Diante de um mundo novo, o que me é requerido para incursionar nele?
Para tomar contato com as maravilhas do mundo aquático, preciso de equipamentos que me permitam respirar enquanto ali estou. O que dizer, então, se o mundo for o espaço sideral – que logo me evoca a imagem de um astronauta, com sua vestimenta sofisticada?
Em ambos os casos, foi o conhecimento que permitiu ao habitante da Terra descer além da superfície das águas e ultrapassar o limite da atmosfera.
Também foi o conhecimento que me permitiu penetrar em um mundo desconhecido, cujas fronteiras se confundem com as do meu mundo interno, igualmente desconhecido ou apenas vagamente delineado. Ao tomar contato com o conhecimento logosófico, deparei-me com o conceito de pensamentos. Segundo a Logosofia, são entes psicológicos que possuem vida própria: podem passar de uma mente para outra, ser positivos ou negativos, e até atuar independentemente da minha vontade.
A descrição dessa realidade – tão nova para mim quanto deve ter sido para os primeiros mergulhadores que adentraram as águas profundas, ou para os astronautas, ao flutuarem no espaço, livres da gravidade – me causou surpresa e fascínio.
Ao me deter repetidas vezes no estudo do que ensina a Logosofia sobre os pensamentos, cheguei a considerar que se tratava apenas de uma metáfora ou de uma analogia excêntrica. No entanto, bastou ultrapassar a etapa do conhecimento teórico e me encontrar diante do campo experimental para que a surpresa se tornasse ainda maior.
Tudo começou numa serena tarde de domingo, logo após o almoço, quando eu me diriigia à garagem do prédio onde morava, de onde partiria para encontrar-me com amigos e assistir a uma partida de futebol. Ao chegar ao local onde estacionava meu carro, percebi que os quatro pneus estavam vazios, podendo ainda ouvir o som do ar escapando de um deles. Logo compreendi que tinha sido vítima de uma peça de muito mau gosto. Minha primeira reação, depois de sentir uma profunda irritação, foi a de pensar em interpelar cada um dos moradores do prédio, na tentativa de identificar o autor daquele malfeito.
Um segundo movimento, gerado pela dificuldade de executar a ideia, foi o de colocar o carro na porta da garagem e somente retirá-lo de lá após descobrir o responsável pelo ocorrido. Com o tumulto mental que começava a se formar, deu-se então o movimento da reflexão: seria essa a melhor solução? Já antevendo o estado interno em que me encontraria após essa experiência, perguntei-me como evitar que aquele domingo, até então plácido, se transformasse num redemoinho de ressentimentos.
O primeiro sinal de arrefecimento, provocado por essas reflexões, foi logo seguido por outro movimento interno, que rejeitava qualquer forma de contemporização e indicava a retomada do propósito de bloquear a porta da garagem até se identificasse o autor daquele episódio – como se essa fosse a ação principal.
Mais uma vez, a reflexão atuava ponderando se aquela seria, de fato, a melhor alternativa. Com o apoio da observação, outras questões começaram a surgir: não seria isso um “pensamento”? Uma daquelas
Naquele momento, surpreendido pela primeira vez, o ente imaterial que costumava estragar o meu dia permanecia imóvel, incapaz de me arrastar novamente para outro ciclo de intermitência.
Tinha vencido o obstáculo que teria arruinado o meu domingo! A alegria por aquele primeiro êxito serenou a mente, pois eu havia penetrado em um novo mundo. Saber que novas e desafiadoras batalhas poderiam vir não diminuiu a satisfação por aquela primeira façanha – possibilitada pelos novos conhecimentos que eu começava a adquirir.
A primeira vitória ainda me deu as energias necessárias para ir até uma borracharia. Auxiliado por alguns dos amigos com quem eu me reuniria para assistir o jogo, recolhemos os pneus vazios e, já de volta à garagem, com os pneus cheios, iniciamos sua recolocação. Nesse momento, ouvi de um deles: “O que aconteceu contigo? De onde veio essa calma toda?” Outro comentou: “Se fosse comigo, isso não ficaria assim”, e acrescentou: “Colocaria o carro na porta da garagem, de onde só sairia depois de descobrir quem tinha esvaziado os pneus…”. Pensei comigo: “Não é que os pensamentos realmente são
entidades animadas autônomas, que podem passar num instante de uma mente para outra. p. 39
Compreendi que é dentro da minha mente que estão as causas, tanto dos momentos de bem-estar, serenidade e alegria, quanto daqueles de tristeza, amargura e inquietação. Saber que posso acessar esse mundo mental, esse mundo das causas, e aprender a conduzi-lo com cada vez mais consciência tem sido uma conquista valiosa. E o que mais me anima é perceber que, nesse mundo, posso reinar com destreza crescente diante dos pensamentos – esses entes que, antes, me dominavam e agora começam a se tornar meus súditos.