Autoconhecimento

Um Ensinamento e Duas Corridas de Táxi

abril de 2025 - 4 min de leitura
Autoconhecimento

Um Ensinamento e Duas Corridas de Táxi

abril de 2025 - 4 min de leitura

Há algum tempo, deparei-me com um relato do criador da Logosofia e que me comoveu profundamente. O autor conta que, ainda criança, admirava um homem pela maneira como expressava seu pensamento, percebendo nele algo de divino, mesmo sem compreender suas palavras. Deus manifestava-se através daquele homem e também através de sua mãe, quando ela dava-lhe conselhos ou quando o corrigia. A partir dessa experiência, ele começou a ver Deus em todas as partes, em tudo que estava um pouco acima de onde ele encontrava-se. Ele foi crescendo, tanto física quanto espiritualmente, e observou que os demais ao redor não tinham a mesma visão. Eles não se situavam em relação ao que estava acima deles, não sentiam, pensavam nem percebiam Deus em todas as partes. Ele decidiu então comunicar aos outros a sua experiência. E assim nos aconselha esse mestre de sabedoria:

ali, onde veem que alguém lhes dá algo que não têm, vejam nisso o gesto de Deus. Escutem na palavra do que sabe a palavra de Deus, que está usando esse meio para manifestar-se; que está usando esse idioma para que o compreendam.

 

Fiquei comovida com esse relato e com a beleza contida no conselho, mas tive muita dificuldade em ver Deus por todas as partes. Não conseguia perceber Deus nos meus afazeres diários, no que recebia e compartilhava. Então, esse ensinamento permaneceu por longo tempo num recanto da minha mente. No entanto, em um processo de evolução consciente, sabemos que o ensinamento que toca fundo nossa sensibilidade acaba sendo associado a algo vivido. Assim, a razão comprova o que a sensibilidade capta, e o ensinamento, aos poucos, vai transformando-se em conhecimento adquirido. Foi o que aconteceu comigo em duas experiências durante corridas de táxi, que passo a compartilhar com vocês.

 

Recentemente, após sair de uma consulta médica em um horário de trânsito movimentado, tive dificuldade para pegar um táxi. Todos passavam ocupados. Num dado momento, um carro da polícia parou próximo, e uma jovem policial desceu e perguntou se poderia ajudar. Agradeci e respondi-lhe que não precisava, pois estava tentando pegar um táxi. Logo depois, o policial que estava na direção também desceu e posicionou-se no meio da rua, parando todos os táxis que passavam. Como não tivemos sucesso, a jovem sugeriu: “Se a senhora entrar na viatura, podemos deixá-la em um ponto de táxi aqui perto”. Assim fizemos, encontramos um táxi no ponto e, naturalmente, agradeci muito aos dois policiais. Na ida para casa, recordei-me de uma experiência semelhante, também com táxi, que ocorreu no ano passado.

 

Estava há um bom tempo perto da minha casa, tentando pegar táxi, mas todos passavam ocupados. Dialoguei comigo mesma: “estou aqui, parada com dor na lombar e na cervical (já não sou tão jovem), numa tarefa que nem é para mim, mas para ajudar outro. Como não consigo um táxi?” Daí a poucos minutos, um táxi parou na minha frente, com o motorista e uma senhora ao lado. Esperei a passageira descer, mas foi o motorista quem saiu e disse: “Eu a vi fazendo sinais para táxi quando passei para pegar essa senhora. Então sugeri a ela que voltássemos por essa mesma rua, para ver se a senhora ainda estaria aqui. Queremos dar-lhe uma carona”. Que bela surpresa! Assim que entrei no táxi, a simpática passageira referiu-se ao motorista: “Ele é um anjo caído do céu”. Eu concordei e agradeci muitíssimo. Ao chegar ao endereço que havia dado, quis pagar, mas o motorista não aceitou: “É uma carona”.

 

Nessas experiências, encontrei pessoas particularmente generosas, que tomaram iniciativas fora do comum. De imediato, recordei o ensinamento: “Ali, onde veem que alguém lhes dá algo que não têm, vejam nisso o gesto de Deus”.  Sim, eu vi o gesto de Deus. Parece que precisava dessas experiências para recordar circunstâncias mais corriqueiras em que poderia ter visto algo divino, mas que haviam passado em branco. 

 

Eu dei-me conta de que não sei receber, que tenho muito a aprender. Recordei-me de inúmeras vezes em que alguém se ofereceu para me ajudar, por exemplo, quando saio do mercado carregando uma sacola pesada, ou ao atravessar a rua, e sinto-me constrangida, agradeço e respondo que não é preciso. No entanto, sei que temos pensamentos inúteis, que ficam na mente ociosos, divagando. Uma pessoa, ao oferecer ajuda, está canalizando esses pensamentos em torno de um objetivo, algo útil, e sentindo-se bem. Unindo as duas experiências, o que mais chamou minha atenção foi a boa vontade e o contentamento daqueles que me ajudaram. Eles estavam tão satisfeitos! E essa disposição de ser útil, de fazer o bem, não faz parte da natureza humana? Da sua natureza espiritual? Não existe nisso algo de Deus? 

 

Nessas reflexões, agradeci ao criador da Logosofia pelo que tenho aprendido, por compreender um pouco melhor como Deus manifesta-se, e por ser mais consciente de que é através da vinculação, de ser humano a ser humano, que nos aproximamos de Deus. Agradeci a Deus porque senti sua presença nessas experiências, associando-as a outras, mais frequentes, do dia a dia. Agradeci porque compreendi que as coisas não acontecem por acaso, porque quero aprender a ser mais receptiva ao que está acima de onde me encontro e porque experimentei uma vontade enorme de compartilhar melhor tudo o que vou aprendendo.


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