Recordo-me da primeira vez que fui apresentado à Fórmula de Bhaskara. Mesmo tendo predileção para as matérias exatas, quando o professor escreveu a famosa fórmula no quadro negro, a minha reação foi a mesma que a de qualquer adolescente:
Essas perguntas são recorrentes em diversos momentos da vida escolar. Poderia se justificar dizendo que esses conhecimentos aritméticos são aplicados durante a graduação, mas, pensando no longo prazo, desconheço profissionais que já tenham se visto diante da necessidade de resolver equações de segundo grau no dia a dia de suas funções. Então, quais seriam as respostas para esses questionamentos?
Anos se passaram e, curiosamente, as obtive em uma sala de aula. Estava no segundo período da faculdade de engenharia e deveria cursar uma disciplina de computação. Na primeira aula, como introdução ao curso, o professor fez uma pergunta provocativa para a turma: Para que programar?
Muitas respostas foram ensaiadas, tais como: pela necessidade de armazenar dados, para processar contas complexas com velocidade, automatizar processos repetitivos, dentre outros pontos. Porém, para minha surpresa, as respostas apresentadas pelo professor foram totalmente distintas das formuladas pelos alunos.
Segundo ele, o estudo de programação serve para aprendermos a pensar de forma lógica, a desenvolver um pensamento sistêmico, a conquistar um raciocínio processual etc.
Nesse instante, eu vivi um daqueles momentos de grande alegria, sentida quando nos damos conta de uma realidade que antes desconhecíamos.
Tudo o que aprendemos tem um valor muito maior do que o resultado do estudo em si, seja em um curso de programação, de uma língua estrangeira ou a aquisição do conhecimento que for. O elemento aprendido vai certamente ser esquecido, caso não seja constantemente utilizado. Contudo, a capacidade ou aptidão desenvolvida permanece. Essa é a grande chave!
O valor dessa descoberta se aplica em todos os campos da vida, pois se trata de encontrar a transcendência dos fatos mais corriqueiros do dia a dia. Desde então, sempre que preciso realizar uma tarefa, me questiono:
Isso me permite ser cada vez mais consciente, pois consigo extrair um valor da vida que antes me passava despercebido. Esse valor é justamente aquilo que transcende o tempo físico, e permanece comigo em forma de aptidão.
Então, mesmo quando preciso fazer algo que não gosto, como lavar louça, por exemplo, procuro fazer com gosto e me esforço para fazer bem feito, pois sei que dessa simples atividade posso extrair elementos para meu aperfeiçoamento como ser humano. Isso porque, as aptidões que desenvolvemos de forma consciente integram parte de nossa herança individual, se manifestando sempre que a necessidade se apresentar.
No futuro, sei que meu filho ou filha irá me perguntar quando ele vai utilizar a fórmula de Bhaskara novamente em sua vida, e minha resposta será categórica: provavelmente, nunca! Mas, se deixamos de realizar esforço para aprender esse conhecimento, não habilitaremos nossa inteligência com essa capacidade que só esse estudo proporciona.
Para mim, a vida se apresenta ampla de possibilidades a todos aqueles que estão aptos a usufruir das oportunidades que ela oferece, e por isso, podemos afirmar que o conhecimento amplia a vida, motivo pelo qual fica claro que é o conhecimento a razão de nossa existência.