Ao sair da adolescência, iniciando a juventude, recordo de viver momentos de muitas dúvidas e incertezas frente ao futuro. Quando tinha 17 anos, prestei vestibular para o curso de Engenharia numa universidade federal – um dos meus grandes sonhos, já que nasci e cresci numa cidade do interior e vi no ingresso na universidade a oportunidade de mudar de cidade e de ampliar as perspectivas de futuro.
No dia da prova, lembro que muitas pessoas me falaram: “Reze bastante, peça a Deus para você passar no vestibular”. Recordo de naquele dia voltar meus pensamentos a Deus, ao mesmo tempo em que identificava uma grande inquietude: “Se são 50 mil candidatos, para 5.000 vagas na Universidade, como Deus irá selecionar quem irá passar?”
Algumas semanas depois da prova, recebo o resultado: Passei no vestibular! E aos 18 anos tornei-me uma caloura de Engenharia! Com a notícia, muitos amigos dos meus pais manifestaram a eles: “Meu filho não teve tanta sorte quanto sua filha!”
Observei um turbilhão interno, um incômodo diante daquelas falas, e pensei comigo mesma: “sorte? E todos os dias que acordei cedo e fui dormir tarde realizando os estudos de forma disciplinada e constante durante meses, com foco no vestibular? E todos os meses que fiquei distante da família, em outra cidade? E a dedicação que tive ao longo de todos os anos da minha infância e adolescência, já com o propósito de cursar uma universidade federal?”
Eram muitas perguntas, muitas inquietudes, mas poucas respostas. E observava que a confiança em mim mesma oscilava, pois oscilavam as convicções e os conceitos sobre sorte e destino.
Alguns anos depois tomei contato com uma ciência que me convidou a estudar minha própria vida, a experimentar o que estava estudando e a estudar o que já havia experimentado — a Ciência Logosófica — e então, com a oportunidade de estudar a experiência vivida aos 17 anos, encontrei muitas respostas às inquietudes daquela jovem.
“Fica, portanto, evidenciado que o destino é passível de modificação; mais ainda, cada ser é responsável por seu próprio destino, sobretudo se for levado em conta que este é o resultado de seus atos, pensamentos e palavras. Por acaso podem ter o mesmo destino duas pessoas de mesma idade, meios e condição, se uma delas alcança, por sua consagração ao estudo, ao trabalho e dedicação a fins nobres, uma elevada posição entre seus semelhantes, e a outra expia atrás das grades seus desvios? Afirmar que sim seria negar o livre-arbítrio e a vontade, da qual cada um é dono”. (Coletânea da Revista Logosofia, Tomo 2, p. 176)
Venho compreendendo que a maior oração é a conduta, e que Deus dotou o ser humano de uma inteligência composta por faculdades mentais — como pensar, refletir, observar, recordar — e também de faculdades sensíveis — querer, consentir, agradecer, amar; e que todos temos a prerrogativa de evoluir por própria determinação, por meio da ampliação do conhecimento de si mesmo, ativando e ampliando todo esse potencial com que Deus nos dotou.
E quando as coisas não acontecem como previsto, como planejado? Perdemos a “prerrogativa de construir o próprio destino”? Compreendo que é uma oportunidade de superação, de buscar elementos que faltam para aquela conquista, para tal realização. Afinal, Deus nos apresenta as Leis Universais como parte de sua linguagem, proporcionando-nos uma conexão direta com o Criador. E se algo não ocorre como previsto e planejado, é porque a luta é lei da vida e há sempre algo que precisamos aprender, superar e evoluir.