Na minha adolescência, entre tantos outros assuntos, eu me interessava pelos chamados “poderes da mente”. Não que eu tentasse mover objetos apenas com a “força do pensamento”, mas intrigava-me a considerável quantidade de relatos sobre tais proezas, que naquela época eu acreditava pertencerem ao domínio do sobrenatural.
Cresci, e a idade adulta apresentou-me diversas situações e desafios comuns àqueles que dão os primeiros passos nas lutas da vida. Alguns desses problemas, no entanto, assumiam proporções monumentais, como o mítico monstro de sete cabeças que inspirou a expressão popular que dá título a este artigo.
Não demorou para que eu percebesse que, nas grandes lutas da vida, os tais “poderes da mente” eram inúteis. Fosse para escolher uma profissão, construir um futuro, formar uma família ou enfrentar a doença de um ente querido — para citar apenas algumas dessas lutas —, a resposta não estava ali.
Mas qual poder, então, realmente importava?
Hoje, compreendo que o verdadeiro poder da mente é o de pensar. Afinal, o que tem mais valor: adivinhar pensamentos alheios ou encontrar soluções felizes para problemas complexos? Entortar garfos à distância ou ter discernimento para me proteger dos enganos?
E o que é pensar? Não se limita a resolver problemas, tomar decisões ou selecionar pensamentos. Compreendo que pensar é, em essência, além de criar pensamentos, o ato de utilizar e reativar os conhecimentos que já habitam em nós.
Entendo que as faculdades mentais, tendo a de pensar um papel preponderante, colaboram para um objetivo comum: elaborar conhecimentos que, em seguida, ascendem à consciência. Cada faculdade contribui de maneira singular para essa construção: a de pensar, com ideias; a de raciocinar, com julgamentos; a de observar, com percepções críticas.
Nisso reside, para mim, o fascínio do estudo logosófico: ele atua como um removedor de ferrugens mentais. Cada ensinamento impulsiona a mente a pensar, a mobilizar os conhecimentos previamente adquiridos e a buscar novos.
Com o tempo, fui compreendendo que o verdadeiro bicho de sete cabeças está dentro de mim, e não fora. Suas cabeças — vaidade, amor-próprio, presunção, entre outras deficiências psicológicas comuns — são responsáveis pelos meus erros e faltas e, em última análise, pela maioria das dificuldades e adversidades que enfrentei na vida.
Esta propensão debilita a vontade, pois inibe o ânimo e detém o pronunciamento de qualquer determinação que implique incorporar uma atividade maior ou mais importante do que aquela que se cumpre ordinariamente. (Deficiências e Propensões do Ser Humano, p.183)