A ciência logosófica propõe ao ser humano um processo de evolução consciente, ou seja, de superação integral, psicológica, moral e espiritual, para dar forma ao indivíduo que todos aspiramos ser. Neste processo, percorre-se o caminho em que se vai realizando o conhecimento de si mesmo.

Aqui cabe destacar que, para a Logosofia, tal processo começa a partir do conhecimento do que configura a própria psicologia, tanto em termos de valores e virtudes como em defeitos – as deficiências psicológicas. Em seguida, é o momento de cultivar conscientemente os pontos positivos e de combater os negativos, de preferência até sua completa eliminação.

Quero relatar então uma pequena experiência que ilustra o que venho descobrindo e modificando em minha vida.

Participava de uma conversa com amigos, quando alguns aspectos expressados sobre um determinado assunto me atingiram em cheio: embora não se referissem a mim, soavam como se sinalizassem uma reprovação a algo em minha conduta. De imediato, aquela impressão me gerou um estado de desconforto interno, como se alguma coisa tivesse sido acionada dentro de mim para que eu me sentisse criticada e desmerecida. Felizmente, soube guardar no meu íntimo aquela sensação desagradável de ressentimento com o que os amigos pareciam “insinuar”.

No trabalho constante com as deficiências psicológicas, tenho aprendido que, apesar de não fazerem parte do meu ser, elas atuam como se estivessem infiltradas, contrariando o que realmente penso e sinto, afetando minha vontade e ocasionando defeitos em meu modo de ser. Mas como não fazem parte de mim, hoje consigo estar sempre alerta e desconfiar de sensações como a que experimentei naquele dia. Isso é muito importante para que eu possa reconhecer esses inimigos internos e combatê-los.

No dia seguinte, procurei identificar qual poderia ser aquela deficiência em meio às que foram relacionadas pela concepção logosófica. Não foi difícil encontrá-la bem caracterizada pelos sintomas indicados, que coincidiam com o que havia sentido internamente. E, por trás da deficiência, fomentando seu movimento inicial, encontrei a ação de uma faculdade mental que muito tinha a ver com o ocorrido: a imaginação.

Apesar de ser uma faculdade que exerce um papel muito importante nos primeiros anos de vida da criança, a imaginação pode se transformar numa verdadeira charlatã, quando insuflada pelos adultos com imagens distorcidas da realidade, alimentando ilusões e preconceitos. Nestes casos, acaba por se hipertrofiar e causar danos ao ser adulto, que pode se transformar em um inveterado sonhador, adotando uma postura fantasiosa e passiva diante da vida.

Como consegui identificá-la? Explico: usando outra faculdade da inteligência, que tem o poder de ajudar o entendimento a penetrar nos fatos e encontrar seu verdadeiro conteúdo. Examinei a cronologia dos acontecimentos e logo ficou evidente que não havia possibilidade de meus amigos terem tomado contato com o fato que eu imaginara estar sendo julgado, e muito menos com a forma como resolvi a questão.

O que teria ocorrido então que produziu em meu ânimo aquele estado desfavorável? Quando ouvi o entendimento deles sobre o assunto em pauta, que em nada se relacionava com a situação vivida, a imaginação, a serviço da deficiência, havia sugerido haver no pronunciamento dos amigos uma segunda intenção, no sentido de me reprovar, produzindo imediatamente o estado de ressentimento interno. A imaginação desfigurara suas palavras, que em nada se relacionavam com o que eu havia vivido e que eles sequer poderiam saber!

Quando terminei o movimento de reflexão, imediatamente me senti libertada da sensação negativa que ainda perdurava em meu ânimo. Pude perceber com nitidez como aquele defeito prejudica a vida, induzindo a juízos enganosos que posso tomar como certos e me levar a julgar erradamente fatos e pessoas.

De quebra, pude comprovar um ensinamento que diz que a reflexão limpa o céu do entendimento das nuvens que por vezes o obscurecem, e dessa forma leva gradualmente o ser a se colocar em outro ângulo, de onde pode fazer considerações mais atinadas sobre os fatos da vida. E assim, havia acabado de desmascarar mais uma vez a charlatã da mente.