu mundo interno, onde os pensamentos de natureza superior e ideias criativas estão à espera de que eu me decida a incorporá-los, definitivamente, à minha vida.

Por melhor formação acadêmica que tenhamos, ainda podemos e devemos adquirir mais conhecimentos de como conduzir a vida, de como controlar os movimentos da mente — que exercem grande influência sobre nossas ações — e de como pensar e realizar um processo de evolução consciente para nos conhecermos e aperfeiçoarmos aquilo que descobrimos que precisa ser aperfeiçoado.

Os objetivos dos estabelecimentos de ensino existentes foram muito importantes para a minha educação e formação profissional, mas eu sentia que precisava de conhecimentos que me proporcionassem uma formação voltada para o meu interno, e, quando fui apresentado à Ciência Logosófica, comecei a descobrir e a praticar esses conhecimentos.

A sabedoria do esperar

Durante muito tempo eu enfrentei a vida sem esse preparo e vivi a pressão das exigências dos ambientes em que atuava. Formara um pobre conceito de mim mesmo, a ponto de, em certos momentos, acreditar ser mais do que eu era. E essa falsa crença impedia o meu desenvolvimento. Tive que esperar, pacientemente, pelo resultado da aplicação dos ensinamentos logosóficos para corrigir esse conceito equivocado, mas, para a minha alegria, a espera foi produtiva.

Hoje estou praticando algo que aprendi com a ciência logosófica: enquanto espero, devo fazer algo para encurtar o tempo dessa espera. Quando isso ficou claro para o meu entendimento, passei a utilizar melhor esse tempo precioso que a espera oferece para poder pensar.

Sempre que penso, ganho tempo e reduzo a espera, e, muitas vezes, por eu estar ocupado pensando em algo importante, o tempo dedicado à espera passa e eu nem me dou conta.

Quando penso em minha evolução — enquanto espero —, as outras faculdades de minha inteligência começam a se movimentar, como a de refletir, que se amplia, a de observar, que fica mais consciente, e a da razão, que se torna mais sensata em seus julgamentos. Assim, vou praticando cada uma delas com alegria e com um sentimento de gratidão a mim mesmo, por aproveitar aquele momento de espera como uma oportunidade.

Os ensinamentos logosóficos sobre a espera têm despertado em mim uma quantidade incrível de elementos para enfrentar o pensamento de impaciência. Aprendi que devo esperar sem pressa para alcançar qualquer objetivo que me propuser a atingir, pois ele será sempre o meu objetivo — leve o tempo que levar.

A espera impaciente e a restrição do nosso processo evolutivo

Não importa se tenho que me esforçar muito, se me queixo de tudo e de todos, se vou ficar irritado, o meu objetivo estará lá, esperando para ser atingido. É essa a espera de natureza superior!

A impaciência pode chegar a se transformar em uma obsessão e aí, meus amigos, toda espera, curta ou longa, se transforma em uma tragédia. Quando estou impaciente, ignoro o real valor do tempo. Eu me lembro de que, quando tinha que esperar em um consultório médico ou odontológico, eu me sentia torturado, mesmo que soubesse de antemão que aquela espera provavelmente aconteceria. Não adiantava, minha imaginação me pressionava e fazia com que eu sentisse que estava perdendo tempo.

Quantas vezes aquilo que eu chamo de “espera impaciente” aparecia no meu cenário mental e tirava minha tranquilidade, como era o caso da espera pelo elevador que, na minha imaginação, “não chegava nunca”, ou esperar que o computador ligasse, sabendo que levaria um minuto ou dois, no máximo, mas o pensamento de impaciência me dizia que eu estava perdendo tempo.

Às vezes me indago se seria por essa razão que, quando vou ao cinema, compro um saquinho de pipoca para me ajudar a esperar o começo do filme?

Descobri que teria que cortar essas amarras que me prendiam ao pensamento de impaciência, impedindo o meu caminhar para um estado consciente, com a prática da paciência inteligente, ativa, serena e compreensiva.

Certa vez, enquanto esperava pelo início de um concerto, na Sala Cecilia Meireles, aproveitei o momento de espera ouvindo o som, vindo lá dos bastidores, dos músicos afinando seus instrumentos, e resolvi aproveitar para afinar também meus ouvidos internos para sentir melhor o que viria depois. Sucesso absoluto! Aproveitei a espera para guardar, lá dentro de mim, em uma câmara exclusiva, todas as vibrações.

Sempre procurei evitar aborrecer um semelhante meu, fazendo-o esperar por uma resposta minha. Mas não é nada fácil evitar que a outra pessoa se aborreça, por menor que seja a espera. A luta é grande, e o que tenho feito é deixar que minha sensibilidade atue para que a harmonia e o equilíbrio perdurem.

Dissemos noutra oportunidade que a paciência cria a inteligência do tempo, devendo-se entender, é lógico, que nos referimos à paciência de quem sabe esperar. Não há dúvida que, quanto mais se compreende o valor da paciência, tanto maior é a eficácia com que o tempo nos serve, infundindo uma serenidade de espírito que o impaciente não tem. – González Pecotche