Interior de Goiás, belíssimas paisagens de cerrado intocado, parques, reservas naturais, trilhas, cachoeiras e a companhia de uma grande amiga. Esses eram os elementos presentes em uma viagem de férias para a qual me preparei com afinco:
Queria que esse passeio fosse uma ótima oportunidade para exercitar a minha mente com atividades diferentes.
No primeiro dia, como era esperado, o sol estava escaldante e somente os banhos nas cachoeiras eram capazes de nos refrescar. Eis que, a partir da segunda metade do trajeto, minha amiga começou a se queixar de um mal-estar e das condições encontradas. Meses antes ela havia tido um grave problema de saúde e o clima adverso estava fazendo com que alguns dos sintomas que a haviam acometido retornassem.
Eu estava muito preocupado com a situação física dela, mas a cada pausa ela me assegurava que conseguiria ir para a próxima etapa. Após mais algumas horas de caminhada, retornamos ao hostel, conversamos e ela me garantiu que estava bem e que seria possível realizar os passeios nos dias seguintes, desde que em um ritmo mais lento, dadas as limitações físicas.
As palavras “ritmo mais lento”, somadas às queixas constantes em relação as condições climáticas ao longo do passeio, formaram uma cachoeira de pensamentos negativos caindo sobre a minha mente naquela noite: “e agora, será que não irei cumprir o roteiro estabelecido?”; “era melhor ter vindo sozinho”; “que situação chata!”; “ela tem razão, esse calor também está consumindo o meu ânimo”.
No dia seguinte, em função das novas circunstâncias, as paradas para descanso aumentaram, tivemos que rever o roteiro e minha amiga não parava de reclamar do calor. Após algumas horas de caminhada e quedas d’água, fiquei impaciente, irritado e desanimado com a situação e pedi impulsivamente que encerrássemos a viagem.
Dali, retornamos à Brasília para conhecer suas atrações arquitetônicas e de lá embarcamos de volta para Belo Horizonte. A viagem não saiu como o planejado e, pior ainda, nossa amizade voltou abalada.
Esse poderia ter sido o desfecho da minha viagem se naquela época eu ainda não estivesse em contato com uma série de ensinamentos, que me possibilitaram aprender um novo conceito sobre os pensamentos. Eu sabia, por exemplo, que eles podiam ser autônomos, ou seja, eles atuavam e eram capazes de me fazer atuar conforme a vontade deles.
Compreendia também que eles podiam ser:
E, mais importante, percebia que era possível me defender dos pensamentos de baixa índole. Eu procurava, havia algum tempo, estar atento e observar de forma consciente tudo o que acontecia no meu mundo interno, em resposta aos acontecimentos do mundo externo.
Assim, eu pude verificar os pensamentos que estavam atuando ou tentando entrar em minha mente, diante dos acontecimentos inesperados em minha viagem, impedindo que os alheios e negativos fizessem com que eu agisse contra o meu querer, contra a minha vontade.
Quando tivemos que parar para minha amiga descansar e se recuperar eu pensava em como poderia ajudá-la e não de forma egoísta de que era melhor ter viajado sozinho e me defendia dos pensamentos de impaciência com os de paciência inteligente.
Em vez de ficar irritado e intolerante com as queixas sobre o calor e as dificuldades do caminho, fiquei atento ao meu temperamento e a minha tolerância; no lugar de me queixar sobre ter que adaptar o roteiro da viagem e visitar um menor número de atrações, vi uma excelente oportunidade para observar mais os detalhes daquele belo lugar.
Egoísmo, impaciência, irritabilidade e inadaptabilidade são comportamentos ou deficiências que todos possuem, em maior ou menor grau, e que muitas vezes chegam a ser consideradas como adjetivos ou traços da personalidade de cada um.
Entretanto, sinto que quando ilumino meu interno com a luz de conhecimentos que me permitem identificar como esses pensamentos deficientes atuam e estou atento quando eles agem, consigo governar minha própria vida, pois amplio o conhecimento que tenho de mim mesmo e estou consciente de que ajo conforme a minha vontade e não de acordo com o que impõem os pensamentos alheios.
Estudar e aplicar esses ensinamentos em minha vida é um desafio constante e, graças ao pouco contato que tinha com eles à época dessa viagem, pude melhorar minha conduta como ser humano e viver ótimos momentos ao lado de uma pessoa a qual guardo enorme afeto.
Assim como um rio flui, de cachoeira em cachoeira, em direção ao mar, sinto que pude evoluir em direção ao meu objetivo de ser uma pessoa melhor, para mim e para os que me cercam, pois consegui transformar essa cachoeira de pensamentos em um calmo riacho.