No momento em que escrevo estas linhas, a humanidade enfrenta um dos maiores dramas dos últimos tempos, evidenciando muitas realidades que me estimulam a refletir.
Um dos aspectos é sobre o “novo normal”, que se previu e esperou que passasse a reger a vida das pessoas em todos os países. E agora, que alguns já começam a flexibilizar as regras de isolamento, fico me perguntando se haverá de fato um “novo normal”.
Qual o sentido da minha vida?
E o que seria mesmo essa vida normal? Volto no tempo, recordando uma jovem insatisfeita com os estudos universitários. Tinha grande expectativa antes de entrar na Faculdade, mas muito se decepcionou, quando descobriu que aprenderia conhecimentos técnicos, áridos e talvez teóricos sobre a carreira eleita, porém sem relevância para outros campos da vida. Muitas perguntas sem resposta continuaram inquietando e angustiando.
Afinal de contas, qual o sentido da existência?
Apenas seguir a trajetória dos adultos e acabar como todos, com uma carreira mais ou menos brilhante, com uma condição socioeconômica mais ou menos satisfatória, constituindo ou não uma família, chegar à idade madura, envelhecer e morrer, ao final? E enquanto isso, ir adormecendo para todas as perguntas que não observava inquietar os adultos?
Tinha que haver um sentido superior para a vida humana que lhe desse algum significado. E como se relacionar com Deus, que não pelo temor e pelo interesse de obter graças para suas necessidades? Com base em que valores ter certeza e segurança de que caminhava em direção ao acerto e ao bem, se tudo obedecia à relatividade dos conceitos de bem e bom, variando no tempo e no espaço?
Sim, porque o certo e o errado de séculos atrás naquela altura de sua vida poderiam ser absolutamente o contrário, bem como os conceitos e valores de um lado do mundo poderiam ser entendidos de forma totalmente oposta do outro lado.
Construindo a mim mesma
Um dia, a jovem encontrou um caminho, no qual lhe apresentaram a possibilidade de se responder a todas as perguntas, sem precisar crer em nada nem em ninguém, mas experimentando em sua própria vida os novos conceitos que foi conhecendo, até incorporá-los como parte de um novo ser que lhe garantiram que poderia ir construindo dentro de si mesma.
Ela aprendeu que naquele novo caminho, denominado processo de evolução consciente, iria se capacitando para realizar uma reforma dentro de si: eliminar tudo o que, sem saber, trazia proveniente de preconceitos e crenças, e que de nada havia servido para fazê-la feliz e não mais se sentir diminuída.
Construir tudo o que ainda não possuía, mas aspirava alcançar para se tornar um ser melhor. E descobrir os valores que também não sabia que tinha e que, identificados por sua consciência, poderiam ser expandidos ilimitadamente.
Dentre os primeiros, encontrou o temor:
- temor à morte, ao sofrimento, à luta;
- a atitude muito presente de atribuir aos outros a responsabilidade por suas próprias adversidades e incômodos;
- o egoísmo em sutis manifestações de indiferença, entre muitos outros aspectos.
No terreno da construção, foi, aos poucos, revendo e reajustando muitos conceitos, como:
- o de vida, que deixou de ser apenas o espaço de tempo físico demarcado entre o nascimento e a morte, para ser compreendida e sentida como a maior das oportunidades que é oferecida ao ser humano, para criar com ela um destino melhor;
- o de confiança em si mesma, pautado agora no que estava descobrindo ser capaz de viver e enfrentar, com sua inteligência, sua sensibilidade e a certeza de que sempre pode viver as experiências com um saldo feliz, se souber pensar sobre tudo.
- Entre os valores que já trazia consigo, descobriu a alegria, talvez herdada por afinidade com a mesma característica do temperamento paterno, e que tanto bem sempre lhe fez.
A ação dos pensamentos
Aprendeu o mais extraordinário dos conhecimentos: de que dentro dela – mais precisamente em sua mente – havia entidades psicológicas com vida própria, ou seja, que existiam e se moviam ali à margem de sua inteligência e vontade, e por isso podiam fazer cometer muitos erros que faziam sofrer e dos quais depois se arrependia, mas que até então desconhecia completamente, só percebendo os danosos efeitos de tais entidades. Eram os pensamentos.
Começou a aprender a observá-los. Inicialmente, depois que se manifestavam e se evidenciavam para sua observação, pelos efeitos produzidos, bons ou maus. Mas, com o tempo, foi aprendendo a percebê-los ou encontrá-los em sua própria mente antes de se materializarem em ações.
E aquele conhecimento extraordinário foi capacitando tanto para evitar os pequenos erros na conduta diária, quanto para debilitar e abrandar características do temperamento que muito desgostavam e entristeciam, porque contrariavam a imagem do ser que queria chegar a ser.
Que alegria foi experimentando ao longo da vida, à medida que percebia que já não reagia mais da mesma forma impulsiva, intolerante, rígida, e com tantas outras características negativas, caminhando gradualmente em direção ao ser do futuro! E a libertação que tal conhecimento lhe proporcionou constitui parte significativa da felicidade que vem construindo dentro de si, ao longo de sua trajetória.
Uma natureza superior
E o que dizer daquelas inquietudes que angustiavam nos tempos da juventude? Aos poucos, foi aprendendo que, possuidor de uma natureza espiritual que se manifesta em sua inteligência e sensibilidade, o homem é capaz de aprender, ensinar e penetrar em qualquer conhecimento.
Filho de uma Inteligência Suprema, que concebeu e deu forma a toda a Criação, recebeu como um grande destino evoluir sempre, em direção à perfeição. E neste trajeto tem a oportunidade de ir se conhecendo como ser individual e, desta forma, conhecendo e amando a Quem o criou.
Aquelas incertezas que sentia na relatividade dos conceitos substituiu-se aos poucos pelo conhecimento das Leis Universais, cujas manifestações foi aprendendo a reconhecer em sua própria vida, tanto quando acertava, como quando errava. Como tal conhecimento lhe trouxe maior confiança em seus passos! Foi mais um bem para a construção de sua felicidade durante a caminhada.
Passaram-se várias décadas... Olho para trás. Recordo e reconheço todos estes aspectos. São ainda muito singelos, diante de tudo o mais que o conhecimento transcendente pode me proporcionar.
Mas, revivendo as sensações da jovem, de incerteza, de angústia, de tristeza, tão ao começo de sua trajetória, como não experimentar o sentimento de gratidão por tudo que me foi possibilitado construir, superar e conhecer? Na empreitada de conhecer a mim mesma, quem sou, o que trago comigo, e o que quero e posso chegar a ser, vivo desde então de outra forma.
Sinto-me hoje como a crisálida, que ainda sem ser borboleta, inicia ali seu processo de metamorfose, para chegar um dia a romper seu casulo e voar.
E enquanto me transformo dentro do que sou capaz e do tempo que tal capacidade me impõe, experimento por antecipado a felicidade de pensar que um dia saberei abrir as asas e partir num voo em direção ao eterno normal da vida.