Lembro-me de diversas conversas que tive com um tio muito querido, que ficava exaltado quando tratávamos sobre o tema Deus. Para ele, Deus não existia, pois, se existisse, as injustiças do mundo não ocorreriam. Não lhe faltavam exemplos e energia para caracterizar e sustentar aquilo que apresentava. Apesar de não concordar com tudo o que ele falava, valorizava sua sinceridade, integridade e disposição para conversar a respeito de um tema tão complexo.

Recordo-me também de um amigo que, com muita boa intenção, queria convencer-me de que Deus, apresentado pela sua religião, era o Todo-Poderoso. Por mais que tentássemos entender a vontade divina, nossa mente não possuía a necessária capacidade para compreender tudo que fora criado por Ele, assim o dizia esse amigo. Frente às perguntas mais difíceis de serem respondidas, deveríamos manter a presença da fé e acreditar.

Alguém já viveu situações semelhantes?

Por que a compreensão sobre um tema assim é tão distinta?

Qual a importância do conceito de Deus para o destino do ser humano e da humanidade como um todo?

A diversidade humana pode ser percebida no dia a dia com bastante facilidade. Ninguém é igual a ninguém. Mesmo se comparássemos uma pessoa hoje com ela mesma no dia de ontem, ou cinco ou dez anos atrás, perceberíamos algum tipo de alteração em seu estado mental ou sensível, em alguma modalidade, e até mesmo em seu caráter. As mudanças de estado, motivadas pelos pensamentos que estão dentro e fora do ser humano, são as mais fáceis de ocorrer e de serem percebidas, mas a inteligência e a sensibilidade humanas podem provocar mudanças muito mais profundas.

No caso dos conceitos, percebe-se que muitos são estimulados pelas crenças adquiridas ao longo da vida, principalmente na fase da infância. O que é aprendido na família, na escola, nas instituições religiosas e na sociedade como um todo, moldam o caráter do ser humano e contribuem para que ele norteie sua vida seguindo alguns princípios.

Como se define a missão do ser humano na Terra?

Recentemente, refletindo sobre alguns conceitos, entendi que eles influenciam todas as áreas, pois servem para construir ou moldar, mesmo que inconscientemente, a missão do ser humano na Terra. Entendida como o objetivo central, essa missão tende a influenciar tudo aquilo que o homem se dispõe a realizar. Caso isso não ocorra, o homem viverá em um conflito contínuo, que o inquietará e o estimulará a buscar novas explicações frente aos mistérios apresentados à sua consciência.

Mas como proceder diante das diversas crenças que nos são apresentadas durante a nossa vida? Deus existe ou não existe? Se existe, qual é o Deus verdadeiro? Certa vez, um aluno mais experiente afirmou-me categoricamente que Deus não existia. Utilizou basicamente alguns argumentos que meu tio, o do início do artigo, utilizara. Fechou sua compreensão dizendo que as coisas ocorriam no Universo de forma aleatória e que a ideologia que professava estava presente no mundo para consertar os efeitos perversos do acaso. Por fim, ele me perguntou:

você poderia provar a existência de Deus?

Fiz um convite para ele pensar e considerar tudo aquilo que está discernível no Universo. O ar que respiramos, os alimentos que estão disponíveis para consumirmos, as belas paisagens que existem no mundo, os esforços dos seres humanos em buscar o conhecimento no campo físico — e até mesmo no metafísico — para entender um pouco mais a experiência humana na Terra, as possibilidades que temos de estreitarmos nossos laços e de, inclusive, conversarmos sobre temas tão grandes como o que estávamos conversando. O próprio ser humano oferece exemplos de sobra de que esforços inteligentes podem gerar resultados em termos de obras e conquistas.

Recordei de uma imagem logosófica que afirma ser lógico e possível conhecer o Criador através da sua Obra. Isso é o que fazemos quando admiramos um quadro pintado por um artista que fisicamente não está mais entre nós. Afirmei que, por mais que um cientista estudioso não consiga comprovar a existência de Deus, por sentir dificuldades em caracterizá-lo fisicamente ou entrar em contato verbal com ele, sua configuração e linguagem podem ser diferentes daquelas que imaginamos ser possível. Não haveria Leis que regem e sustentam a Criação e que nós, seres humanos, podemos tentar entender?

As reflexões apresentadas pelo aluno eram boas, porém eu lhe disse que a existência de Deus era uma hipótese mais forte, pois o pouco que conheço do Universo sinaliza a existência de uma Inteligência Universal que deve ser mais bem compreendida. Fechei minha exposição com a seguinte pergunta: você pode comprovar a não existência de Deus?

Compreendo que Deus é um conceito central que rege a vida do ser humano, consciente ou inconscientemente. Nossas vidas serão cada vez mais felizes, amplas e proveitosas, a partir do momento em que realizemos um esforço adicional para tentarmos entender os mistérios que estão dentro de nós, e os que estão no Universo como um todo.

Superar nossas limitações, sentir a verdadeira alegria de viver, ajustar nossa missão a um patamar mais elevado, é algo compatível com o potencial espiritual que todos possuímos, com a capacidade de pensar grande, que nos faz diferentes das demais espécies presentes na face da Terra.