Quem assistiu o filme Questão de Tempo, a história de um pai e um filho que tinham o dom de voltar no tempo e mudar a história de suas vidas, deve lembrar do conselho que o pai dá ao filho: viver cada dia com um olhar diferente. Seguindo o conselho, o filho procura reviver o dia anterior de forma diferente. No contato com as pessoas, ele observa suas fisionomias e é mais atencioso com elas. Começa a ver então que tudo dependia da forma como ele se propunha a viver o momento presente, e com isso ele toma a decisão de não mais viajar no tempo, porque havia descoberto a fórmula de ser feliz.
Nos anos da juventude não há uma preocupação de se olhar o passado, porque temos todo o futuro pela frente. As decisões que irão determinar o que seremos nesse futuro ainda estão para ser tomadas e isso cria expectativas que dão um gosto especial à vida.
O futuro, porém, não espera que estejamos preparados para vivê-lo. Ele se aproxima e passa por nós, levando consigo as oportunidades. Se conseguirmos fazer as escolhas certas, seremos felizes. E como saber se as escolhas estão certas?
Se pudéssemos voltar no tempo e viver novamente, sabendo o que aconteceu da primeira vez, os erros poderiam ser corrigidos e a felicidade estaria assegurada. Mas não temos o dom de voltar no tempo como os protagonistas do filme. Existe outra maneira de desvendarmos esse mistério do tempo e voltarmos ao passado? Sim, mas para isso é preciso rever alguns conceitos.
O primeiro deles é o conceito de vida. É comum pensar que a vida passada não pode ser modificada. Pode ser que assim seja, se nos detivermos aos fatos físicos e aos efeitos ocasionados a outras pessoas, mas será que isso vale para nós mesmos?
Continuando nessa linha de raciocínio, caberiam outras perguntas: que repercussão a experiência vivida teve dentro de nós? Que fatores influenciaram para que saíssemos dela tristes ou felizes? Eis aí o grande problema, porque geralmente não nos detemos a pensar de que forma nós mesmos contribuímos para o desfecho da experiência.
Buscar a causa dentro de nós é uma chave para podermos nos redimir do erro cometido. Isso é novo em relação ao conceito de vida, pois o que se passa dentro de nós tem a ver com um mundo que existe ali, cheio de vida também.
Ignoramos a influência que têm os pensamentos em nossos estados de ânimo e, também, em nossa conduta. Ao conhecê-los, temos a oportunidade de descobrir a forma pela qual podemos modificar o passado, eliminando os pensamentos que foram determinantes de nossos estados de ânimo e de nossa conduta e colocando outros em seu lugar. Só que esses novos pensamentos deverão estar alinhados ao que realmente queremos ser.
Um novo campo de experiências se estabelece então. Significa nada menos do que conhecer esse mundo interno, em outras palavras, “conhecer-se a si mesmo”. Sem precisar voltar no tempo físico, podemos revisitar nossa história no plano mental. Tudo parte, como já dissemos, do conhecimento dos pensamentos, que determinam nossos estados de ânimo e influenciam a nossa forma de pensar e ver as coisas.
Se costumamos ser críticos com os outros, e essa atitude é causada por um pensamento de intolerância, nada melhor que fazer uma auto-observação. Uma técnica eficaz é a de colocarmo-nos na posição do outro. Isso me faz lembrar de um programa educativo veiculado na televisão: ao abrir o sinal de trânsito, uma mulher, que estava no carro da frente, não conseguia dar a partida; o senhor que estava atrás começou a buzinar insistentemente, até que ela saiu de seu carro, foi até o senhor e lhe fez a seguinte proposta: “Vamos fazer o seguinte: o senhor vai lá no meu carro e tente ligá-lo e eu vou ficar aqui buzinando”.
Conhecendo os pensamentos que influenciaram a conduta do passado, podemos refazer mentalmente todos os passos que foram definidos por essa influência: o que pensamos na época, que atitude tivemos.
O exercício seguinte consistirá em refazer esses passos, só que agora pensaremos de forma diferente da que foi sugerida anteriormente. Pode-se com isso adquirir o poder de passar em revista o passado, já que podemos fazê-lo mentalmente. Para isso precisamos ser conscientes daquilo que vivemos e criar o propósito de tentarmos superar a experiência vivida, com a convicção de que esta sempre poderá ser superada.
Fazendo esse exercício, conheceremos nossos pensamentos. É certo que passaremos a dominá-los e, até mesmo, selecionar aqueles que queremos que continuem habitando a nossa mente.
Se isso fosse ensinado nas escolas, num futuro não muito distante poderíamos estar experimentando uma nova realidade no mundo, onde as pessoas seriam mais tolerantes. Até porque não haveria o que tolerar, já que a maioria teria aprendido a ser dona de si mesma, de suas reações e de seus estados de ânimo. É tudo uma questão de tempo!