Hoje em dia, existe uma verdadeira epidemia de depressão e ansiedade. Seria possível encontrar alegria de viver em meio a duras realidades? Vou relatar um episódio que vivi com meu pai.
Em certa ocasião, ele enfrentou um problema grave de saúde. Como era militar, o tratamento deveria ser realizado no hospital da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Então, ele e eu fomos até lá, onde ficou internado por 37 dias, e eu o acompanhei durante todo aquele tempo.
O hospital era bem equipado e ocupava um terreno extenso. Durante o dia, eu ficava com ele e, à noite, seguia para o alojamento das acompanhantes que, em sua maioria, era ocupado por mulheres que provinham também de outros estados para acompanhar os maridos em tratamento ou cirurgias.
Era o cenário perfeito para o surgimento de uma depressão, ainda mais para mim, que tinha tanta aversão àquele ambiente.
Meu pai já havia sido submetido a alguns exames, e tudo estava indo bem. Apesar de saber que ficaria ali por muito tempo ainda, eu estava tranquila porque tinha descoberto uma técnica …que explicarei mais adiante.
Sendo a situação dele estável, passei a observar aquelas senhoras e constatei a angústia causada pela incerteza ou pelo temor de vir a perder o familiar. Uma história, em particular, chamou minha atenção. Alguém que tinha vindo de muito longe e havia deixado os filhos pequenos com uma vizinha para poder acompanhar o esposo. Ao aproximar-me, ouvi atentamente sua narrativa e tentei oferecer algum conforto. No entanto, a situação não era fácil para ela!
Com o esposo na UTI, ela só podia fazer uma breve visita diária. O restante do tempo, assim como muitas outras, ficava ociosa, imersa em seus pensamentos e preocupações. Senti que ela precisava de ajuda e eu mal conseguia vê-la sofrendo assim, sem nada fazer.
Foi ao caminhar pelo terreno do hospital que descobri uma maneira de tentar tirá-la daquela tristeza. Havia um bosque com árvores frutíferas. Convidei-a para uma caminhada; ela relutou, mas, ao sentir os benefícios do banho de sol e o prazer de colher frutas diretamente do pé, logo mudou de ideia. Gostou tanto que começamos a fazer aquele passeio com frequência, refugiando-nos ali, junto à natureza, conversando e trocando confidências.
Certa vez levei até meu pai conosco. Coitado, ele também se sentia entediado.
Acabamos descobrindo uma sala de terapia ocupacional, que lá estava meio abandonada. Tive a ideia de convidar outras senhoras do alojamento para fazermos trabalhos manuais. Aquela atitude simples aproximou-nos e transformou o humor daquele ambiente, além de melhorar também o meu. Sempre que podíamos, íamos até lá fazer aquela espécie de terapia. E, com o tempo, fomos ficando amigas.
Em uma das conversas, disse a elas que dentro de nós existe um “meio ambiente”, assim como na natureza, uma espécie de “ecologia interna”. Com a Logosofia, aprendemos a mantê-lo livre de contaminações. É como fazer uma dieta, só que mental, poupando a mente de notícias alarmistas, imagens deprimentes e oferecendo a si mesmo aquilo que realmente faz bem, ajudando a alcançar equilíbrio, serenidade e paz interna. Dentre os recursos que podemos usar, destaquei dois: a atividade e a gratidão. Ao valorizar tudo isso, mesmo estando em um hospital, passei a sentir-me feliz e nem parecia estar ali há tantos dias.
Meu pai ia recuperando-se e, quando finalmente pudemos voltar para casa, ao despedir-me daquelas pessoas, fiquei profundamente emocionada com a demonstração de carinho delas e com a alegria de ter feito novas amigas.
Dizem por aí que a sensibilidade é uma fraqueza, mas tenho comprovado o contrário: ela é uma força, um poder. Foi o sentimento que transformou aquele ambiente e o meu estado interno. Ao ajudar aquelas pessoas, de coração, experimentei uma sensação muito boa, por ter feito algo por elas e por mim mesma. Esse ato gerou energias e forças que me ajudaram a enfrentar aquela dura realidade.
Certa vez, González Pecotche, criador da Logosofia, deu a seu filho o seguinte conselho:
Troque o temor, se houver, pelo valor, e sentirá a alegria de viver.
E foi trocando o temor pelo valor que vivemos tão bem aquela temporada no hospital, e também outras situações difíceis, de perda e sofrimento.
Meu pai viveu ainda por mais dez anos, com saúde. Muitas foram as vezes em que nos recordávamos daqueles momentos, e sempre com gratidão.