Vida

A atividade e a gratidão geram energias

fevereiro de 2025 - 4 min de leitura
Vida

A atividade e a gratidão geram energias

fevereiro de 2025 - 4 min de leitura

Aprendi muito durante o mês que pasei com meu pai num hospital, e o que poderia ter sido um quadro de tristeza e depressão se transformou em alegria de viver.

Hoje em dia, existe uma verdadeira epidemia de depressão e ansiedade. Seria possível encontrar alegria de viver em meio a duras realidades? Vou relatar um episódio que vivi com meu pai.  

Em certa ocasião, ele enfrentou um problema grave de saúde. Como era militar, o tratamento deveria ser realizado no hospital da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Então, ele e eu fomos até lá, onde ficou internado por 37 dias, e eu o acompanhei durante todo aquele tempo.  

O hospital era bem equipado e ocupava um terreno extenso. Durante o dia, eu ficava com ele e, à noite, seguia para o alojamento das acompanhantes que, em sua maioria, era ocupado por mulheres que provinham também de outros estados para acompanhar os maridos em tratamento ou cirurgias.   

Era o cenário perfeito para o surgimento de uma depressão, ainda mais para mim, que tinha tanta aversão àquele ambiente. 

Meu pai já havia sido submetido a alguns exames, e tudo estava indo bem. Apesar de saber que ficaria ali por muito tempo ainda, eu estava tranquila porque tinha descoberto uma técnica …que explicarei mais adiante. 

Sendo a situação dele estável, passei a observar aquelas senhoras e constatei a angústia causada pela incerteza ou pelo temor de vir a perder o familiar. Uma história, em particular, chamou minha atenção. Alguém que tinha vindo de muito longe e havia deixado os filhos pequenos com uma vizinha para poder acompanhar o esposo. Ao aproximar-me, ouvi atentamente sua narrativa e tentei oferecer algum conforto. No entanto, a situação não era fácil para ela!  

Com o esposo na UTI, ela só podia fazer uma breve visita diária. O restante do tempo, assim como muitas outras, ficava ociosa, imersa em seus pensamentos e preocupações.  Senti que ela precisava de ajuda e eu mal conseguia vê-la sofrendo assim, sem nada fazer. 

Foi ao caminhar pelo terreno do hospital que descobri uma maneira de tentar tirá-la daquela tristeza. Havia um bosque com árvores frutíferas. Convidei-a para uma caminhada; ela relutou, mas, ao sentir os benefícios do banho de sol e o prazer de colher frutas diretamente do pé, logo mudou de ideia. Gostou tanto que começamos a fazer aquele passeio com frequência, refugiando-nos ali, junto à natureza, conversando e trocando confidências.  

Certa vez levei até meu pai conosco. Coitado, ele também se sentia entediado.  

Acabamos descobrindo uma sala de terapia ocupacional, que lá estava meio abandonada. Tive a ideia de convidar outras senhoras do alojamento para fazermos trabalhos manuais. Aquela atitude simples aproximou-nos e transformou o humor daquele ambiente, além de melhorar também o meu. Sempre que podíamos, íamos até lá fazer aquela espécie de terapia. E, com o tempo, fomos ficando amigas.  

Em uma das conversas, disse a elas que dentro de nós existe um “meio ambiente”, assim como na natureza, uma espécie de “ecologia interna”. Com a Logosofia, aprendemos a mantê-lo livre de contaminações. É como fazer uma dieta, só que mental, poupando a mente de notícias alarmistas, imagens deprimentes e oferecendo a si mesmo aquilo que realmente faz bem, ajudando a alcançar equilíbrio, serenidade e paz interna. Dentre os recursos que podemos usar, destaquei dois: a atividade e a gratidão. Ao valorizar tudo isso, mesmo estando em um hospital, passei a sentir-me feliz e nem parecia estar ali há tantos dias.  

Meu pai ia recuperando-se e, quando finalmente pudemos voltar para casa, ao despedir-me daquelas pessoas, fiquei profundamente emocionada com a demonstração de carinho delas e com a alegria de ter feito novas amigas. 

Dizem por aí que a sensibilidade é uma fraqueza, mas tenho comprovado o contrário: ela é uma força, um poder. Foi o sentimento que transformou aquele ambiente e o meu estado interno. Ao ajudar aquelas pessoas, de coração, experimentei uma sensação muito boa, por ter feito algo por elas e por mim mesma. Esse ato gerou energias e forças que me ajudaram a enfrentar aquela dura realidade.  

Certa vez, González Pecotche, criador da Logosofia, deu a seu filho o seguinte conselho:

Troque o temor, se houver, pelo valor, e sentirá a alegria de viver.

E foi trocando o temor pelo valor que vivemos tão bem aquela temporada no hospital, e também outras situações difíceis, de perda e sofrimento.  

Meu pai viveu ainda por mais dez anos, com saúde. Muitas foram as vezes em que nos recordávamos daqueles momentos, e sempre com gratidão. 


Um pensamento de

 Veronica Neves Cavalieri
Veronica Cavalieri, formada em Belas Artes pela UFMG, trabalhou por muitos anos como design gráfica. Atualmente está aposentada. Mãe de um casal de filhos e avó de cinco netos, e com muitas histórias para contar de uma vida cheia de lutas e realizações. É docente de Logosofia em Belo Horizonte há mais de 40 anos.

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