Para a Logosofia, trata-se de “um fato comprovado que o instinto suscita prematuramente no ser humano o problema de sua liberdade, ao confundir este, desde tenra idade, obediência com submissão e reagir em consequência disso”.
Noutro ensinamento, assinala que a liberdade forma o vértice de um triângulo cuja base repousa no direito e no dever.
É possível ser livre sem ter deveres?
São duas, portanto, as facetas da liberdade: a liberdade-direito, por um lado, e a liberdade-dever, por outro. Uma não existe sem a outra. É algo até fácil de aceitar, mas… só na aparência. Na hora agá, o que mais se ouve é: “Eu não abro mão de meus direitos!”. Vejamos alguns casos ilustrativos.
Numa apresentação de música erudita no salão do conservatório, uma dupla jovem incomodava a todos com sua conversa e seus risos. Abordados por alguém, invocam a liberdade e ainda se mostram ofendidos. “Estamos ou não estamos num país democrático, afinal?!”.
Conceição, jovem voluntária que se fez tesoureira daquele clube assistencial, faltou pela duodécima vez à reunião da diretoria, sem justificar nada. Cobrada pelo presidente, explicou com frescor primaveril: “Quando chegou a hora, não tive um pingo de vontade de ir, o senhor acredita? É que eu não abro mão de minha liberdade por nada, o senhor sabia? Por isso é que nunca quis vínculo empregatício pro meu lado! Sou uma self made woman!”.
E que falar dos irmãos Guigui e Coromar? A dupla enlouquece os vizinhos com o volume de seu aparelho de som, infernizando os dias, as noites e as madrugadas da pobre gente. E se escudam no refrão de todos os dias: “Somos livres, e acabou!”.
Noutro tempo, não muito distante, e ainda que o exemplo do meu amigo Adelmo Belisário seja anacrônico, vale a citação. Estava ele numa turma do curso pré-vestibular, assentado na frente de duas moças que mais pareciam chaminés: era um cigarro atrás do outro. Adelmo lhes pediu consideração, mas elas reagiram em nome da liberdade. Adelmo foi ao diretor, que lamentou muito, mas… também lembrou a nobre questão da liberdade.
No dia seguinte, Adelmo acendeu um charuto dos mais fedidos na sala, e foi um deus-nos-acuda. Desde os cabelos das donzelas até o gabinete do diretor, tudo ficou impregnado daquela emanação nauseabunda. Era o cheiro da liberdade…
A liberdade não se exerce sem os demais
Jovens assim esquecem que viver em sociedade é firmar parcerias. E parceria também implica deveres. Quem invoca a liberdade-direito em seu favor, tem de cumprir com a liberdade-dever em favor dos demais.
Existe, pois, a liberdade-dever de respeitar a liberdade-direito de nossos semelhantes quando eles fazem silêncio numa audição de música erudita, quando querem manter sua saúde respirando um ar puro, quando esperam da tesoureira do clube o cumprimento de suas sabidas obrigações, quando querem desfrutar de um ambiente menos barulhento na intimidade de seus lares.
Refletindo sobre tal realidade, moços e moças inteligentes podem começar a descobrir, na vida diária, a enorme diferença que existe entre rebeldia e liberdade.