Entre as inúmeras imagens analógicas aplicáveis à psicologia humana, este artigo explorará a que chamaremos de “bonsais espirituais”.
Deixando de lado, por um momento, a beleza dessa arte milenar japonesa e a admiração que essas miniaturas vivas despertam em nós, vamos nos concentrar na semelhança entre as técnicas que limitam o crescimento das árvores e aquelas usadas por correntes sectárias ou ideológicas que, aproveitando-se da ingenuidade humana, restringem seu crescimento espiritual.
Mas cabe aqui uma pergunta: o que significa crescer espiritualmente?
No livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, encontramos a seguinte passagem:
Quanto mais conhecimentos, maior é a consciência, e quanto maior é a consciência, mais o ser se agiganta espiritualmente. Quem estivesse compreendido neste quadro se tornaria, entre seus semelhantes, um ser cuja dimensão espiritual assumiria contornos cada vez mais ilimitados. (Introdução ao Conhecimento Logosófico p. 429)
Este é um aspecto que sempre me fascinou no estudo da Logosofia: o espírito humano anseia por conhecimentos concretos e vivos, não por teorias vazias, ideias abstratas ou crenças estéreis. Um dos princípios fundamentais do estudo logosófico é, justamente, trocar o crer pelo saber.
Mas, voltando à analogia dos bonsais, um dos principais procedimentos para cultivá-los é a poda das raízes. Considerando que uma das funções fundamentais das raízes é a absorção de água e nutrientes essenciais do solo, torna-se evidente que essa poda reduz significativamente sua capacidade de absorção.
De maneira semelhante, aos extremismos sectários ou ideológicos interessa diminuir nossa capacidade de absorção mental. Basta examinar seus discursos: em nenhum momento somos convidados a refletir sobre o que dizem; aliás, evitam a todo custo mencionar a palavra “conhecimento”. O ritmo acelerado de suas palavras, impregnadas de ímpeto e paixão, não deixa espaço para que a mente reflita e assimile o conteúdo, que é empurrado “goela abaixo”. Na falta de lógica em seus argumentos, recorrem à veemência e ao atrevimento.
Além da poda das raízes, outro procedimento essencial é a restrição do vaso, cuja dimensão reduzida limita o crescimento da árvore. De forma análoga, o estreito círculo da consciência comum mantém o ser humano preso a assuntos triviais e apático diante das grandes questões que deveriam estimular sua vida.
Não é incomum ouvirmos algo como: “Não me venha com esse papo cabeça”. Essa frase poderia ser complementada por outra, como: “Mal posso esperar pelo próximo episódio da minha série favorita”, demonstrando claramente como, na maioria das vezes, preferimos o transitório ao permanente.
Outra semelhança perturbadora é a armação dos galhos. Presos por fios de arame, os galhos são moldados e direcionados conforme o desejo da mão dominadora. Cada galho pode representar uma faculdade da mente humana – como entender, raciocinar, pensar e julgar, entre outras. Impedidas de se mover livremente em direção à luz solar (o conhecimento superior), essas faculdades se dobram, deformam e se corrompem. Assim agem as crenças: paralisam as faculdades da inteligência com filamentos invisíveis. Muitas vezes, permanecem porque os seres humanos temem admitir que passaram toda a vida identificados com uma mentira.
Com a Logosofia, ao obedecer conscientemente ao princípio de substituir o crer pelo saber, tenho comprovado como posso cultivar minha inteligência para absorver elementos úteis à vida. Esses elementos constituem uma seiva imaterial que preenche o ser de energia, otimismo e aspirações nobres. E como faz bem à planta humana o contato com horizontes mais amplos!
Ao contemplarmos um bonsai, muitas vezes precisamos nos curvar e nos aproximar para enxergá-lo melhor. No entanto, erguemos o olhar em sinal de admiração e respeito diante da elevada estatura espiritual daqueles seres que souberam cultivar sua inteligência. A Logosofia possibilita ao ser humano realizar essa verdadeira obra de emancipação interna.