O ensino além do comum

Designamos com este nome, por nos parecer o mais adequado à compreensão comum, aquelas escolas que, na Antiguidade, se preocuparam em resgatar um punhado de homens das sombras que mantiveram a humanidade mergulhada na ignorância.

Estas escolas denominavam-se iniciáticas, porque iniciavam o homem nos verdadeiros conhecimentos da vida e do Universo, e o faziam descobrir, por esse meio, os mistérios que, sem tal concurso, seriam impenetráveis para seu entendimento. Tais escolas sempre foram dirigidas por expoentes da hierarquia da inteligência e continham a expressão mais pura das verdades que ensinavam.

O ser geralmente ignora que, além da instrução comum que recebe – mesmo compreendendo a mais esmerada educação e ilustração que é possível obter na universidade, com suas posteriores especializações técnicas e científicas -, existe uma cultura e uma ciência cujos conhecimentos, não sendo semelhantes aos que comumente são ministrados, devem ser adquiridos fora do âmbito universitário, pelo esforço pessoal e pela dedicação intimamente estimulados, a serviço de um ideal cuja concepção escapa às considerações e juízos correntes que a mente vulgar possa formular.

Na presente época, a única escola de adiantamento mental é a raumsólica,* que difunde os conhecimentos de Logosofia. Não há outra, e não seria aventurado vaticinar que passará muito tempo antes que outra de similar natureza surja no mundo.

Com o auxílio do saber logosófico, o homem adquire uma série de conhecimentos de inestimável valor para sua vida. Diremos ainda mais: o conhecimento logosófico promove no espírito humano um novo gênero de vida, que lhe proporciona enormes satisfações e lhe permite colocar seu entendimento muito acima da conduta corrente e das deficientes apreciações do temperamento comum.

Aquele que sabe o que pode, se comparado com quem desconhece seus recursos, sempre leva uma vantagem considerável, que na luta diária assume um valor imenso.

A necessidade das escolas de adiantamento mental

“Não rias”, diz o antigo adágio, “daquilo que, por ignorares, menosprezas.”

Escolas havia, em tempos já remotos, que acondicionavam a vida de seus adeptos a uma existência superior, cujas projeções abarcavam muitas gerações. Eram escolas de Sabedoria, e suas luzes foram tochas imortais que indicavam a rota a luminosas civilizações que alcançaram o máximo de esplendor e cultura.

Em nossos dias*, em que o progresso dos povos está truncado, desconjuntada a estrutura social pelas imposições do momento bélico, a parte de humanidade que sobreviver a este massacre deverá encarar seu futuro com um conceito muito diferente daquele que até agora teve da sua existência.

É um fato por demais evidente, na história do gênero humano, que o homem tarda muito a compreender o objetivo de sua vida. Geralmente, a necessidade e a dor obrigam seu caráter a ser mais dócil e menos áspero, quando deve incluir em sua psicologia modalidades que lhe são indispensáveis para exercer um sadio domínio sobre seus nervos e, não menos que isso, um estrito controle sobre seus impulsos irreflexivos.

A Escola de adiantamento mental oferece ao ser humano a possibilidade de conquistar, por via normal, ou melhor, natural, e com a devida antecipação, todos aqueles conhecimentos que lhe evitarão os ingratos e desagradáveis choques com a adversidade.

Diz a ciência médica que mais vale operar um apêndice ainda não complicado do que quando ele já tiver posto o organismo em perigo. E, falando de organismo, diremos que, assim como se criam as defesas para imunizá-lo contra certas doenças conhecidas, também podem ser criadas poderosas defesas mentais que impeçam o contágio de determinados pensamentos-bacilos, que levam a vítima, quando conseguem obcecar sua mente, aos mais agudos desvarios ou tormentos que se possam imaginar e, quando não o fazem, deixam o indivíduo em um estado de manifesta incapacidade, acontecendo que, em tais condições de inferioridade, qualquer problema o derruba, fazendo-o experimentar os amargos transes do desespero.

A Logosofia contribui para esse ensino superior

O ensinamento logosófico, entre os múltiplos e valiosíssimos conhecimentos que divulga, preceitua a conveniência de o ser humano se precaver a tempo contra as desagradáveis eventualidades que, por inexperiência ou ignorância dos fatores que cumprem seu inexorável papel na vida, ele deve enfrentar no curso de seus dias.

O saber logosófico pode ser aplicado de imediato e com inteira discrição à própria vida. O ensinamento ingressa de cheio no acervo interno, operando verdadeiros prodígios na psicologia individual.

Deve-se entender, pois, que uma escola de adiantamento mental é um centro de estudos e investigações cujos conhecimentos diferem em absoluto dos comuns, devido à sua qualidade e transcendência.

Por isso, tais escolas sempre foram, são e seguirão sendo, em todas as épocas, o lugar predileto das almas que anelam realizar uma superação integral que lhes economize os momentos de desventura que tão fartamente a ignorância proporciona, com todas as deficiências que, por sua causa, existem no mecanismo mental e psicológico do ser.

* N.T.: Artigo escrito em janeiro de 1942. Atualmente, a Escola Rasumsólica se chama Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana.
Extraído de Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 1, p.37

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo I

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Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.