Família

O cultivo consciente de um sentimento

outubro de 2025 - 4 min de leitura
Família

O cultivo consciente de um sentimento

outubro de 2025 - 4 min de leitura

Quando eu era adolescente, vivi uma etapa difícil em minha vida. Minha família precisou se mudar do interior para a cidade de Belo Horizonte. Eu tive uma infância feliz. Morávamos em um bairro simples, e eu convivia com muitos amigos. Mas, em busca de melhores condições econômicas, meu pai resolveu mudar de emprego e de cidade, e todos fomos com ele. 

 

       Em Belo Horizonte, morei em um apartamento com pouco espaço e tinha poucos amigos. Estava no auge da adolescência, e a falta de liberdade, somada à saudade dos amigos da infância, me fez sofrer muito. Além disso, devido às características dessa fase da vida e à ausência de conceitos que me auxiliassem a me conduzir com acerto,  distanciei-me dos meus pais, acreditando que eles eram os causadores dos meus infortúnios internos.

 

Meus pais sempre foram pessoas de excelentes qualidades morais. Entretanto, não me recordo de nenhum momento afetivo entre  meu pai e eu. Não me lembro dele me dar um beijo, por exemplo.

 

Eu via os colegas de escola, adolescentes, andando de mãos dadas com seus pais e nem imaginava que poderia viver aquilo um dia. Naquela época, como se dizia, achava muito “cafona” esse tipo de  demonstração de afeto em um jovem “moderno.” Minha sensibilidade estava afetada pela influência dos pensamentos. Como foi doloroso viver aquela realidade! Aos poucos, fui descobrindo que tinha uma certa “inveja” deles. 

 

Com o tempo compreendi que certos pensamentos nos tornam duros, inflexíveis e nos fazem sofrer. Não era eu quem governava minha vida, mas sim alguns pensamentos cuja existência eu sequer conhecia. Por muitos anos, esses pensamentos de reação negativa governaram minha conduta, tanto em relação à minha mãe quanto ao meu pai. 

 

Anos depois, formei-me em Engenharia e fui trabalhar no interior do Brasil. Lá, sozinho e tendo como colegas apenas os trabalhadores da obra, a vida começou a me apresentar outra realidade. Em muitas noites, eu  me recordava de meus pais, e da deliciosa comida preparada por minha mãe.

 

Algum tempo depois, voltei para Belo Horizonte, me casei e tive meu primeiro filho. Nessa época, meu pai já havia se aposentado e retornado à cidade do interior. Foi nesse momento que comecei a estudar Logosofia. A experiência de ser pai me levou a refletir sobre o quanto meus pais haviam sido fundamentais em minha formação como ser humano. 

 

Com a ajuda dos estudos logosóficos, fui aprendendo a cultivar o sentimento de gratidão à minha família, mas ainda não havia tido oportunidade de manifestar aos meus pais minha gratidão pela vida e por tudo que sempre me ensinaram. 

 

Há alguns anos, dei um presente especial à minha mãe no Dia das Mães: um quadro com fotos de várias fases de sua vida.  Enquanto o montava, pude recordá-la com afeto e gratidão. Ela me disse depois, discretamente, que havia recebido muitos presentes, mas que aquele havia sido muito especial.

 

Certa vez, aproveitando a presença dela e de meu pai em minha casa, levei-a ao médico. Ao sair do carro, pude andar de mãos dadas com ela – e vivi esse momento de forma plenamente consciente. Recordei-me imediatamente do passado e, no breve caminho entre o carro e o consultório médico, senti que realizava o que tanto anelava, só que agora de forma consciente. 

 

Pude fazer a união dos tempos de minha vida.

 

Suas mãos estavam geladas por ter que visitar o médico. Eu, ao contrário, estava “aquecido” por dentro, por viver um momento tão especial e sensível.

 

Minha mãe se preocupava pelo fato de eu ter que acompanhá-la à consulta médica em vez de estar no trabalho. Eu, porém, sabia que nada poderia ser mais importante do que estar ao lado dela naquele instante. Falei-lhe da gratidão por sua vida, pela oportunidade de ser seu filho, e também agradeci aos médicos, que nos ajudam no encaminhamento dos problemas físicos.  

 

Penso que essas reflexões lhe agradaram e encheram seu coração de emoção. A mim também, pois eram emoções superiores.

 

Fiquei muito feliz por poder viver esse momento consciente ao lado dela. Percebi que havia realizado uma mudança interna e fortalecido o meu amor por minha mãe. Pensei: por alguma razão o Criador nos concedeu a oportunidade de ter uma família e de poder nos conectar ao mundo mental da Criação… 


Um pensamento de

Você também pode gostar

Família

A formação consciente dos filhos, por Eduardo Brandeburgo e Victor Yudi Braga Tomo | Logosofia

Como lidar com os erros dos filhos sem recorrer à punição, mas sim promovendo a responsabilidade e a autoconsciência? De que forma a nossa própria relação com o erro e o perdão influencia a ma...

1 min
Família

Do Vulcão Interno à Serenidade

Você já se sentiu como um vulcão prestes a entrar em erupção diante de uma crítica ou provocação? Como podemos transformar a “lava” de emoções intensas em um solo fértil para o ...

Família

Consciência na Convivência

Como frear uma reação negativa frente à uma situação que me incomoda? Como mudar meu estado interno para viver esse desafio de forma mais atenta? É possível escolher como será minha resposta e...