Penso que todos que já tiveram ou que têm um animal de estimação, seja um cachorro ou um gato, consentem que, nessa relação, vão sendo cultivados sentimentos de nossa parte com a interação diária e o companheirismo desses animais.  

 

Na minha infância, pude constatar isso com os diversos animais que passaram pela minha casa. Entretanto, na fase adulta e com os conhecimentos logosóficos que venho adquirindo, pude vivenciar essa relação com consciência e mais intensidade. 

 

Há sete anos, comprei uma cadela para presentear minha filha; entretanto, logo nos primeiros contatos ela desenvolveu uma alergia aos pelos da cachorra, por isso acabei tornando-me a cuidadora. Como ela era de uma raça que demandava muitos cuidados, diariamente eu estava ali para limpar suas rugas, olhos, ouvidos etc. 

 

Durante todos esses momentos, eu sempre a observava, admirando-a como uma criação de Deus, e confirmando que seu modo de agir era algo que vinha
de padrões determinados pela inteligência divina, implantados no seu comportamento. 

 

Com o estudo logosófico, tenho aprendido a viver conscientemente, daí ter obtido a clareza de que, mesmo tendo cursado Medicina Veterinária, foi esse outro aprendizado que promoveu uma mudança em como observo os animais. 

 

O convívio com essa cadela, com minha consciência mais desperta para a realidade ao meu redor, fez com que o sentimento que eu cultivasse por ela fosse mais forte e minha admiração pela sabedoria divina engrandecesse. 

 

Em maio de 2023, com seu falecimento, senti uma grande tristeza, e o que mais me tem chamado a atenção é a sensação da sua permanência dentro de casa. Tenho experimentado que a vida consciente, unida ao cultivo de sentimentos, tem a força de prolongar e imortalizar as coisas. 

 

Ao chegar em casa, sinto como se a minha cadela ainda estivesse presente. Até consigo vê-la nas posições que gostava de ficar e imaginar o comportamento que ela adotaria frente a qualquer estímulo. Ela como que permanece viva ali, e tudo isso é fruto da observação consciente que consegui experimentar ao longo desses anos.  

 

A capacidade humana de recordar – a ponto de tornar vivo e reproduzir momentos que já se foram – é um privilégio que temos e que tenho aprendido a experimentar.