Existem situações que poderiam ser consideradas absolutamente corriqueiras, mas que podem se constituir em motivo de análise e reflexão, dependendo de como as encaramos.

Quem é ou já foi síndico em um condomínio certamente vive ou já viveu situações que implicam em formular juízos em relação a episódios envolvendo moradores. Em tais casos, toda cautela é indispensável para não se cometer injustiças e prejudicar o conceito do condômino e dos envolvidos nas situações.

Recentemente, como síndico, fui informado pelo zelador e pelos porteiros diurno e noturno que o novo morador, que se mudara recentemente, após entrar ou sair da garagem, deixava sistematicamente o portão aberto, o que obrigava o porteiro em serviço a fechá-lo com o controle remoto.

Percebi claramente, em cada um deles, a tendência a considerar o novo morador como desatento ou simplesmente relapso. Entrei em contato com o novo morador, de forma oportuna e adequada, e informei-lhe que certamente ainda não tivera tempo de ler o Manual do Morador, que esclarecia a respeito do uso da garagem. O procedimento adotado é que o morador deve acionar o controle remoto do portão ao entrar e também ao sair, para fechar o portão.

Ele agradeceu pela advertência e informou-me que, em realidade, havia considerado que o portão se fechava automaticamente. No condomínio de onde viera, o morador apenas acionava o portão ao entrar e sair e o portão se fechava automaticamente, daí seu comportamento em nosso condomínio. Após o meu esclarecimento, ele passou a adotar o procedimento recomendado.

Cuidei de repassar esta informação ao zelador e aos porteiros, para que corrigissem um equivocado julgamento que certamente haviam feito do novo morador e, da mesma forma, fiz contato com ele para informar-lhe que havia esclarecido junto aos funcionários o motivo de seu comportamento, deixando-o agradecido pelo cuidado que tive em defender o seu conceito.

Uma situação simples que reflete o risco de nos precipitarmos, fazendo julgamentos sobre terceiros, sem reunirmos todas as informações e elementos para um juízo prudente a respeito dos demais.

Quantas vezes um comportamento, uma atitude de alguém, seja de um amigo, familiar ou colega de trabalho — principalmente se, a nosso juízo, não foi adequado — pode induzir-nos a juízos precipitados, dos quais depois nos arrependemos e que ferem a ética, ou seja, o nosso relacionamento com os demais.

González Pecotche, criador da Logosofia, em seu livro Curso de Iniciação Logosófica, afirma: “A ética não teria finalidade ou, melhor ainda, não cumpriria seu verdadeiro objetivo social, se não contivesse os elementos básicos que a tornam possível, a saber: elevação de propósitos, tolerância, paciência, obsequiosidade sincera, naturalidade no trato, afabilidade, prudência e tato nos juízos que se emitem sobre terceiros. Arrematando este enunciado ético, diremos também que, acima de tudo, haverá de reinar a cortesia como expressão de afeto e de respeito e, do mesmo modo, o pensamento conciliador, que consolida a mútua consideração e entendimento.”