Se você é daquelas pessoas que gostam de tudo bem arrumado e nada pode ficar fora do lugar, então pode ser bom ler o que tenho pra contar: uma experiência marcante em minha vida de mãe.
Um de meus filhos, quando criança, tinha dificuldades com organização de espaços. Por onde passava, deixava tudo fora do lugar: brinquedos, tênis, livros, mochila… Você pode pensar que eu tinha dificuldades para lidar com aquilo e, tinha mesmo. Claro que me incomodava!
Eu havia tentado muitos recursos – teatrinho, conversas, histórias, arrumar junto, combinados, ficar brava. Tudo! Até um boneco cheguei a comprar para representar o pensamento de organização e lhe demos o nome de Ordenildo, mas… não via muitos progressos.
E veja o tamanho de minha limitação – com tantos outros valores que ele possuía e possui como ser humano, aquele pontinho continuava a me incomodar. Quem estava realmente errando – ele ou eu? Já respondeu rapidinho aí, não foi? Aquilo, na vida de uma criança, não tinha o menor valor, mas, naquele momento, eu não era capaz de ver assim.
Até que um dia, a vida me ofereceu uma linda oportunidade de enxergar meu erro e me ampliou a consciência, colocando as coisas em seus devidos lugares. Não, contudo, no quarto de meu querido filho, e sim dentro de mim!
Numa tarde quente de verão, fui visitar uma amiga que havia perdido um filho, com a mesma idade que o meu. No decorrer de nossa conversa, ela, muito emocionada, disse: “Dói muito passar na porta do quarto dele e ver tudo arrumadinho no lugar…”
Ao ouvir aquilo, passou-se um filme em minha mente, e senti um grande aperto no coração. Certamente, primeiro pela dor de minha amiga, e depois por mim mesma. Isto mesmo: por mim mesma! Não mencionei nada do que ocorria em meu interno, mas aquelas palavras tiveram um grande impacto sobre mim.
Voltei para casa bastante reflexiva. Ao chegar, fui logo ao encontro daquele muito querido filho. Já na porta de seu quarto, eu o vi tranquilo, estudando em sua mesa. A emoção tomou conta de mim. Tênis para um lado, mochila para o outro, livros no chão… Mas que insignificante era tudo aquilo!
Abracei meu filho, sem que ele nada soubesse sobre o que se passava dentro de mim, experimentando profunda gratidão a Deus por tê-lo em meus braços, vivo e tão bem! Foi uma lição para mim.
E, daí para frente, você pode imaginar o que aconteceu. Por imperativo da consciência, eu tratei de mudar minha postura, ocupando-me em superar minha impaciência, rigidez e intolerância com aquilo que era tão, mas tão insignificante frente aos muitos valores de meu querido filho e do grande presente que é a vida!
Mas, você pode estar se perguntando: E como ficou o assunto da organização? Seguiu sendo trabalhado ao longo dos anos, porém como um valor importante para a vida, um cultivo interno sereno e sem conflitos, deixando de ser algo para atender às minhas expectativas. E fomos colhendo pelo caminho, e até hoje, muitos resultados felizes de todos os esforços realizados em conjunto. Não mais pensando no circunstancial, no momentâneo, em atender aos meus caprichos domésticos ou qualquer outra coisa dessa índole, mas sim na construção de valores reais e permanentes, que nos tornam seres capazes, valentes, verdadeiramente conscientes, livres e humanos.