Eu sou, de fato, livre?
Que imagem me vem quando eu penso em liberdade?
A de um passarinho fora de uma gaiola e, por extensão, de tudo que se opõe à escravidão e a imposições de limites para além do respeito à liberdade individual.
No passado, liberdade, para mim, era uma ideia, presente nos estudos de História, que se opunha à opressão e à escravidão e, portanto, vinculada a uma necessidade que nada tinha a ver comigo, mas sim a sujeitos históricos que não possuíam o mesmo privilégio que eu. Afinal, eu não era escrava e tampouco vivia qualquer opressão. Pelo menos era o que eu supunha à época.
Afinal, será que ser livre só diz respeito à liberdade de ir e vir? Ou pode existir uma escravidão mental, moral e espiritual?
Quando eu era jovem, eu me considerava uma pessoa livre por não usar as roupas da moda, nem relógio, o que se associava a um jeito de ser desleixado e descompromissado. Isso significava, no meu conceito de então, não fazer parte do “sistema” (não era muito claro o significado de “sistema”, mas tinha relação com ser “certinha” e seguir as normas estabelecidas pela sociedade).
Por fim, liberdade era um jingle, um jeito hippie de ser.
Explico.
Havia, na década de 70, uma propaganda cujo jingle era o seguinte: “Liberdade é uma calça velha azul e desbotada/que você pode usar/do jeito que quiser. / Não usa quem não quer. / US Top./ Seu jeito de viver”. Recordo até hoje da música, porque é daquelas que ficam pra sempre na nossa mente!
As músicas que eu ouvia não eram as que estavam na moda, mas aquelas que, segundo o meu conceito, diziam-me algo ou tocavam minha sensibilidade; entre elas estavam as que se opunham ao momento político que eu vivia.
Enfim, ser livre era seguir essas ideias.
Apesar de eu as seguir, por parecerem as mais acertadas como conceito de vida, eu não me sentia feliz. Ao contrário, fui uma adolescente triste e inibida, apesar da infância alegre e descontraída. Hoje vejo que meu jeito despojado de me vestir era uma fachada com a qual eu escondia a vergonha que tinha de mim mesma pelo autoconceito diminuído.
Aos 26 anos, um novo mundo se abriu para mim, um mundo de sentimentos e pensamentos diversos do costumeiro, pois que repleto de alegrias e estímulos positivos para a realização de um estudo que viria a ser o mais especial de minha vida: o estudo de mim mesma, proporcionado pela Logosofia, que me levou à descoberta de diversos valores que jamais imaginara possuir até então.
Certo dia, eu me deparei com o seguinte axioma logosófico: “Quanto luta o homem por sua liberdade! E pensar que por dentro é tão escravo!”.
Sabe aquelas frases que nos arrebatam? Frases pelas quais, na primeira leitura, já nos sentimos atraídos, sentindo que há ali uma verdade? Foi assim com esse axioma.
Eu não me sentia dona de mim mesma, de fato. E vim a descobrir ser escrava de pensamentos de inibição, medo, tristeza, suscetibilidade, rancor, intolerância, teimosia… O que me oprimia eram pensamentos que habitavam minha mente e de cuja existência eu jamais suspeitara! Quer dizer, eu sentia medo, tristeza, percebia a inibição, mas eu não sabia, à época, que se tratava de um pensamento conforme o conceito logosófico.
Para essa ciência, os pensamentos, agentes da psicologia humana, podem me levar a agir independentemente de minha vontade e consciência. Incrível, não é mesmo? Mas assim é, posso afirmar, por já ter comprovado essa realidade. Agem dessa maneira por serem entidades vivas que, por vezes, pressionam nossa vontade para satisfazermos o seu desejo.
Daí eu, muitas e muitas vezes, querer fazer uma coisa, mas não a realizar ou, querendo fazer algo de um jeito, termino fazendo de outro. Eis alguns exemplos:
Quero ser afetuosa com meus filhos, mas surge o pensamento de impaciência impedindo-me de atuar com afeto.
Quero emagrecer e tomo a decisão de começar uma dieta, mas vem o pensamento de comer aquele doce que não entra na dieta e, mesmo tendo feito a promessa para mim mesma de não comer aquilo, o pensamento pressiona a minha vontade com tamanha veemência que não consigo dominá-lo e acabo indo contra o meu propósito.
E assim é com tudo que quero mudar na vida, porque o hábito antigo está formado por um pensamento que é praticamente dono da minha mente. Quando eu quero me livrar dele, ele não cede facilmente. Como consequência, surge a necessidade de lutar por minha liberdade, pelo meu querer — o verdadeiro.
Sendo os pensamentos positivos verdadeiras potências, devemos contar com seu auxílio, a fim de ver fortalecido o propósito que se tenha estabelecido a si mesmo.
E isso vale para o pensamento do qual eu quero me livrar: quanto menos eu atuar com ele, mais fraco ele vai ficar, até não mais aparecer na mente.
Assim fiz, por exemplo, para conseguir livrar-me do consumo de uma iguaria muito apreciada por muitos, o queijo, mas que, no meu caso, causa-me alergia. Enquanto o pensamento de comer queijo foi mais forte do que a minha diligência para com minha saúde, sofri com as consequências. E que alegria poder contar-lhes que já faz alguns anos que o tirei da minha lista!
A Logosofia ensina, num dos seus livros, que O homem, para chegar a ser verdadeiramente dono de si mesmo, deve ter pleno domínio sobre seus pensamentos; então, também o terá sobre sua vontade.
Como habitantes do nosso mundo mental, eles atuam a todo instante, o que significa que devo estar sempre atenta para gerar pensamentos próprios , ou adotar aqueles que me trazem benefícios, eliminar ainda os que me fazem mal.
Isso me mostra que a conquista da minha liberdade é diária.
Hoje, liberdade para mim é atuar conscientemente, de acordo com a minha própria vontade, soltando-me das cordas dos pensamentos que querem manejar-me como se eu fosse uma marionete.
É também ser capaz de pensar por conta própria, não me deixando levar por pensamentos manipuladores e impositores que perambulam pelo mundo.
Pensar por mim mesma significa que eu estou me tornando capaz de criar meus próprios pensamentos, respeitando o meu livre-arbítrio.
Só assim poderei ser verdadeiramente livre, escolhendo conviver com os melhores pensamentos, que irão me permitir conquistar uma vida plena e feliz.