Você já parou para pensar sobre o que é o tempo?
Se a ideia fosse defini-lo como a menor porção já medida pelo ser humano, seria o tempo de Planck – a menor unidade de tempo que tem significado físico, aproximadamente 5,39 x 10⁻⁴⁴ segundos, cerca de 0,0000000000000000000000000000000000000000000539 segundos!
Consegue imaginar esse número? E para que ele poderia servir?
Por outro lado, temos a maior medida de tempo já estimada pelo ser humano até os dias atuais: o tempo de vida do Universo físico como o conhecemos, aproximadamente 13,8 bilhões de anos.
Esta faixa de tempo abrange desde o Big Bang, considerado o momento inicial do Cosmos, até o presente.
O que aconteceu no Universo durante todo esse período?
Quando olhamos para o céu e nossa visão se detém em alguma estrela, o brilho que vemos provavelmente foi emitido há centenas ou milhares de anos e viajou por distâncias inimagináveis, tendo apenas o tempo como companheiro.
Em alguns casos, a fonte emissora pode até já ter chegado ao fim de seus dias, mas o tempo, implacável, cumpre seu papel, carregando pelo espaço os vestígios deixados por aquele corpo celeste.
A vida humana também conta com este companheiro inseparável, o tempo, que preside absolutamente todos os nossos atos.
Mas seria o tempo capaz de carregar pelo espaço os ecos de nossa existência, mesmo após o fim da vida, assim como faz com as estrelas? Esta era uma das minhas maiores inquietudes, desde o início da adolescência. E quando meu tempo de vida na Terra acabar? Não há nada depois?
Recordo-me das vezes em que esses pensamentos me vinham à mente, fazendo-me sentir extremamente desconfortável, angustiado e inquieto. Em alguns casos, conseguia inclusive perceber reflexos desses movimentos mentais em meu corpo. Ficava paralisado, tentando fixar o olhar em qualquer coisa que pudesse desviar minha atenção e dissipar aquela sensação de temor.
Era isso: um temor. Um temor ao tempo. Eu temia uma Lei Universal, algo que sempre esteve e sempre estará presente na Criação.
Era de se esperar então que eu procurasse fazer de tudo para aproveitar meu tempo da melhor forma, certo? Bom, era o que eu gostaria, mas não o que realmente acontecia.
Várias vezes eu me dedicava a tarefas sem importância, fazendo com que meu tempo escapasse como a água de uma torneira esquecida aberta, indo embora sem nenhuma utilidade.
Lembro-me de uma vez em que recebi um trabalho na faculdade, com entrega prevista para o final do ano. A atividade não era fácil, mas eu teria bastante tempo para realizá-la. Tive o seguinte pensamento: “Se eu começar nos próximos dias, possivelmente terminarei faltando alguns meses para a apresentação.” Ao mesmo tempo, lembrei-me de um colega que me disse: “Relaxa, não se preocupe com isso agora; temos tempo de sobra para fazê-lo!”
Esse trabalho permaneceu esquecido durante quase todo o prazo disponível, e só quando faltava pouco tempo para a apresentação minha atenção se voltou a ele. A tarefa, que era relativamente simples, transformou-se em um verdadeiro problema, pois o tempo me pressionava. As semanas restantes foram marcadas por aflição, enquanto eu tentava produzir algo minimamente apresentável. O resultado foi suficiente para a disciplina, mas ficou muito aquém do que eu sabia ser capaz de realizar.
Nos dias seguintes, fiquei me perguntando por que havia permitido que a situação chegasse a esse ponto. Se eu sabia que existia uma forma melhor de conduzir aquela atividade, por que não fiz diferente? E, sabendo que em outras ocasiões já havia vivido algo semelhante, por que havia cometido o mesmo erro?
Ao realizar um estudo logosófico sobre as deficiências psicológicas, identifiquei a atuação da negligência. Ela tem a característica de se apoderar do ânimo, induzindo a pessoa a realizar as coisas fora do tempo, com demora, sem atenção nem cuidado. Essa vivência me mostrou o quanto o pensamento da negligência me colocava em conflito com o tempo, fazendo-me sentir pressionado por ele. Desde então, tenho buscado anular a atuação da negligência e tenho conseguido resultados animadores.
O esforço em cultivar valores como a diligência, que me estimula a atuar em oposição à negligência, gera movimentos na minha vontade que me permitem antecipar minhas tarefas e obrigações dentro do tempo de que já disponho.
À medida que cumpro com meus objetivos com empenho e diligência, aquele tempo que escapava pela torneira aberta, sem utilidade, passa a ganhar um significado: o de construção e evolução.
Aquelas inquietudes e o temor sentidos na adolescência, diante da incerteza do tempo, já não têm a mesma intensidade. Ainda persistem, mas em proporção cada vez menor, pois venho compreendendo que as respostas para aquelas grandes perguntas estão diretamente ligadas à forma como tenho utilizado meu tempo.
E você, como tem utilizado o seu?