Comportamento

O trabalho dos imortais

maio de 2025 - 4 min de leitura
Comportamento

O trabalho dos imortais

maio de 2025 - 4 min de leitura

Hoje em dia, quando as pessoas de minha convivência perguntam: “E aí, correndo demais? Trabalhando demais?” Minha resposta tem causado certa surpresa: “Eu trabalho em minha profissão só o suficiente, pois tenho muitas coisas importantes para fazer em minha vida.” Então o leitor poderá perguntar-se: “Mas trabalhar não é importante?” Nesse caso eu responderia que “sim, é muitíssimo importante o trabalho, mas essa importância e, principalmente, o valor moral e real desse trabalho, depende eminentemente do objetivo pelo qual se trabalha!”

Na infância, o conceito de trabalho que aprendi é de que o trabalho é nobre, que é uma luta diária, que é cansativo. “Dá um beijo no papai porque ele vai trabalhar, coitado!” , “trabalhar é bom, mas cansa demais!” O conceito que temos de trabalho desde que nascemos não é lá muito bom! Algo cansativo, enfadonho, pesado, desgastante, não é a parte boa da vida. Vida boa é aquela na qual se descansa, quando estamos de férias, quando viajamos a passeio, uma temporada na praia, etc. Ninguém está dizendo que essas coisas são ruins — é claro que não —, mas tenho tentado fazer algumas reflexões um pouco mais profundas a respeito.

Como o Universo, essa maravilha da Criação que não foi inventada pelo homem, funciona? O Sol tira uma folga de vez em quando? A Terra interrompe, sequer por um instante, seus movimentos naturais? Imaginem se nosso coração tirasse uma semana de férias? Vocês conhecem algum bem-te-vi que deixa, por qualquer motivo, seu ninho inacabado e diz: “Cansei, vou descansar, não quero mais saber de trabalho”!?

Nada, nadinha na natureza pára! Se parasse, seria um processo interrompido e uma degeneração imediata ou semi-imediata, é assim que funciona.

E o homem?

Como parte da Criação e da Natureza, não está subordinado às mesmas Leis Universais?

Todos os dias a Natureza nos mostra sua continuidade, sua constância, sua repetição e, principalmente, sua evolução.

Então, eu me pergunto: por que será que o homem, único ser na Criação dotado simultaneamente de inteligência, consciência e vontade, quer parar? Por que queremos o descanso eterno, a aposentadoria, o dolce far niente? O que nos move a preferir a inércia ao trabalho?

Tenho aprendido, através da concepção logosófica de vida e existência, que o problema está nos conceitos que foram estabelecidos pela cultura na qual vivemos. O que ocorre é que a Natureza, a Criação, o Universo — que contêm em si uma beleza,

uma pureza e uma nobreza infinitas — dizem-nos uma coisa e nós ensinamos às nossas crianças outras coisas. Ensinamos o contrário quando festejamos com elas a chegada das férias, a falta de luta na vida, quando estimulamos e valorizamos, em nossas próprias vidas, a proximidade de qualquer momento de ócio, de inércia. Ensinamos o contrário quando nos rebelamos contra qualquer tipo de atividade que nos demande alguma luta e desafio. Não reclamamos se o movimento é MRU = movimento retilíneo uniforme = INÉRCIA!

Só agora, com mais de 40 anos, estou aprendendo a reverter dentro de mim mesma o conceito de trabalho. Não tem sido tarefa fácil!

Mas trabalhar tanto…. para que mesmo? Para ganhar dinheiro? Para acumular, para dominar, para parecer melhor que o outro, para ter isso, aquilo e aquilo mais? E para que ter tanta coisa se daqui a alguns anos vou morrer?

Eis aí a grande questão da imponência do ócio e da inércia no ser humano sobre a atividade consciente e inteligente: a falta de conhecimento e as crenças existentes sobre a morte.

Afinal, para que realizar tanto, trabalhar tanto, lutar tanto se depois vou morrer?

Pois é, o fato é que, também depois dos 40 anos de idade, descobri que podemos ser mortais ou imortais… Depende do que cada um escolherá como objetivo de vida.

Viver para morrer ou viver para ser eterno?

O mortal é aquele que trabalhou só para si mesmo, pelo acúmulo de bens materiais para si e para sua família — igualmente egoísta — e que, da fortuna que fomentou a vida toda, repartiu migalhas por aqui e por ali para ser bem visto e não ser taxado de usurpador por onde passasse.

E o imortal?

O imortal, ao contrário, é aquele que, depois de aprender a bastar-se a si mesmo física, moral e intelectualmente, a sustentar dignamente sua vida interna, familiar e social, dedica seu tempo também a trabalhar para construir um mundo melhor, para colaborar na construção de uma nova cultura que ensine algo diferente às crianças, que ensine a elas o valor da generosidade, da decência, da dignidade, que lhes estimule na obtenção dos conhecimentos sobre os verdadeiros e reais valores do homem, e que os tornarão igualmente imortais.

Agora, o mais interessante disso tudo é que, mesmo para aqueles que fizerem a escolha pela vida mortal, o Universo reserva-lhes uma surpresa. O físico, sendo a única coisa que lhes resta, ao desintegrar-se após sua morte, transformar-se-á… Os átomos que conformaram aquele corpo não morrem, eles transformam-se e continuam obedecendo sempre a todas as Leis do Universo, inexoráveis, diga-se de passagem, em sua constante atividade e trabalho, sempre!


Um pensamento de

 Michelle Moysés Ballesteros
Michelle Moysés é artista, designer, empresária na área de educação artística e influenciadora digital. Estuda Logosofia e é docente da Fundação Logosófica desde 1991 e atribui todas as suas conquistas à sua aproximação ao conhecimento logosófico.

Você também pode gostar

Comportamento

Amuleto da sorte pra quê?

Quanto um objeto pode interferir em nossas conquistas? Somos dependentes de algo além de nós mesmos para alcançar o que almejamos?

Comportamento

Alguma vez você já se arrependeu?

Em nossa vida diária, quantas vezes tomamos atitudes e temos comportamentos dos quais nos arrependemos depois? A que causas obedecem tais episódios que nos levam ao arrependimento? É possível evit...

Comportamento

A Essência da Gratidão

O que é a Gratidão? Qual o seu verdadeiro conteúdo? Para responder a essas perguntas, Thereza, com muita valentia, revisitou seu passado e descobriu algo que nos conta neste artigo.